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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Novo reitor da Unesp diz que vai dar condições de igualdade aos cotistas


22/01/2013 14h00 - Atualizado em 22/01/2013 14h57

Novo reitor da Unesp diz que vai dar condições de igualdade aos cotistas

Em entrevista ao G1, Julio Durigan fala do projeto de cotas na universidade.
Ele diz que Enem precisa melhorar muito para substituir vestibular.


Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo
Julio Durigan, de 58 anos, é o reitor da Unesp (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)Julio Durigan, de 58 anos, é o reitor da Unesp (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
Recém-empossado reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – ele era vice-reitor, mas exerceu o cargo de reitor em exercício entre 2010 e 2012, depois que Herman Voorwald foi nomeado secretário estadual da Educação –, o agrônomo Julio Cezar Durigan, de 58 anos, recebeu a reportagem do G1 para falar sobre os desafios de estar à frente de uma das mais importantes instituições de ensino do país. Durigan fez críticas ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que, segundo ele, precisa ainda de ajustes, e destacou o projeto das universidades estaduais de São Paulo (Unesp, USP e Unicamp) em criar o seu próprio sistema de cotas.

Em dezembro, o governo de São Paulo anunciou um programa que pretende garantir reserva de 50% das vagas de cada curso e cada turno das universidades estaduais paulistas para estudantes vindos de escolas públicas, a partir de 2014. Ao contrário da lei de cotas do governo federal, que coloca os estudantes cotistas diretamente nas universidades, a proposta paulista prevê a criação de um curso de capacitação destes alunos, no sistema de "college", antes de iniciar a graduação. A proposta precisa ainda ser analisada e aprovada pelos conselhos das universidades.
"Chegou-se à conclusão que deveria se pensar rapidamente em um sistema que trouxesse algumas correções dos problemas que vimos na proposta federal", afirma Durigan. "Nossa ideia é dar condições para que esse aluno venha melhor formado para entrar na universidade. De que jeito? Fazendo algo que seja interessante para a vida dele, um curso de formação, com certificação, de forma que, se não quiser para universidade após este curso, ele pode ir para o mercado de trabalho."

"Queremos que os cotistas tenham o mesmo nível dos alunos que entram pelo vestibular. A política federal não prevê isso"

Julio Cezar Durigan, reitor da Unesp
Segundo o novo reitor, metade dos cotistas vai passar por esse college e o restante cada universidade vai estabelecer um critério para recebê-los. "Queremos que os cotistas tenham o mesmo nível dos alunos que entram pelo vestibular. A política federal não prevê isso. Vamos ter um aluno na medicina que é de altíssimo nível e outro que é baixíssimo nível. Os dois vão estar na mesma sala, fazendo o mesmo curso. Se não dermos condições para que eles se aproximem, vamos ter problemas na sala de aula, não adianta dizer que não. O governo estadual e o Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo] pensaram nisso: vamos melhorar o nível dos cotistas."
"A gente quer fazer a inclusão social de forma que os cotistas tenham condições de acompanhar o curso oferecido e se forme em igualdade de condições. O que vai ser muito difícil de ser feito no federal", diz.

Quanto à utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o reitor afirma que não pode correr o risco de optar por “um sistema que está tendo problemas a cada ano”. "O Enem é uma boa ideia de seleção geral, mas não tem a estabilidade que precisamos. Quando tiver, podemos tentar adotá-lo. Temos um nome a zelar."
"Existe a possiblidade de um dia substituir o vestibular. Mas esse ‘um dia’ talvez não esteja muito próximo. Por quê? Temos uma estrutura de vestibular consagrada, conceituada, com qualidade de seleção muito boa, compatível com que queremos nos nossos cursos. Nosso vestibular há anos vem sendo feito com uma qualidade muito boa, posso falar pela Unicamp e USP também", afirma Durigan.


Durigan com o secretário Herman  (Foto: Chello Fotógrafo/Unesp) 
Durigan com o secretário Herman (Foto: Chello Fotógrafo/Unesp)
Reitor viu a Unesp nascer
 
Nascido em Taiúva, cidade de pouco mais de 5.000 habitantes, no interior de São Paulo, Durigan sempre estudou na rede pública de ensino. Foi para a cidade de Jaboticabal cursar o ensino médio, onde também aos 17 anos ingressou na então Faculdade de Agronomia, que anos depois se transformaria em um dos institutos da Unesp. Mais tarde tornou-se professor da mesma instituição. Lembra, com carinho, do dia da inauguração da Unesp. Estava na cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, há quase 37 anos, quando o governador Paulo Egydio Martins anunciou a criação da terceira universidade pública em São Paulo - no começo uma fusão de 14 institutos já existentes.  

Durigan fez mestrado, doutorado e livre docência em agronomia, e pesquisou a área de ervas daninhas. Nenhum dos três filhos seguiu sua profissão - são advogados. Nunca se imaginou reitor da universidade em que estudou a vida toda. No entanto, agora, de posse do cargo, aposta que a Unesp, a caçula das universidades paulistas, em até duas décadas estará no mesmo patamar da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais respeitadas da América Latina.
A Unesp conta com cerca de 3.500 professores, mais de 45.000 alunos de quase 300 cursos de graduação e pós-graduação, em 24 cidades do estado de São Paulo. Durigan diz que um dos seus objetivos será agregar características de sustentabilidade na nossa infraestrutura para os projetos novos e reformas. "Vamos coletar água de chuva, instalar células que captem energia solar. Queremos prédios com projetos que permitam boa ventilação para não ligar o ar condicionado nas áreas comuns. Boa luminosidade natural, para não acender as luzes o dia todo."
Segundo ele, a universidade precisa ser exemplo. "Demoramos 40 ou 50 anos para ser cobrados no quesito acessibilidade porque tem poucas pessoas no contexto geral da população que precisam da acessibilidade. Por isso a cobrança veio ao longo de um tempo maior. Já a sustentabilidade interessa a população toda. A cobrança vai ser mais pesada em curto espaço de tempo. A universidade tem de antever isso e vir como exemplo."

A Unesp era uma universidade desacreditada, ninguém botava fé no modelo. Na época a USP era a senhora USP, a Unicamp era nova, mas já tinha quase 20 anos e já era estruturada, e a Unesp era uma bebezinha."
Julio Cezar Durigan, reitor da Unesp.
Novos cursos de engenharia

A Unesp está implantando 11 cursos de engenharia em parceria com o governo estadual. Durigan diz que a universidade deve também passar por um processo de internacionalização. "Temos um projeto que vai investir 7,5 milhões neste ano para isso. Não dá para deixar a Unesp ‘separadinha’ do restante do mundo." Durigan diz que a meta é mandar para o exterior cerca de 700 alunos da Unesp por ano. "Temos convênio com 235 universidades de 50 países. Vamos oferecer 60 disciplinas em inglês na pós e na graduação."

O reitor diz que para o universitário, ir para o exterior é experiência de vida e oportunidade de conhecimento. Ele classifica o programa de intercâmbio do governo federal, Ciencia sem Fronteiras, como um "divisor de águas". "Muitos meninos bons ficarão no exterior? Sim, vai ocorrer, mas vai ter um retorno grande de estudantes que voltarão para o Brasil com outra visão. O país vai ganhar mais do que perder."

Unesp em números
Cidades 24
Faculdades e institutos 34
Cursos de graduação 179
Cursos de pós-graduação 118
Alunos de graduação 35.929
Alunos de pós-graduação (stricto sensu) 10.705
Professores 3.543
Fonte: Anuário estatístico 2011


Desafio maior
Outro desafio será dar mais visibilidade à universidade. Segundo Durigan, a Unesp era uma universidade desacreditada. "Na época a USP era a senhora USP, a Unicamp era nova, mas já tinha quase 20 anos e já era estruturada, e a Unesp era uma bebezinha. E agora em 36 anos a Unesp está na cabeça dos rankings, como as melhores do mundo."

Ele destaca que a Unesp é a primeira entre as maiores (com mais de 100 cursos) avaliadas no Enade [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes], a segunda no Guia do Estudante com maior número de cursos estrelados, é a segunda com maior número de doutores formados por ano e programas de pós-graduação.
"Em muitos quesitos já passamos a Unicamp que estava sempre na nossa frente. E a Unesp dentro de 10 e 15 anos, talvez seja a primeira do Brasil, vai estar disputando com a USP. Nós crescemos muito rapidamente e ganhamos qualidade."

Fonte: G1.com

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