Jovens se tornam 'astrônomos' para representar o Brasil em olimpíadas
Candidatos se preparam para competições internacionais em Passa Quatro.
'Gosto disso desde os 3 anos', conta um dos alunos de escola na zona rural.
Para muitos o céu parece infinitamente distante e indecifrável, mas dez
alunos de escolas de todo o país começam a aprender a decifrá-lo em um
curso intensivo em Passa Quatro, interior de Minas Gerais.
Eles foram selecionados para representar o Brasil em duas olimpíadas
internacionais de astronomia, e até esta segunda-feira (7), recebem
aulas e passam por experiências práticas em uma pousada na zona rural da
cidade para estarem preparados para as provas que acontecem na Bolívia e
na Grécia.
Os dez selecionados foram encontrados a partir da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), competição realizada através das escolas públicas e privadas em todo o país. Cinco dos estudantes participam da Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), realizada entre os dias 19 e 23 de outubro em Cochabamba, na Bolívia. Os outros cinco saem daqui para a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), que acontece em Volos, na Grécia, do dia 27 de julho a 5 de agosto.
“É uma experiência encantadora”, conta a estudante Larissa Fernandes de Aquino, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) em Recife
(PE). Hoje com 18 anos, ela levou prata na última edição do OLAA e este
ano foi selecionada para a IOAA, na Grécia. “Conheci diversas pessoas
muito inteligentes e ao mesmo tempo muito divertidas, há sempre
compartilhamento de informações, tanto acadêmicas, quanto culturais.
Conheci pessoas de quase todos os estados do Brasil e de diversos países
da América Latina”, conta, sem esconder o entusiasmo para a etapa
internacional.
“A maioria dos participantes ainda não definiu o que querem fazer na vida, então a competição é também uma forma de apresentar o mundo da astronomia para os jovens estudantes. A grande maioria que se interessa pela pesquisa científica a partir da olimpíada acaba seguindo carreira na área das ciências exatas”, explica o professor João Batista Garcia Canalle, coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. Larissa acompanha o raciocício do professor. “Eu participei da OBA por curiosidade, mas conforme fui me envolvendo mais nas atividades da olimpíada e estudando em casa, decidi seguir uma carreira na área. Hoje quero fazer faculdade de física”, completa.
Do campo para o céu
Mas existem aqueles que sempre almejaram alcançar as estrelas e para estes, a competição se torna uma grande oportunidade. Lucas Bartoszik tem 16 anos e estuda na pequena cidade de Virmond, com 3,7 mil habitantes, no interior do Paraná. “Estudo no Colégio Estadual General Eurico Gaspar Dutra, a única instituição da cidade que possui as séries finais do ensino fundamental e médio”, explica.
Lucas conta que seu interesse por astronomia surgiu quando ele tinha apenas três anos de idade. “Eu ficava comentando do tema no consultório do dentista que eu frequentava, então a esposa dele, um dia, me deu um livro que retratava a corrida espacial. Foi o meu primeiro sobre o tema”, lembra. Como ele não sabia ler à época, o pai lia o livro para o pequeno apreciador.
Em 2010, a OBA foi realizada pela primeira vez no colégio do Lucas. Na época, com 12 anos de idade, ele participou e conseguiu a medalha de prata, no ano seguinte conseguiu a de bronze e em 2012 conquistou o ouro da competição, com 14 anos de idade e no primeiro ano do ensino médio. Pra conseguir a proeza, Lucas estudou sozinho em casa. “Vivo em um local onde a ciência não tem sua ênfase necessária. O colégio me ajudou com o que estava ao alcance da instituição, imprimindo e encadernando algumas apostilas”, conta.
A família do Lucas possui uma pequena propriedade rural, portanto, o
garoto se dividiu entre as tarefas da fazenda e os estudos para
conseguir a nota necessária e ser classificado para a competição. “Não
estudo mais do que três horas por dia, no máximo. Tenho que ajudar meus
pais nos serviços diários, pois minha família não tem uma grande renda
financeira, sobrando tempo apenas pela noite, e não há como passar a
noite estudando porque o trabalho no campo cansa muito”, explica.
Lucas conta que sempre se apoiou nos seus sonhos e na sua inteligência para se manter no objetivo. Diagnosticado por um psicólogo como superdotado e próximo à escala de genialidade, no início do ano ele resolveu tentar o vestibular de física na Unicentro, em Guarapuava (PR), e foi aprovado, com apenas 15 anos. “Eu poderia ter avançado séries por causa disso, mas decidi continuar no ensino médio. Penso que mesmo estando conscientemente e intelectualmente preparado para enfrentar o ensino superior, não estou preparado emocionalmente”, explica o jovem.
As olimpíadas
A Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) surgiu há 16 anos com o objetivo de incentivar jovens estudantes a seguirem carreira nas áreas da pesquisa científica. A competição recebe inscrições dos ensinos fundamental e médio e as provas são aplicadas através das escolas que se inscrevem para participar da olimpíada.
Segundo o coordenador nacional da competição, o professor João Batista Garcia Canalle, a edição de 2012, de onde saíram os 10 alunos selecionados para as etapas internacionais deste ano, teve 780 mil alunos inscritos de todos os estados brasileiros. “São quatro níveis de provas: do 1º ao 3º ano, do 4º ao 6º ano, do 7º ao 9º ano e ensino médio. Das provas, saem 120 alunos com as maiores pontuações para participarem de duas jornadas espaciais”, explica.
Os 120 alunos selecionados são divididos em dois grupos de 60 cada. Um grupo é levado para São José dos Campos (SP), onde os alunos conhecem onde são fabricados os foguetes brasileiros. O outro grupo vai para o Rio Grande do Norte, no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), de onde são lançados os foguetes brasileiros. “Os alunos conhecem também o astronauta brasileiro Marcos Pontes e a garotada adora a experiência”, completa o professor.
Todos os alunos que participam da olimpíada recebem um certificado de participação. “Também distribuímos 33 mil medalhas para os melhores alunos das escolas de todo o país. É uma forma de incentivar todo mundo a continuar participando”, explica Canalle. Dos 120, os mais bem pontuados recebem treinamento à distância sobre astrofísica, e após uma prova presencial, são escolhidos 10 alunos para receberem um treinamento intensivo na área e representarem o Brasil nas olimpíadas internacionais.
Gustavo Rojas, um dos professores da comissão que prepara os alunos em Passa Quatro, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), explica que os alunos tem aulas que ensinam a analisar dados científicos, organizar estatísticas a partir destes dados, operar um telescópio e fazer a ‘leitura’ do céu, tanto noturno quanto diurno. “É como se fosse um simulado das provas que eles terão nas competições internacionais. Você faz atividades como se fosse um cientista. Além disso, os alunos fazem lançamentos de foguetes utilizando garrafas pet”, conta. Como o Brasil é um dos únicos países do Hemisfério Sul a participar da competição no Hemisfério Norte, os alunos ainda vão fazer uma visita ao planetário de Santo André (SP), onde o telescópio permitirá simular o céu da Grécia para a prova.
A corrida brasileira para a ciência
“Poucos têm a ambição de serem astronautas no Brasil. Aqui nós só temos um, e no mundo devem ter uns 150, no máximo 200 astronautas”, explica o professor Canalle sobre a importância da competição. “Mas incentivando a pesquisa científica podemos criar o nosso próprio foguete e lançar nossos astronautas no espaço. E ainda, vejo futuros cientistas em todas as áreas, fortalecendo os programas do governo, de segurança e desenvolvimento de tecnologias, até futuros ministros, quem sabe.”
O professor conta ainda que os estudantes que participam e se destacam nas competições internacionais têm grandes chances de serem chamados para as principais universidades do mundo. Tábata Amaral, de 18 anos, que entrou para a Universidade de Harvard no ano passado e Gustavo Haddad, aceito no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), duas das mais prestigiadas instituições dos Estados Unidos e do mundo, passaram pela Olimpíada Brasileira de Astronomia, segundo o professor Canalle.
“Isso motiva eles a estudarem, traz uma autoconfiança muito grande e você tem que motivar as pessoas para elas fazerem com vontade, com dedicação. Quem ganhou a medalha, nunca se esquece, e todos têm orgulho disso”, completa.
O iniciante no caminho, Lucas Bartoszik, não discorda. “Pra mim, é uma imensa oportunidade de exercer esse conhecimento. Sempre tive essa vontade incessante de construir o que já existia dentro de mim, e estava aqui, inquieto, mesmo que controlado há muito tempo”, conta o garoto.
Lucas pretende se tornar bacharel em física e seguir como pesquisador no ramo da física e da astronomia. “A tecnologia dos tempos atuais deve-se ao trabalho dos cientistas dos períodos anteriores e o meu objetivo, antes de mais nada, gira em torno de poder contribuir para a grande corrente científica que movimenta a humanidade por muitos séculos”, finaliza o aspirante a cientista.
Fonte: G1.com
Os dez selecionados foram encontrados a partir da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), competição realizada através das escolas públicas e privadas em todo o país. Cinco dos estudantes participam da Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), realizada entre os dias 19 e 23 de outubro em Cochabamba, na Bolívia. Os outros cinco saem daqui para a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), que acontece em Volos, na Grécia, do dia 27 de julho a 5 de agosto.
Larissa Aquino durante a oficina de foguetes (Foto: Assessoria de Imprensa/Divulgação)
“A maioria dos participantes ainda não definiu o que querem fazer na vida, então a competição é também uma forma de apresentar o mundo da astronomia para os jovens estudantes. A grande maioria que se interessa pela pesquisa científica a partir da olimpíada acaba seguindo carreira na área das ciências exatas”, explica o professor João Batista Garcia Canalle, coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. Larissa acompanha o raciocício do professor. “Eu participei da OBA por curiosidade, mas conforme fui me envolvendo mais nas atividades da olimpíada e estudando em casa, decidi seguir uma carreira na área. Hoje quero fazer faculdade de física”, completa.
Do campo para o céu
Mas existem aqueles que sempre almejaram alcançar as estrelas e para estes, a competição se torna uma grande oportunidade. Lucas Bartoszik tem 16 anos e estuda na pequena cidade de Virmond, com 3,7 mil habitantes, no interior do Paraná. “Estudo no Colégio Estadual General Eurico Gaspar Dutra, a única instituição da cidade que possui as séries finais do ensino fundamental e médio”, explica.
Lucas conta que seu interesse por astronomia surgiu quando ele tinha apenas três anos de idade. “Eu ficava comentando do tema no consultório do dentista que eu frequentava, então a esposa dele, um dia, me deu um livro que retratava a corrida espacial. Foi o meu primeiro sobre o tema”, lembra. Como ele não sabia ler à época, o pai lia o livro para o pequeno apreciador.
Em 2010, a OBA foi realizada pela primeira vez no colégio do Lucas. Na época, com 12 anos de idade, ele participou e conseguiu a medalha de prata, no ano seguinte conseguiu a de bronze e em 2012 conquistou o ouro da competição, com 14 anos de idade e no primeiro ano do ensino médio. Pra conseguir a proeza, Lucas estudou sozinho em casa. “Vivo em um local onde a ciência não tem sua ênfase necessária. O colégio me ajudou com o que estava ao alcance da instituição, imprimindo e encadernando algumas apostilas”, conta.
Lucas (ao centro) e colegas: do campo para as estrelas (Foto: Arquivo Pessoal)
Lucas conta que sempre se apoiou nos seus sonhos e na sua inteligência para se manter no objetivo. Diagnosticado por um psicólogo como superdotado e próximo à escala de genialidade, no início do ano ele resolveu tentar o vestibular de física na Unicentro, em Guarapuava (PR), e foi aprovado, com apenas 15 anos. “Eu poderia ter avançado séries por causa disso, mas decidi continuar no ensino médio. Penso que mesmo estando conscientemente e intelectualmente preparado para enfrentar o ensino superior, não estou preparado emocionalmente”, explica o jovem.
As olimpíadas
A Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) surgiu há 16 anos com o objetivo de incentivar jovens estudantes a seguirem carreira nas áreas da pesquisa científica. A competição recebe inscrições dos ensinos fundamental e médio e as provas são aplicadas através das escolas que se inscrevem para participar da olimpíada.
Segundo o coordenador nacional da competição, o professor João Batista Garcia Canalle, a edição de 2012, de onde saíram os 10 alunos selecionados para as etapas internacionais deste ano, teve 780 mil alunos inscritos de todos os estados brasileiros. “São quatro níveis de provas: do 1º ao 3º ano, do 4º ao 6º ano, do 7º ao 9º ano e ensino médio. Das provas, saem 120 alunos com as maiores pontuações para participarem de duas jornadas espaciais”, explica.
Olimpíada de Astronomia estimula o interesse para a ciência no Brasil (Foto: Divulgação)
Alunos selecionados em 2013 |
---|
IOAA | Volos - Grécia |
Allan dos Santos Costa (Bauru, SP) |
Daniel Mitsutani (São Paulo, SP) |
Fábio Kenji Arai (São Paulo, SP) |
Larissa Fernandes de Aquino (Recife, PE) |
Luís Fernando Valle (Guarulhos, SP) |
OLAA | Cochabamba - Bolívia |
Ana Letícia dos Santos (Curitiba, PR) |
Andrei Michel Sontag (Cândido Rondon, PR) |
Marton Paulo dos Santos Silva (Recife, PE) |
Rubens Martins Bezerra Farias (Fortaleza, CE) |
Weslley de Vasconcelos Rodrigues da Silva (Teresina, PI) |
Suplentes | OLAA e IOAA: |
Lucas Bartoszik (Virmond, PR) |
Carolina Antunes Marques (Holambra, SP) |
Os 120 alunos selecionados são divididos em dois grupos de 60 cada. Um grupo é levado para São José dos Campos (SP), onde os alunos conhecem onde são fabricados os foguetes brasileiros. O outro grupo vai para o Rio Grande do Norte, no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), de onde são lançados os foguetes brasileiros. “Os alunos conhecem também o astronauta brasileiro Marcos Pontes e a garotada adora a experiência”, completa o professor.
Todos os alunos que participam da olimpíada recebem um certificado de participação. “Também distribuímos 33 mil medalhas para os melhores alunos das escolas de todo o país. É uma forma de incentivar todo mundo a continuar participando”, explica Canalle. Dos 120, os mais bem pontuados recebem treinamento à distância sobre astrofísica, e após uma prova presencial, são escolhidos 10 alunos para receberem um treinamento intensivo na área e representarem o Brasil nas olimpíadas internacionais.
Gustavo Rojas, um dos professores da comissão que prepara os alunos em Passa Quatro, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), explica que os alunos tem aulas que ensinam a analisar dados científicos, organizar estatísticas a partir destes dados, operar um telescópio e fazer a ‘leitura’ do céu, tanto noturno quanto diurno. “É como se fosse um simulado das provas que eles terão nas competições internacionais. Você faz atividades como se fosse um cientista. Além disso, os alunos fazem lançamentos de foguetes utilizando garrafas pet”, conta. Como o Brasil é um dos únicos países do Hemisfério Sul a participar da competição no Hemisfério Norte, os alunos ainda vão fazer uma visita ao planetário de Santo André (SP), onde o telescópio permitirá simular o céu da Grécia para a prova.
A corrida brasileira para a ciência
“Poucos têm a ambição de serem astronautas no Brasil. Aqui nós só temos um, e no mundo devem ter uns 150, no máximo 200 astronautas”, explica o professor Canalle sobre a importância da competição. “Mas incentivando a pesquisa científica podemos criar o nosso próprio foguete e lançar nossos astronautas no espaço. E ainda, vejo futuros cientistas em todas as áreas, fortalecendo os programas do governo, de segurança e desenvolvimento de tecnologias, até futuros ministros, quem sabe.”
O professor conta ainda que os estudantes que participam e se destacam nas competições internacionais têm grandes chances de serem chamados para as principais universidades do mundo. Tábata Amaral, de 18 anos, que entrou para a Universidade de Harvard no ano passado e Gustavo Haddad, aceito no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), duas das mais prestigiadas instituições dos Estados Unidos e do mundo, passaram pela Olimpíada Brasileira de Astronomia, segundo o professor Canalle.
“Isso motiva eles a estudarem, traz uma autoconfiança muito grande e você tem que motivar as pessoas para elas fazerem com vontade, com dedicação. Quem ganhou a medalha, nunca se esquece, e todos têm orgulho disso”, completa.
O iniciante no caminho, Lucas Bartoszik, não discorda. “Pra mim, é uma imensa oportunidade de exercer esse conhecimento. Sempre tive essa vontade incessante de construir o que já existia dentro de mim, e estava aqui, inquieto, mesmo que controlado há muito tempo”, conta o garoto.
Lucas pretende se tornar bacharel em física e seguir como pesquisador no ramo da física e da astronomia. “A tecnologia dos tempos atuais deve-se ao trabalho dos cientistas dos períodos anteriores e o meu objetivo, antes de mais nada, gira em torno de poder contribuir para a grande corrente científica que movimenta a humanidade por muitos séculos”, finaliza o aspirante a cientista.
Fonte: G1.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário