Professores, funcionários e alunos da USP completam dois meses em greve
Nesta segunda, poucas pessoas circulavam pela Cidade Universitária.
Em algumas unidades, as aulas do 1º semestre ainda não acabaram.
No
prédio dos cursos de história e geografia da USP, o primeiro semestre
ainda não terminou, e a greve de professores, funcionários e estudantes
já dura dois meses (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Paradas desde 27 de maio, as três categorias da USP, assim como acontece na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp), reivindicam a derrubada do congelamento de salários proposto pelos reitores das três instituições, que negociam com os sindicatos por meio do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp).
Na manhã desta segunda, pouca gente circulava os prédios da Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, onde fica a reitoria. Como a adesão à greve é parcial, o motivo do esvaziamento variava: em algumas unidades, os estudantes aproveitam a última semana de férias antes do iníco do segundo semestre. Em outras, porém, o primeiro semestre ainda não terminou, e as notas ainda não foram lançadas no sistema que gerencia os cursos da graduação.
Procurada pelo G1, a Pró-Reitoria de Graduação informou que "é reduzido o número de professores que ainda não entregaram as notas" dos estudantes no primeiro semestre. O prazo final para essa entrega era o dia 6 de julho, mas algumas professores decidiram segurar as notas para pressionar pela negociação da pauta da greve. Mesmo sem o término do primeiro semestre, o período de matrícula do segundo, que é feito diretamente pelo sistema on-line, foi mantido com as mesmas datas. Nesta semana acontece a última etapa, de retificação da matrícula.
"Foram tomadas as devidas providências, por parte da Pró-Reitoria, para que as matrículas nas disciplinas não sejam prejudicadas. Com essa medida, os alunos podem retornar normalmente às aulas", afirmou a Pró-Reitoria de Graduação, em um comunicado.
Acima, prédio central da ECA; abaixo, imagem da FAU; à direita, piquete de funcionários no DTI (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), até as luzes estavam apagadas em partes do prédio onde ficam as salas de aula dos cursos de história e geografia. Na frente da maioria das salas de aulas e no meio da rampa que dá acesso ao primeiro andar do prédio, uma montanha de cadeiras simbolizava o movimento.
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), os professores Guilherme Wisnik e Giselle Beiguelman, do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto, afirmaram que a unidade aderiu à paralisação e ainda não lançou as notas do primeiro semestre. Ainda segundo eles, na próxima semana, quando deveriam começar as aulas do segundo semestre, os professores da faculdade planejam uma série de palestras e aulas públicas.
"A greve dos professores da FAU é um pouco diferente da greve dos professores da USP", explicou Wisnik. Segundo o professor, além da demanda do reajuste salarial, os docentes dos cursos de arquitetura e urbanismo e de design pedem ainda a "transparência das estruturas de poder na universidade".
Na Escola de Comunicações e Artes (ECA), o movimento também era pequeno nesta segunda. Na Seção de Alunos, o balcão de atendimento estava fechado e os funcionários disseram que mantinham apenas os serviços emergenciais. Uma aluna esteve no local para retirar um documento que solicitou pela internet. O prédio do Departamento de Jornalismo e Editoração tinha apenas uma pessoa no fim da manhã: um segurança terceirizado. Segundo ele, duas funcionárias mantêm frequência no local e, até a semana passada, a única atividade ali eram as aulas do Projeto Redigir, um curso popular de redação e cidadania mantido pelos estudantes de jornalismo da USP.
Em pelo menos dois pontos do campus no Butantã, funcionários do Sintusp fizeram piquete durante o dia: em frente ao prédio onde fica a antiga reitoria e em frente ao prédio do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI). No DTI, mais de 40 funcionários estavam de braços cruzados em frente à entrada por volta das 12h desta segunda.
Eles afirmaram que, desde o início da greve, pararam a maioria das atividades, mas mantiveram os serviços emergenciais de tecnologia da universidade. Mas, depois de um ofício ter sido divulgado pela administração geral da USP, na semana passada, orientando os diretores das unidades que a folha de ponto dos grevistas tenha registrados os dias não trabalhados, eles decidiram cortar os serviços. Na segunda, segundo os funcionários, apenas quatro deles permaneceram dentro do prédio do DTI para guardar os equipamentos no local, por motivos de segurança. "Aqui tinha um acordo, estava funcionando, os trabalhadores se encontravam em greve, mas os serviços emergenciais estavam funcionando", explicou Nelli Wada, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).
A assessoria de imprensa da USP afirmou que o ofício não tinha como objetivo ordenar o corte de ponto dos funcionários e professores em greve, mas que respondeu a uma demanda dos dirigentes da unidade, que não sabiam como deveriam lidar com a folha de ponto.
O professor Flávio Beneduce, da Poli, discorda do reajuste zero, mas acha que a greve não é efetiva (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Na Escola Politécnica (Poli), onde há pouca tradição de adesão a movimentos grevistas, a maioria dos professores já concluiu o semestre, e os únicos estudantes circulando por alguns prédios eram alunos de um curso a distância de MBA de engenharia de segurança do Departamento de Minas e de Petróleo. "De manhã tivemos aula e à tarde teremos prova", afirmou Ronaldo Pereira Jorge Júnior, de 34 anos, matriculado no curso.
O MBA é pago e está ligado ao Programa de Educação Continuada da Poli (Pece). Três alunas do curso afirmaram que, em maio, quando se falava na greve iminente de professores, alguns estudantes questionaram o que aconteceria com os módulos e o calendário. "Mas disseram que não se aplicava a nós", explicou uma das estudantes ao G1.
Flávio Beneduce, professor de termodinâmica do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materias, disse que tem ido à universidade diariamente e que concluiu o semestre de aulas seguindo o calendário original. "As minhas notas eu lancei [no sistema]", afirmou ele, explicando que a decisão de não entrar em greve foi coletiva entre os professores do seu departamento. Ele diz, porém, que acha justa a reivindicação dos professores e funcionários. "Claro que não concordo [com o reajuste zero], e espero que a reitoria esteja fazendo alguma coisa para resolver o problema. Por outro lado, vejo que a greve é pouco efetiva. Deveria ter uma atuação mais política, no corpo a corpo", afirmou ele.
Na Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA), os únicos estudantes de graduação circulando pelo prédio eram membros do centro acadêmico ou da empresa júnior. Segundo uma delas, as aulas ocorreram normalmente e a greve não afetou o calendário. Nesta segunda, a maior parte das pessoas no prédio participavam de um evento sobre teoria dos jogos e das aulas de um cursinho popular realizado no local.
Fonte: G1.com
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