Ciência sem Fronteiras é 'bom' para 53% dos bolsistas e 'fraco' para 5%
Dados foram apresentados em conferência promovida em São Carlos (SP).
Estudantes beneficiados elogiam o programa, mas cobram mais fiscalização.
Evento na UFSCar reuniu ex-bolsistas, professores e agências (Foto: Stefhanie Piovezan/G1)
O levantamento foi apresentado por Geraldo Nunes Sobrinho, representante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e por Adalberto Luís Val, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com base em entrevistas com 20.879 bolsistas de graduação.
Também foi feita uma pesquisa com 6.915 coordenadores das instituições de origem. Para eles, o desempenho acadêmico dos estudantes no exterior foi “bom” em 54% dos casos. Em seguida vêm “ótimo” (26%), “regular” (15%), “fraco” (4%) e “péssimo” (1%).
Questionados se a bolsa foi relevante para a formação pessoal e acadêmica dos alunos, eles disseram que foi “ótima” em 50% dos casos e “boa” em 41%. “Regular” ficou com 7% e “fraca” teve 2%. Em 98% dos casos os estudantes retomaram suas atividades na universidade.
Outro ponto apresentado pelas agências foi o aproveitamento das disciplinas. Uma pesquisa com 814 bolsistas do programa mostrou que 68% das matérias foram aproveitadas totalmente, 8%, parcialmente e 24% não foram aproveitadas.
Segundo o balanço, o principal motivo para o não aproveitamento dos créditos foi a indisponibilidade das matérias na grade da instituição brasileira. O quesito desempenho insatisfatório/reprovação do aluno representou 12% do total.
Fiscalização
Antes da apresentação, ex-bolsistas contaram suas experiências e avaliaram o programa. Eles elogiaram os intercâmbios, mas recomendaram mais fiscalização. Também compartilharam a preocupação com um possível corte do auxílio para a compra de livros.
Reunião anual da SBPC acontece até este sábado em São Carlos (SP) (Foto: Fábio Rodrigues/G1)
A estudante contou que fez dois estágios e voltou com um certificado de prioridade para trabalhar na Hyundai no Brasil quando se formar. “Trouxe de volta uma cultura de planejamento”, afirmou. “Você volta para o Brasil com outra visão, você quer mais, não consegue ficar quieto", disse. Ela, contudo, criticou a falta de monitoramento das matérias cursadas. “Na Coreia não tinha fiscalização, dependia muito dos próprios alunos”.
Relatos
Marcos Pereira dos Santos, aluno de biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), passou um ano no Canadá. Ele escolheu o país com base no ranking das melhores instituições em sua área e comentou algumas diferenças entre os sistemas. Enfatizou o alto padrão de infraestrutura, a existência de vários processos de avaliação durante o semestre e a preocupação com a sanidade mental dos alunos. Mencionou que há, por exemplo, atividades com filhotes de cachorros e um carro velho que pode ser martelado pelos estudantes, tudo para aliviar o estresse.
Também elogiou o complexo de lazer e esportes e o centro de saúde abertos aos universitários e contou que, no Canadá, não há a possibilidade de cursar uma matéria sem relação com o curso de origem apenas para cumprir créditos. Um órgão regula os pedidos e avalia a ligação.
No período de intercâmbio, Marcos fez estágio no Centro Canadense de Neurociência Comportamental, onde conviveu com pessoas de diferentes nacionalidades, e afirmou que esse contato incrementou seu inglês e resultou no enriquecimento cultural.
Professor do departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, José Antônio Aleixo da Silva representou os pesquisadores contemplados pelo programa e também relatou sua experiência.
“Acham que é só para jovens, mas tem para a terceira idade também”, brincou ele, que fez pós-doutorado na Technische Universität Berlin.
“Há os casos de gente que vai fazer turismo, que a imprensa divulga, mas não é só isso”, disse. “É um programa muito bom, deve ser incentivado. É um projeto que é realidade, vai ajudar o Brasil”, completou. “Fui, adorei e recomendo”.
Para onde vai?
Integrante da primeira leva de alunos do CsF, Guilherme de Rosso Manços aproveitou a mesa para lançar reflexões sobre o futuro profissional dos participantes e Helena Nader, presidente da SBPC, comentou a obrigação dos ex-bolsistas. Para ela, eles devem compartilhar suas experiências para contribuir com a melhoria do ensino brasileiro.
Sobrinho também cobrou os universitários. “Uma palavra que foi dita aqui talvez resuma muita coisa: inquietar. O bolsista do programa deve inquietar a sociedade, as universidades, os pesquisadores. Os alunos têm a obrigação de provocar essa inquietação, inquietar as estruturas que estão aí no sentido positivo”.
Fonte: G1.com
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