Entenda por que redação do Enem com hino e miojo não vale nota zero
Segundo órgão que aplica o Enem, fuga do tema foi parcial nas redações.
Textos com hino do Palmeiras e receita de miojo tiveram nota 500 e 560.
Os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que inseriram uma receita de miojo e trechos do hino do Palmeiras na redação disseram ao G1
que esperavam tirar nota zero na prova. Segundo eles, a intenção era
testar o sistema de correção da prova de redação. No entanto, de acordo
com Paulo Portela, diretor-geral do Centro de Seleção e de Promoção de
Eventos (Cespe), órgão da Universidade Federal de Brasília (UnB)
responsável pela aplicação do Enem, o edital do exame tem regras claras
sobre as transgressões que anulam a prova. E trechos fora de propósito
escondidos entre parágrafos pretensamente sérios não configuram uma fuga
completa ao tema. Esta falha só existe se o candidato não cita a
proposta da prova em nenhuma parte de seu texto.
Já Carlos Guilherme Custódio Ferreira, de Campo Belo (MG), decidiu
ensinar uma receita de 'miojo' antes de concluir seu texto intitulado
"Imigração ilegal", que acabou avaliado com a nota 560. O objetivo dos
dois era provar que os corretores não liam as redações com atenção e,
por isso, a nota dos candidatos era aleatória.
Fernando e Guilherme afirmaram que a nota mais justa para seus textos seria zero. Porém, para Portela, do Cespe, as notas 500 e 560 para as redações dos dois estudantes é prova de que os corretores não só leram os textos, mas também os corrigiram seguindo os critérios previstos no edital. "Não é aleatória, se você verificar onde eles levaram a menor nota, vai ver que foi nessas competências específicas. A nota baixa reflete exatamente que, quando ele utilizou argumentos completamente fora de propósito, ele foi apenado justamente por isso", explicou Portela ao G1.
"Se quisesse testar o sistema, poderia fazer um texto sobre a imigração no século 21 no Brasil e apresentar uma proposta de intervenção que ferisse os direitos humanos. Se fizesse isso, ele teria a nota zero", afirmou.
Ele afirmou ainda que a pontuação dos dois candidatos é considerada "o limite da reprovação", já que, por exemplo, um participante que queira usar o Enem para conseguir a certificação do ensino médio deverá tirar no mínimo 500 na redação para obter a qualificação em linguagens e códigos.
Nota dividida em cinco partes
Pelas regras de correção, a nota final da redação do Enem é a soma aritmética de cinco notas, atribuídas de acordo com competências diferentes. Por isso, a correção não leva em conta apenas se o estudante falou apenas sobre o assunto proposto, mas também se seguiu as regras da norma padrão da língua portuguesa, se usou a estrutura de texto dissertativo-argumentativo, se concluiu a prova com uma proposta de intervenção para o problema apresentado, entre outros (veja as competências na tabela abaixo):
Cada competência vale no máximo 200 pontos e, segundo Portela, a 2ª competência é a única que o candidato não pode zerar, porque isso anulará a prova. Ela fala justamente sobre abordar o tema proposto pela prova e, ainda, exige que o candidato elabore um texto usando a estrutura dissertativa-argumentativa. Segundo Portela, isso quer dizer, por exemplo, se candidato escreveu apenas sobre imigração, mas montou um texto em forma de poema, sua nota final será zero, mesmo que ele tenha cumprido as demais competências.
Fuga do tema foi apenas parcial
No caso dos estudantes paulista e mineiro, o diretor-geral do Cespe/UnB diz que ambos cumpriram parcialmente a 2ª competência, porque sua redação foi dissertativa-argumentativa e o tema correto foi abordado tanto na introdução quanto na conclusão do texto.
"Essas duas redações que vêm sendo discutidas na internet, quando você olha para a estrutura delas, há introdução, desenvolvimento, você percebe que eles entram em hinos de time e em uma receita, que perdem a coerência textual, mas no final ainda voltam e concluem o texto", explicou Portela.
"Eles entram no tema, se perdem um pouco, como se o participante estivesse se perdendo no desenvolvimento, e no final fazem uma conclusão. Não é a conclusão esperada para uma nota alta, tanto que foram notas muito baixas."
A correção, segundo ele, deve seguir as regras do edital, mas os corretores, que em 2012 tiveram uma capacitação durante dois meses sobre todos os itens da avaliação da prova, também levam em conta o fato de que os candidatos são concluintes do ensino médio e fazem a prova sem o uso de recursos como gramática, corretor ortográfico e internet para buscar argumentos na hora de desenvolver a dissertação.
Nota zero
Ainda de acordo com o diretor do Cespe, mesmo com o aumento anual no número de candidatos do Enem, "o percentual está mais ou menos estabilizado em termos de redações brancas". O item 14.9 do edital do Enem 2012 estabelece as regras para que uma redação leve nota zero e, portanto, seja anulada:
14.9 Em todos as situações expressas abaixo, será atribuída nota zero à redação:
14.9.1 que não atender a proposta solicitada ou que possua outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo, o que configurará “Fuga ao tema/não atendimento ao tipo textual”;
14.9.2 sem texto escrito na Folha de Redação, que será considerada “Em Branco”;
14.9.3 com até 7 (sete) linhas, qualquer que seja o conteúdo, que configurará “Texto insuficiente”;
14.9.3.1 linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no Caderno de Questões serão desconsideradas para efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas;
14.9.4 com impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, que será considerada “Anulada”.
Portela afirma que o fato de os candidatos receberem o espelho da redação desde a edição de 2012 do exame pode fazer com que mais estudantes tentem repetir o exemplo de Fernando Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira.
"É possível que um candidato tente testar a banca, mas essa banca vai estar cada vez mais preparada para tratar uma situação como essa."
Fonte: G1.com
Fernando
Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira tentaram testar sistema de
correção da redação do Enem (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
Nesta semana, as redações de dois estudantes que já estavam
matriculados no ensino superior, e por isso fizeram o Enem sem pretensão
de tirar nota alta, acabaram ganhando destaque pela peculiaridade dos
textos. Fernando César Maioto Júnior, de São José do Rio Preto (SP),
inseriu no meio da redação sobre imigração no século 21 trechos do hino
do Palmeiras e tirou nota 500 --a pontuação vai de 0 a 1.000.Fernando e Guilherme afirmaram que a nota mais justa para seus textos seria zero. Porém, para Portela, do Cespe, as notas 500 e 560 para as redações dos dois estudantes é prova de que os corretores não só leram os textos, mas também os corrigiram seguindo os critérios previstos no edital. "Não é aleatória, se você verificar onde eles levaram a menor nota, vai ver que foi nessas competências específicas. A nota baixa reflete exatamente que, quando ele utilizou argumentos completamente fora de propósito, ele foi apenado justamente por isso", explicou Portela ao G1.
"Se quisesse testar o sistema, poderia fazer um texto sobre a imigração no século 21 no Brasil e apresentar uma proposta de intervenção que ferisse os direitos humanos. Se fizesse isso, ele teria a nota zero", afirmou.
Ele afirmou ainda que a pontuação dos dois candidatos é considerada "o limite da reprovação", já que, por exemplo, um participante que queira usar o Enem para conseguir a certificação do ensino médio deverá tirar no mínimo 500 na redação para obter a qualificação em linguagens e códigos.
Nota dividida em cinco partes
Pelas regras de correção, a nota final da redação do Enem é a soma aritmética de cinco notas, atribuídas de acordo com competências diferentes. Por isso, a correção não leva em conta apenas se o estudante falou apenas sobre o assunto proposto, mas também se seguiu as regras da norma padrão da língua portuguesa, se usou a estrutura de texto dissertativo-argumentativo, se concluiu a prova com uma proposta de intervenção para o problema apresentado, entre outros (veja as competências na tabela abaixo):
COMPETÊNCIAS AVALIADAS NA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Competência 1 | Competência 2* | Competência 3 | Competência 4 | Competência 5 | |||||
Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita. | Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. | Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. | Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação. | Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. | |||||
Valor: 0 a 200 |
Valor: 0 a 200 |
Valor: 0 a 200 | Valor: 0 a 200 | Valor: 0 a 200 | |||||
(*) OBS: Caso o candidato tenha nota zero na Competência 2, ele terá a prova anulada Fonte: MEC/Inep |
Cada competência vale no máximo 200 pontos e, segundo Portela, a 2ª competência é a única que o candidato não pode zerar, porque isso anulará a prova. Ela fala justamente sobre abordar o tema proposto pela prova e, ainda, exige que o candidato elabore um texto usando a estrutura dissertativa-argumentativa. Segundo Portela, isso quer dizer, por exemplo, se candidato escreveu apenas sobre imigração, mas montou um texto em forma de poema, sua nota final será zero, mesmo que ele tenha cumprido as demais competências.
Fuga do tema foi apenas parcial
No caso dos estudantes paulista e mineiro, o diretor-geral do Cespe/UnB diz que ambos cumpriram parcialmente a 2ª competência, porque sua redação foi dissertativa-argumentativa e o tema correto foi abordado tanto na introdução quanto na conclusão do texto.
"Essas duas redações que vêm sendo discutidas na internet, quando você olha para a estrutura delas, há introdução, desenvolvimento, você percebe que eles entram em hinos de time e em uma receita, que perdem a coerência textual, mas no final ainda voltam e concluem o texto", explicou Portela.
"Eles entram no tema, se perdem um pouco, como se o participante estivesse se perdendo no desenvolvimento, e no final fazem uma conclusão. Não é a conclusão esperada para uma nota alta, tanto que foram notas muito baixas."
A correção, segundo ele, deve seguir as regras do edital, mas os corretores, que em 2012 tiveram uma capacitação durante dois meses sobre todos os itens da avaliação da prova, também levam em conta o fato de que os candidatos são concluintes do ensino médio e fazem a prova sem o uso de recursos como gramática, corretor ortográfico e internet para buscar argumentos na hora de desenvolver a dissertação.
Nota zero
Ainda de acordo com o diretor do Cespe, mesmo com o aumento anual no número de candidatos do Enem, "o percentual está mais ou menos estabilizado em termos de redações brancas". O item 14.9 do edital do Enem 2012 estabelece as regras para que uma redação leve nota zero e, portanto, seja anulada:
14.9 Em todos as situações expressas abaixo, será atribuída nota zero à redação:
14.9.1 que não atender a proposta solicitada ou que possua outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo, o que configurará “Fuga ao tema/não atendimento ao tipo textual”;
14.9.2 sem texto escrito na Folha de Redação, que será considerada “Em Branco”;
14.9.3 com até 7 (sete) linhas, qualquer que seja o conteúdo, que configurará “Texto insuficiente”;
14.9.3.1 linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no Caderno de Questões serão desconsideradas para efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas;
14.9.4 com impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, que será considerada “Anulada”.
Portela afirma que o fato de os candidatos receberem o espelho da redação desde a edição de 2012 do exame pode fazer com que mais estudantes tentem repetir o exemplo de Fernando Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira.
"É possível que um candidato tente testar a banca, mas essa banca vai estar cada vez mais preparada para tratar uma situação como essa."
Fonte: G1.com
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