José Tadeu Jorge foi nomeado reitor da Unicamp por governador de SP (Foto: Fernando Pacífico / G1)
Nomeado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para
assumir a reitoria
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pela segunda vez, o
engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge é contrário à participação da
instituição no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Em
entrevista ao
G1, ele diz que planeja ampliar o número
de vagas no vestibular e o bônus oferecido aos estudantes que fizerem o
ensino médio na rede pública ou a autodeclaração étnico racial - negros,
índios e pardos.
"A Unicamp não tinha que fazer o Enade. Você não precisa fazer prova em
aluno para saber se um curso é bom ou não. Ela é avaliada pelo Conselho
Estadual de Educação, não pelo MEC [Ministério da Educação]. A USP
[Universidade de São Paulo] não faz até hoje", explicou o novo reitor.
Sob gestão do médico Fernando Ferreira Costa, a universidade participa
da prova aplicada pelo governo federal desde 2010. Tadeu Jorge tomou
posse na sexta-feira (19).
Ex-secretário de Educação do prefeito cassado de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT), o novo reitor também alega que a
Unicamp possui autonomia e avaliação próprias. Contudo, ele pondera ao falar sobre a chance da instituição pedir exclusão do exame.
"Estamos vinculados ao sistema e a minha opinião pode não ser a do
Consu [Conselho Universitário]. Se for reversível, acho que não deve
participar", reiterou. A
prova do Enade
está marcada para 24 de novembro e avaliará estudantes do primeiro e
último anos de 17 cursos, sendo 13 de graduação e quatro tecnológicos.
No ano passado, 245 alunos da Unicamp fizeram a prova.
Vagas e inclusão social
Ao avaliar a gestão do antecessor, Tadeu Jorge considera que o número
de vagas criadas no vestibular foi "pouco expressivo". O investimento,
segundo o novo reitor, deve ser direcionado para o campus de Limeira
(SP), que opera abaixo da capacidade e poderá receber pelo menos cinco
cursos que já foram aprovados pelo Conselho Universitário.
Estudantes na primeira fase do vestibular 2013 da Unicamp (Foto: Fernando Pacífico / G1)
"Para dizer que não foi zero, criaram-se dez vagas no vestibular para o
curso de licenciatura em física. A Unicamp precisa oferecer mais
oportunidades", explicou o engenheiro, sem indicar metas. Entre os
cursos aprovados pelo órgão máximo de deliberação, em 2008, estão
fisioterapia, patrimônio e restauro e terapia ocupacional. O novo reitor
disse que uma análise será feita sobre o planejamento e adianta que
outras carreiras poderão ser tratadas pelo conselho, incluindo direito.
"A última análise sobre o curso foi na minha gestão anterior. Na época
havia a necessidade muito grande de investimentos em bibliografia,
infraestrutura de informação, além da dificuldade de se conseguir
professores com titulação de doutor. Se as restrições não existirem
mais, é possível que o Consu aprecie a proposta", explicou.
O campus de Limeira oferece 820 vagas, distribuídas entre a Faculdade
de Ciências Aplicadas e a Faculdade de Tecnologia. Ao todo, a
universidade estadual possui 66 cursos de graduação e outros 142 de
pós-graduação.
Cotas e Enem
Ao ser questionado sobre a hipótese da Unicamp aderir à
política de cotas,
aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em abril do ano passado,
Tadeu Jorge afirmou que a Unicamp pode facilitar o ingresso de
estudantes que fizerem o ensino médio na rede pública ou autodeclaração
étnico racial, por meio da valorização do Programa de Ação Afirmativa e
Inclusão Social (Paais). Hoje, o sistma oferece bônus de 30 pontos a
mais na nota da segunda fase, para os que estudaram na rede pública, e
outros dez para autodeclarados negros, pardos ou indígenas.
"Acredito que seja o melhor sistema, porque iguala as condições. A
ideia é dimensionar esse bônus... Nós podemos chegar a 50% de alunos
matriculados, vindos da rede pública, sem tirar a competitividade do
vestibular". Na edição 2012 do processo seletivo, a Comissão Permanente
para os Vestibulares (Comvest) registrou índice de 32% - valor
equivalente a 1.099 dos 3.435 estudantes aprovados.
Primeira turma do ProFIS concluiu curso em março (Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp)
Ingresso sem vestibular e Enem
Outra meta, explicou Tadeu Jorge, é ampliar o número de vagas
oferecidas pelo Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS).
Criado em 2010, o sistema paralelo ao vestibular oferece 120 vagas para
que estudantes do ensino médio, na rede pública, façam um curso
preparatório por até três anos e ingressem na carreira escolhida sem a
necessidade do processo seletivo tradicional.
"A quantidade ainda é pequena. Outro aperfeiçoamento possível é
identificarmos os bons alunos antes do término do ensino médio, talvez
no segundo ano. Eles podem fazer o curso no horário disponível e entrar
na universidade, digamos, na hora normal", explicou. Em março, 54
estudantes da
primeira turma concluíram o programa de formação.
Sobre a relevância do Exame Nacional do Ensino Médio (
Enem)
para o vestibular da Unicamp, Tadeu Jorge disse que a avaliação caberá à
Comvest. Todavia, ele descarta a substituição do processo seletivo pela
prova. "Não abriria mão, seria ruim", resumiu.
Reconhecimento e números
Em nota, a assessoria da Unicamp informou que a adesão ao Enade foi
aprovada pelo Consu e a participação da universidade em avaliações é
fundamental para reconhecer o que a instituição está fazendo de maneira
positiva, problemas que devem ser sanados e para dar retorno à
sociedade. Além disso, informou que o exame é componente curricular
obrigatório.
Campus da Unicamp no distrito de Barão Geraldo (Foto: Antoninho Perri / Ascom / Unicamp)
Sobre o número de vagas criadas na gestão de Ferreira Costa, a
universidade lembrou a criação do ProFIS e informou que houve a
transformação do Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset) de
Limeira na Faculdade de Tecnologia, que em 2012 passou a contar com três
novos cursos: engenharia de telecomunicações (50 vagas), sistemas de
informação (45 vagas) e engenharia ambiental (60 vagas). Além disso,
lembrou que outro curso aprovado foi o de engenharia física (15 vagas),
no campus localizado em Barão Geraldo.
Segundo a assessoria da Comvest, o total de vagas nas edições 2012 e 2013 do vestibular da Unicamp permaneceu em 3.320.
Governo federal e o Enade
Por meio de assessoria, o Ministério da Educação informou que é
responsável pela regulação das instituições federais e privadas. No caso
das universidades estaduais, elas podem optar por não realizar a prova
do Enade, já que respondem aos conselhos regionais de educação.
Fonte: G1.com