English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

domingo, 1 de dezembro de 2013

Cursinho integral vira 'casa' de candidatos de medicina na Fuvest

Cursinho integral vira 'casa' de candidatos de medicina na Fuvest

Curso especializado em medicina tem 68 horas de aula por semana.
Alunos dizem que passam mais tempo no cursinho do que em casa.

Ana Carolina Moreno Do G1, em São Paulo
Carlos Sartorato deixa seus livros didáticos no cursinho, já que passa 12 horas por dia lá (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)Carlos Sartorato deixa os livros didáticos no cursinho de medicina, onde passa 12 horas de seus dias (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
 
Para fugir de distrações em casa e aproveitar até o último momento a ajuda dos professores, candidatos que sonham em cursar medicina na Universidade de São Paulo (USP) passaram a quinta-feira (21) –o antepenúltimo dia antes da primeira fase da Fuvest– no que alguns deles até chamam de casa: a sala de aula de um cursinho pré-vestibular em tempo integral na região central de São Paulo, que dá 68 horas de aula por semana. A primeira fase da Fuvest acontece neste domingo (24) e mais de 172 mil estudantes estão inscritos. Os cursos de medicina no campus de Ribeirão Preto da USP e na Faculdade de Medicina de Pinheiros, em São Paulo, são os mais concorridos, com 62,91 e 58,57 candidatos por vaga, respectivamente.
No prédio de três andares do Hexag, na Rua da Consolação, alguns dos jovens que se inscreveram pela primeira, segunda ou quinta vez no vestibular para a carreira assistiam às aulas ou estudavam por conta própria em salas de estudo durante a tarde de quinta, penúltimo dia das aulas de revisão antes da primeira fase.
Enquanto duas garotas liam sozinhas em degraus de escadas, um jovem esperava por um professor na saída de uma sala de aula com uma apostila, um lápis e uma borracha na mão. Em uma sala vazia, meia dúzia de adolescentes descansavam deitados em um sofá improvisado com cadeiras enfileiradas e uma parede de encosto. Alguns caminhavam descalços pelos corredores, outros dormiam de bruços nas baias da sala de estudos, e havia até quem almoçava na cantina, onde também há microondas para quem leva a marmita de casa. "Passamos mais tempo aqui do que em casa" é a descrição mais comum que se ouve por ali.
Especializado em medicina, o cursinho tem aulas de segunda a sexta das 7h15 às 19h15, e aos sábados das 7h15 às 15h45. Alguns chegam a carregar as várias dezenas de livros didáticos em malas de rodinha, mas, como cada aluno tem sua própria carteira, e as salas com capacidade para até 70 pessoas não são revezadas, muitos os deixam no cursinho. É o caso de Carlos Sartorato, de 18 anos, que presta a Fuvest para medicina pela primeira vez neste domingo (24).
Aline Hamai ajuda o namorado Carlos a carregar seus livros (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) 
Aline Hamai e Carlos se conheceram no cursinho e hoje namoram (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
 
"Aqui temos o auxílio do professor", afirma o jovem que, no ano passado, tentou a Fuvest para direito, antes de mudar de ideia e decidir ser médico. Como se inscreveu apenas em instituições públicas, Carlos explicou ao G1 que, se não passar em nenhuma delas, voltará às salas do cursinho. O melhor dos cenários, para ele, é a vaga em medicina na USP.
Aline Hamai, de 18 anos, também vai prestar a Fuvest, mas diz que sua primeira opção é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Namorada de Carlos –os dois se conheceram na sala de estudos do cursinho e começaram a sair há cerca de três ou quatro meses–, ela discorda dele quando o assunto é repetir a maratona de estudos pré-vestibulares. "Não tenho essa paciência", explicou ela, que também se inscreveu para as provas da Unesp e algumas instituições particulares, e pretende já se matricular em uma delas, se conseguir a aprovação.
Disciplinados, os dois conseguiram manter a rotina de estudos mesmo com o namoro, e garantem que o trabalho em dupla rende mais. "É até melhor, porque a gente se ajuda. Ele tem dificuldade onde eu tenho facilidade", explicou Aline. Carlos admite que ela sabe mais de matemática. Para a garota, a matéria mais temida é geografia. Mas uma regra eles tiveram que criar. "Foi a primeira coisa que a gente falou um para o outro: na hora do estudo a gente fica segregado", disse o vestibulando. Com pouco tempo livre, porém, os passeios típicos de casal acabam vetados até no domingo, único dia sem aulas. Segundo Carlos, o "programa de fim de semana é fazer um simulado da Fuvest".

Thaís e Rafaela aproveitam a semana de revisão para estudar em casa à tarde e tirar dúvidas na manhã seguinte no cursinho (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) 
Thaís e Rafaela: truque para não desanimar é não checar o gabarito (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
 
Mas nem todos os namoros sobrevivem na vida de um candidato ou candidata do vestibular de medicina. A jovem Thaís Victor Paes, de 18 anos, namorava havia quase dois anos quando começou o cursinho, mas teve que escolher entre o namorado e os livros. Ela se mudou de Palmital, no interior de São Paulo, para a capital para se preparar, e a relação não resistiu. "Quis terminar porque não estava dando para fazer os dois. Quem não presta medicina não sabe como é", explicou.
Em 2012, ela prestou enfermagem porque não se sentia preparada para concorrer a uma vaga em medicina. Como passou na primeira fase, Thaís decidiu nem aparecer nas provas da segunda. "Nem fiz por medo de passar", revelou ela, que temia a pressão da família para aceitar a vaga em vez de voltar ao cursinho. Se passar em uma particular, ela diz que vai desistir das faculdades públicas. "Não tenho pressa, mas é torturante ficar aqui o dia inteiro."
Ao lado da amiga Rafaela Costa, também de 18 anos, ela decidiu ir para casa por volta das 15h30 desta quinta. A estratégia das duas é usar a apostila de revisão para estudar e reunir as dúvidas da aula da manhã seguinte, e então procurar os professores para resolver o que não entenderam. Outro truque usado por Rafaela é não checar o gabarito dos vestibulares antes da Fuvest. No da Unesp, que aconteceu no último domingo (17), ela ainda não sabe como foi. "Não conferi, vai que desanima", afirmou.

Gabriel e Vitor aproveitam todos os minutos possíveis antes da Fuvest na sala de aula (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) 
Gabriel e Vitor aproveitam todos os minutos possíveis antes da Fuvest na sala de aula (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
 
Café, café e pílulas de café
Manter a rotina intensa de estudos é impossível, para boa parte dos candidatos de medicina, sem uma boa dose de ajuda. Entre a maioria dos vestibulandos no Hexag na tarde de quinta, o café (normal, descafeinado, com e sem açúcar ou até em pílulas termogênicas compradas em lojas de suplementos) é o combustível preferido. Três xícaras de café sem açúcar é a receita que mantém Vitor Fernandes, de 18 anos, em pé durante tantas horas de estudo. Ele e o amigo Gabriel Belnuvo pretendem frequentar o cursinho até o último dia antes da Fuvest, por acharem que, com os professores ao lado, acabam rendendo mais.
Gabriel dorme às 23h e acorda às 5h30 todos os dias, mas diz que não sente muito sono e evita tomar cafeína. Para relaxar, o jovem diz que aproveitava as noites de sábado para sair, mas deixou o hábito de lado por volta de outubro, antes do início das provas. Já Vitor procura praticar jiu-jitsu duas vezes por semana, à noite, para gastar a energia. À noite, na cama, os dois ainda assistem a algumas videoaulas preparadas pelos professores do cursinho antes de pegar no sono.
Mas nem todos os estômagos aguentam tanto café: Michelle Bertoldo, de 18 anos, teve que apelar para chás, bebidas com guaraná e açaí. "Comecei a ter problemas com gastrite", contou a adolescente que acorda às 5h para sair da Zona Sul e percorrer o trajeto até o cursinho.
Sua colega de sala Ingrid Melo, de 22 anos, teve problemas piores. A rotina de dedicação intensa aos estudos, em detrimento de outras atividades, a deixou com pré-diabetes, além de gastrite. Problemas familiares também atrapalharam a jovem, que vai prestar a Fuvest pela quinta vez neste ano.
Nas quatro primeiras tentativas, ela diz que só se inscreveu para instituições públicas. Mas, neste ano, ela decidiu prestar as provas de universidades privadas e, se passar, vai estudar em uma delas. Além dessa mudança, ela procurou ajuda médica para balancear a alimentação, começou a tomar calmantes fitoterápicos e aprendeu técnicas de relaxamento e meditação que aplica nas manhãs antes das provas. Seu rendimento, segundo ela, melhorou nas provas que já realizou.
Mesmo assim, Ingrid pretende frequentar todas as aulas até a última, que termina às 19h15 desta sexta-feira (22). "Ainda não terminei todos os exercícios da apostila de revisão", argumentou ela. No sábado (23), os professores estarão disponíveis em um plantão de dúvidas. Embora sejam poucos os exercícios que faltam para completar o livro, a frequência ao cursinho tem um lado psicológico: o da confiança pelo dever cumprido. "Faz toda a diferença. Vou sair da prova falando que dei o meu melhor."

As vestibulandas Michelle e Ingrid bebem chás e café descafeinado para evitar a gastrite (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) 
Para manter a energia e driblar a gastrite, Michelle e Ingrid bebem chá, açaí e café descafeinado (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
 
Fonte: G1.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário