Maus hábitos tornam sociedade individualista, alerta psicóloga
Bons costumes e atitudes gentis estão cada vez mais difíceis de encontrar.
Especialista afirma que educação tem que começar em casa, pelos pais.
Fabiana De Mutiis
Do G1 AL
Educação é bom e todo mundo gosta. Esta frase já foi repetida algumas
vezes pela maioria das pessoas. No dia a dia, é comum observar atitudes
que classificamos como falta de educação. Mas não a educação formal das
escolas, mas sim a falta de cordialidade ou de gentileza. Pensar no
outro, muitas vezes, é pedir demais, alerta a psicóloga e professora
universitária, Silvana Barros.
Pessoas deixam bandejas com restos de comida em cima das mesas. (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)
Para a especialista, a falta de cordialidade das pessoas não se trata
apenas de educação, vai muito mais além. É uma questão da sociedade
narcisista, do individualismo e da falta de coletividade. "Hoje as
famílias não se sentam mais a mesa para fazer uma refeição. Cada um faz
seu prato e vai comer no sofá, no quarto ou onde quiser e as crianças
crescem vendo esse comportamento", explica. "Isso acomete todas as
classes
sociais, não é 'privilégio' das classes mais favorecidas", reforça a psicóloga.
A reportagem do
G1 foi a lugares públicos para
conferir como se comporta a sociedade hoje em dia. Foram cerca de 60
minutos na praça de alimentação de um dos principais shoppings de
Maceió.
Era início da noite, o local estava lotado. Nesse período, poucas
pessoas retiraram suas bandejas após o lanche e as levaram até a
lixeira.
A regra simplesmente virou excessão. E as pessoas agem sem nenhum
constrangimento aparente. Elas compram o lanche, carregam a bandeja até a
mesa, sentam-se, comem e depois se levantam. Quem vem atrás, fica sem
lugar para se sentar, com a bandeja na mão. Mas isso não é suficiente
para fazê-las repensar as atitudes. Após demorada busca por uma mesa
desocupada - e limpa -, as pessoas lancham vão embora, deixando a
bandeja para trás.
Jogar lixo na lixeira deveria ser regra, mas virou excessão. (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)
O que é possível perceber é que adolescentes, homens e mulheres de
várias classes sociais fazem o mesmo. E muitos estão acompanhados de
crianças. Em uma hora, apenas um grupo de quatro pessoas se levantou e
retirou a bandeja da mesa.
A arquiteta Carla Cansanção, 23, diz que talvez seja um costume das
pessoas. "É muito feio, mas já virou hábito. Acho que as pessoas pensam:
tem quem limpe e por isso não o fazem", diz.
O universitário Kadu Fonseca, 27, tem a mesma opinião. Ele acredita que
o fato de ter funcionários limpando as mesas faz com que as pessoas
pensem que não é obrigação delas retirar o prato sujo do lugar.
Na sala de cinema, a situação é ainda pior. A reportagem do
G1 acompanhou
o fim de uma sessão infantil e quando todos saem, a imagem é
impressionante. Além das pipocas no chão que caem por acidente, tem
sacos inteiros jogados no chão e muitos copos de refrigerantes no
porta-copos das poltronas. Quer dizer, ninguém joga o lixo na lixeira.
Nas salas de cinema, poucas pessoas recolhem os copos de refrigerente e os sacos de pipoca.
(Foto: Fabiana De Mutiis/G1)
E quem poderia mudar esta situação, não o faz. Ao sair da sala de
cinema, uma menina acompanhada da mãe seguia chutando um saco de pipoca
degraus abaixo. A responsável não fez nenhuma menção de que iria
repreender a criança pela atitude.
O problemas, infelizmente, não se limitam a ambientes fechados. No
estacionamento de uma rede de supermercados não é difícil encontrar
carrinhos de compras espalhados por vagas ou até mesmo nas vias por onde
os automóveis devriam passar. Incomum é encontrar alguém que, ao
descarregar as compras no porta-malas, devolva o carrinho ao lugar onde o
pegou.
No estacionamento de supermercados as pessoas deixam os carrinhos espalhados pelo estacionamento. (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)
Para a coordenadora pedagógica Luciana Mendonça Ribeiro, o cuidado com a
cidade e com o meio ambiente tem que ser tratado tanto na escola quanto
dentro de casa. Para ela, os pais são o espelho da criança e se eles
fazem o "errado" é mais fácil para a criança repetir esse ato.
"A gente ensina, educa, muitas vezes conseguimos fazer com que o aluno
mude o comportamento do pai, mas em algumas situações a referência
dentro de casa é mais forte. A criança incorpora o estímulo incorreto e
depois é bem mais difícil tirar", diz.
Fonte: G1.com