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terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Dança do Mercado

Um dado novo pode colocar em xeque a cultura do bacharelado, ainda dominante no Brasil: estão faltando profissionais qualificados para ocupar cargos nas mais diversas áreas, muitas delas técnicas. Por outro lado, oferecer um leque mais abrangente de formação profissional e específica pode abrir uma nova fonte de receita para as instituições. A exemplo do que ocorre em outros países onde é cada vez maior a flexibilização da educação formal, valorizando mais as habilidades e competências do que o diploma, cresce no Brasil o espaço para cursos técnicos profissionalizantes de ensino médio e superior e mesmo para cursos de certificação ou de extensão, feitos de forma presencial ou a distância. Com isso, as instituições de ensino superior podem buscar novos caminhos - o segredo é ficar de olho nos dados econômicos e descobrir em que áreas estão as demandas para a criação de novos cursos.

Embora o bacharelado ainda ocupe posição de destaque em termos de reconhecimento social e profissional, demandas do crescimento econômico têm contribuído para que ocorra uma mudança no perfil de formação no Brasil, impulsionando a procura por cursos que fogem do bacharelado. Uma pesquisa feita pela FGV, com base em dados da Pnad (IBGE), mostrou que em 2004 cerca de 12,5% dos jovens em idade escolar concluíam cursos de qualificação profissional - de nível médio ou superior, mas profissionalizante. Em 2010, esse número subiu para 21,8%, quase dobrando o número de formados nesta modalidade de ensino.

Essa tendência também é confirmada pelo Censo da Educação Superior, feito pelo Inep. Segundo os dados do censo, o total de cursos superiores de tecnologia, por exemplo, subiu de 636, em 2002, para 4.355 em 2008, um aumento de quase 600%. A oferta de graduações feitas a distância cresceu ainda mais: passou de 46 cursos, em 2002, para 647, em 2008, um crescimento de 1.300%. Já os cursos de graduação presencial nem chegaram a dobrar: passaram de 14.399, em 2002, para 24.719, em 2008.

A preferência pelo bacharelado é intrínseca à cultura brasileira, que sempre valorizou o "doutor" que possui um diploma de ensino superior especialmente em engenharia, medicina ou direito, em detrimento daqueles que exerciam profissões técnicas. E essa valorização dos bacharéis sempre foi acompanhada por salários mais altos. Hoje, com a falta de técnicos no mercado, esse profissional bem formado tem conseguido salários equivalentes ou até melhores do que o de muitas pessoas que tiveram uma formação abrangente no bacharelado, afirma Marcos Facó, superintendente de marketing da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Com isso, a tendência é de que os cursos profissionais tendam a crescer", aposta.

A ênfase no bacharelado, no entanto, não chega a fazer com que o país tenha um excesso desses profissionais. Ao contrário, há um déficit educacional generalizado no Brasil, o que torna insuficiente o número de profissionais qualificados no mercado. Os cursos profissionalizantes são apenas uma resposta mais rápida e focada para esse déficit, que fica evidente com o crescimento da importação de mão de obra.

A Coordenação Geral de Imigração (GGI), do Ministério do Trabalho, divulgou uma pesquisa segundo a qual o Brasil concedeu 11.530 autorizações de trabalho a estrangeiros no primeiro trimestre deste ano, um volume recorde para o período. Nos últimos cinco anos, foram quase 180 mil os estrangeiros que receberam visto para trabalhar no Brasil. Desses, 90% têm diploma universitário, ensino médio completo ou algum grau de especialização técnica. A pesquisa aponta ainda que as concessões de visto de trabalho a estrangeiros no Brasil crescem a uma média anual de 17%.

O estudo revela uma falta de mão de obra especializada, em especial nas áreas de indústria, infraestrutura, energia, petróleo e gás. Rio de Janeiro e São Paulo foram os estados que mais receberam esses profissionais estrangeiros. No Rio 62% deles vieram para trabalhar em plataformas que exploram petróleo e gás (a íntegra da pesquisa pode ser acessada no link www.trabalho.gov.br/observatorio/trabalhadores_estrangeiros_final_maio_2010).

Na visão de Roy Mantelarc, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e pesquisador da qualidade da gestão nas empresas públicas e privadas do Brasil, o país vive uma falta generalizada de profissionais qualificados - em todos os níveis, do engenheiro ao pedreiro -, com picos de demanda em certos setores. Ele explica que há miniapagões de mão de obra localizados, como, por exemplo, o atual no setor de construção civil, que ocorre devido à execução de muitas obras ao mesmo tempo: as da Copa, das Olimpíadas, as do recente boom imobiliário etc. O mesmo ocorre, de tempos em tempos, na área de informática: quando surge uma linguagem nova, é preciso qualificar muita gente para dar conta da demanda.

Mas não só os setores ligados à indústria, à construção civil ou à tecnologia da informação vivem falta de profissionais qualificados. De acordo com Luiz Edmundo Rosa, diretor de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos e vice-presidente de Desenvolvimento Humano e Parcerias Educacionais da Anima Educação, no Rio Grande do Sul faltam profissionais que atuem no setor agrícola. "A produção cresceu, a exportação aumentou. E onde estão as pessoas que trabalham nesse setor?", questiona Rosa para explicar que o mercado é formado por uma espécie de vasos comunicantes. "Muitos engenheiros agrônomos foram convertidos em engenheiros aeronáuticos porque houve uma grande demanda da Embraer", exemplifica. Com isso, esse profissional ficou em falta no sul do país.
Para Rosa, os índices educacionais vêm crescendo no Brasil, mas a um ritmo lento, incapaz de repor os profissionais que se aposentam e, ainda, suprir a necessidade cada vez maior de profissionais qualificados.

Asolução para o problema passa por rever a cultura educacional brasileira, introduzindo uma mentalidade mais flexível a respeito da formação profissional, acredita Marcos Formiga, professor da UnB na área de Estudos do Futuro no Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). "O mundo vive outro paradigma e nós estamos atrasados. Os países desenvolvidos usam a educação formal cada vez da maneira mais flexível possível. Cresce no mundo inteiro a educação não formal, em que o diploma é apenas uma modalidade de formação, o curso superior não é obrigatório, pode-se optar pelo técnico ou mesmo por certificações", diz.

Para Formiga, o bacharelado tradicional é "uma rigidez" e deve-se apostar em outras formas de qualificação, como os tecnólogos e mesmo o ensino a distância. "Em outros países, a educação presencial e a feita a distância convivem harmonicamente." Segundo ele, o mundo inteiro já valoriza os cursos superiores de tecnologia e aposta mais na certificação do que na diplomação. "Há uma tendência, que está chegando também ao Brasil, de se valorizar mais as habilidades e competências do que o diploma", diz.

Essa tendência se reflete nos números do ensino superior. Segundo dados do Censo do Ensino Superior, o número de estudantes ingressos na educação tecnológica passou de apenas 38.386, em 2002, para 218.843, em 2008. Crescimento que supera em muito, percentualmente, o dos ingressos na graduação presencial, que foram 1.205.140, em 2002, e 1.505.819, em 2008. Destaca-se o papel das instituições privadas nesta mudança do perfil educacional, já que dos 218.843 ingressos na educação tecnológica em 2008, 194.484 (quase 90%) se matricularam em instituições de ensino superior privadas.

O governo também percebeu a necessidade que o mercado tem de profissionais mais técnicos e passou a investir neste sentido: consolidou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que reservam 30% de suas vagas para tecnólogos, e investiu nas redes estaduais por meio do programa Brasil Profissionalizado.

Os cursos superiores de tecnologia constituem um caminho - talvez o principal - para suprir a falta de mão de obra especializada no mercado. Luiz Edmundo Rosa explica que toda empresa precisa de muita gente com capacitação técnica, que vá trabalhar sem se preocupar com a pesquisa. São pessoas com currículo mais objetivo e centrado na prática. Para essa exigência do mercado, o ideal é o tecnólogo e não o bacharel. "Menos de 1% faz pesquisa e impõe aos outros 99% um curso que nada tem a ver com o que procura de fato. Em engenharia, por exemplo, só 10% dos formados vão trabalhar em sua área de formação, como engenheiros", diz Rosa.

Diante da necessidade de tecnólogos, a estratégia das instituições privadas, segundo Roy Mantelarc, deveria ser tentar descobrir, o tempo todo, onde está a demanda: se a construção civil que vai precisar de mão de obra; se o setor agropecuário que está ficando interessante; se a mineração está em alta, já que o Brasil está virando exportador de produtos minerais; se a economia está crescendo, o varejo e tudo o que for ligado a consumo tende a crescer em contrapartida e assim por diante. Só antenada aos rumos da economia é que a instituição poderá oferecer os cursos mais requisitados.

De acordo com Mantelarc, segmentar os cursos superiores de tecnologia pode ajudar a conseguir mais alunos. Por exemplo: se a instituição já tem um curso de turismo, pode criar cursos de turismo de aventura, de turismo esportivo, de turismo em cruzeiros e várias outras alternativas. Um problema que pode surgir com essa tentativa, segundo Mantelarc, é a possível falta de alunos no decorrer do curso. A solução, de acordo com o professor, seria trabalhar com disciplinas compartilhadas para cursos diferentes. Alunos de turismo de aventura, por exemplo, poderiam cursar algumas disciplinas em conjunto com os de ecoturismo ou com os alunos de marketing.

Otimizar as disciplinas, de acordo com Mantelarc, seria não só uma forma de viabilizar cursos muito segmentados, mas também de estimular a mistura de pessoas com pensamentos diferentes, um dos papéis da universidade. "Essa integração reduz os custos e é boa para a formação", afirma Mantelarc.

Investir no ensino técnico profissionalizante não necessariamente significa somente criar mais turmas de tecnólogos. Há também uma enorme demanda por profissionais de nível médio. Para Marcos Facó, as instituições de ensino superior privadas poderiam passar a oferecer cursos técnico-profissionalizantes de nível médio. "Teria mercado", afirma Facó. Impedimentos na lei não há. A instituição só precisa obter autorização prévia da secretaria estadual de Educação. Rosa também vê grande necessidade de mais cursos técnicos de nível médio. "Sem eles não conseguiremos resolver a grande demanda por profissionais da área técnica que temos." O diretor da ABRH explica que todas as empresas têm formato piramidal, precisam de muitos técnicos de nível superior e também de nível médio.

Os tecnólogos e os cursos técnico- profissionalizantes de nível médio constituem um caminho para sanar a falta de profissionais qualificados no mercado, mas não são o único. A certificação - e os cursos que podem preparar os interessados em obter esses certificados - é uma estratégia crescente. "O mundo hoje está mais para a certificação do que para a diplomação. Valoriza mais as habilidades e competências. E essa tendência está chegando ao Brasil", diz Formiga. A certificação tem o papel de proporcionar, a quem sabe fazer, o reconhecimento dessa habilidade, não por meio da educação formal, mas com exames de qualificação que comprovem dominar aquela competência.

A Impacta, por exemplo, já surgiu no mercado com a meta de olhar as tendências e montar cursos de certificação que atendam àquelas demandas específicas. Oferece mais de 300 cursos diferentes atualmente, com formação de curto prazo. Em geral, são cursos de 40 horas que podem ser de nível inicial, médio ou avançado.

O professor Valderes Fernandes Pinheiro, coordenador-geral da Faculdade Impacta Tecnologia (FIT), explica que a faculdade surgiu em seguida, como consequência da certificação, por demanda de alunos que procuravam um conhecimento mais aprofundado depois de se capacitar em certa área e conseguir um lugar no mercado. Ainda assim, os cursos superiores de tecnologia oferecidos pela Impacta seguem a mesma estratégia inicial da empresa: fornecem certificações ao longo da formação, à medida que o aluno conquista certa competência, o que garante uma inserção - ou uma promoção de cargo - ainda mais rápida no mercado de trabalho.

Se a meta é formar profissionais para o mercado, com cursos que garantam a rápida conquista de um emprego, uma solução eficiente é criar cursos em parcerias com empresas. Pinheiro explica que um caminho é a instituição ceder a infraestrutura e permitir que as empresas treinem os próprios alunos com instrutores ou consultores das áreas nas quais necessitam de profissionais. "É um programa ligado à faculdade para melhor formar o aluno. O treinamento é feito em cerca de seis meses e permite aos estudantes conseguir emprego já nos primeiros semestres do curso", diz Pinheiro.

Outra alternativa parecida é criar universidades corporativas. Segundo Rosa, as empresas não podem apenas ficar se lamentando pela falta de profissionais qualificados, precisam ter uma postura mais ativa. "Há casos fantásticos no Brasil em que a empresa vai até a universidade e trabalha em parceria para construir cursos sob medida para suas necessidades", diz Rosa. Segundo ele, esses cursos podem ser criados em todos os níveis, mas a grande necessidade está no superior.

Tão importante quanto estar atento a novas modalidades de cursos para sanar a falta de profissionais qualificados no mercado é pensar em outras formas, além da presencial, para oferecer esses cursos. A Educação a Distância (EAD) tem ganhado cada vez mais espaço e importância. Segundo uma pesquisa elaborada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), órgão do Conselho Gestor da Internet no Brasil, quase 63 milhões de pessoas eram usuárias de internet no Brasil em 2009. Dessas, 11% haviam feito algum curso on-line nos três meses anteriores à pesquisa - quase sete milhões de pessoas. A pesquisa não especificava o nível dos cursos: se livre, profissionalizante, de graduação, especialização etc.

Do total de usuários, ainda de acordo com o estudo mencionado acima, 71% disseram usar a internet para treinamento e educação em geral e 16% para buscar informações sobre cursos técnicos a distância.

Para Formiga, a EAD já tem papel essencial na formação dos profissionais de que o país precisa. "A educação moderna dispensa horário, espaços e currículos rígidos. A celeridade dos tempos modernos exige que a escolaridade seja rápida, avançada e adaptada às necessidades locais e pessoais de tempo e espaço, por isso o sucesso tão grande da EAD", diz Formiga. Segundo o vice-presidente da Abed, é na educação corporativa que a EAD tem sido mais bem aproveitada e alcançado os melhores resultados e práticas de sucesso.

ALÉM DO BACHARELADO

Veja o que é necessário para que a instituição superior ofereça outros cursos

Livres Não há restrições quanto ao tema ou à carga horária e podem ser oferecidos por qualquer instituição de ensino superior sem a necessidade de aprovação ou de fiscalização pelo Ministério da Educação. Não precisam ter qualquer relação com as áreas de conhecimento das graduações e pós-graduações oferecidas pela instituição de ensino.
Extensão Os cursos de extensão permitem à universidade socializar e democratizar os conhecimentos de suas diversas áreas. Geralmente com carga horária curta, envolvem professores e alunos da instituição, articulando o ensino e a pesquisa. Podem ser teóricos ou práticos, mas sempre associados ao ensino que mantém a graduação e a pós-graduação na instituição e têm o papel de dar assistência às necessidades econômicas e sociais da comunidade do entorno e de complementar os conhecimentos de seus próprios estudantes em determinadas áreas. Os cursos de extensão não precisam de autorização do MEC para funcionar.
Técnico-profissionalizantes Podem ser oferecidos por qualquer instituição de ensino, desde que ela obtenha autorização prévia da secretaria estadual de Educação. Como os cursos técnicos de nível médio privados são administrados pelos estados, cabe às secretarias estaduais de Educação a autorização, a regulamentação e o reconhecimento.
Certificação As certificações servem para assegurar que o aluno recebeu conhecimento e tem competência para atuar na área cursada. Não há restrição educacional para a matrícula no curso, ou seja, não se exige um nível de escolaridade mínimo. Podem ser cursos isolados ou como etapas dos cursos superiores de tecnologia (tecnólogos). Nesse caso, os alunos vão recebendo, ao longo do curso, certificações correspondentes às áreas em que já foram capacitados.
Superiores de tecnologia Os centros universitários e universidades têm autonomia para abrir os cursos e devem pedir reconhecimento até a primeira turma completar a metade do curso. As outras instituições devem pedir autorização para a abertura.

ONDE ESTÁ O APAGÃO

Indústria, infraestrutura, energia, petróleo e gás Estudo da Coordenação Geral de Imigração (GGI), do Ministério do Trabalho, mostra que falta mão de obra nessas áreas e revela que o Brasil concedeu 11.530 autorizações de trabalho a estrangeiros no primeiro trimestre deste ano, um volume recorde para o período.
Construção civil e setor imobiliário Devido à execução de muitas obras ao mesmo tempo, especialmente as relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas a serem realizadas no Rio de Janeiro em 2016, esses setores estão aquecidos e demandam mão de obra qualificada de todos os níveis.
Informática É um setor que constantemente demanda novos profissionais e quando surge uma linguagem nova é preciso qualificar muita gente para dar conta da demanda.
Agrícola Com o aumento da produção e das exportações faltam profissionais na área, principalmente no sul do país. Por conta disso, muitos engenheiros agrônomos foram convertidos em engenheiros aeronáuticos porque houve uma grande demanda da Embraer.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O que Fazer Antes de Escolher a Carreira

O pedagogo Silvio Bock (foto ao lado), diretor do Nace, empresa de orientação profissional, já ajudou milhares de jovens no difícil momento de decisão por um curso superior.
O método da abordagem sócio-histórica, criado por ele, leva em conta a evolução da sociedade, das instituições e das tecnologias. E emprega um processo que contextualiza as necessidades e anseios da adolescência com a realidade do mercado e dos campos de trabalho.

Confira a entrevista com o consultor, para o Jornal Folha de S. Paulo, onde fala sobre as profissões recém-criadas:

FOLHA - Como surgem as novas profissões?
SILVIO BOCK - Mercado de trabalho é uma relação concreta de oferta e procura. Campo de trabalho é o potencial de trabalho que uma dada área, não necessariamente convertida em mercado, possui. E aí estão incluídos os campos já conhecidos e os campos a conhecer. Ou seja, estou dizendo que as profissões e ocupações têm movimento, elas não são estáticas no tempo. Se as profissões quiserem continuar existindo, logicamente elas têm que criar novos campos de trabalho, novas possibilidades de intervenção ­ o que as profissões tradicionais fazem com muita percepção da realidade, novas possibilidades. O direito, por exemplo, área mais tradicional do que esta não existe. E você tem áreas novas como o direito internacional, o direito ambiental, o direito do consumidor que é muito recente, os direitos difusos que existem hoje e são estudados na USP, quer dizer, as profissões são capazes de criar novos campos de trabalho. Isso é importante dizer, elas não surgem do nada essas necessidades, esses novos cursos. Provavelmente elas já existem na realidade e as instituições captam essa existência, ou uma tendência e acabam colocando isso de uma maneira formalizada na universidade, ou num curso técnico, ou num curso livre.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Material de Estudos para o Novo ENEM 2010

Aqui você encontrará quase tudo que precisa para faturar o ENEM 2010. E o que é melhor: tudo de graça!

Siga o roteiro:

1)   Baixe, imprima, encaderne e estude as 04 apostilas do encceja, pois elas vão lhe dar o viés do examinador:

a)    LINGUAGENS;

b)    MATEMÁTICA;

c)    CIÊNCIAS DA NATUREZA;

d)    CIÊNCIAS HUMANAS.

2) Pegue as duas apostilas da Técnica do Chute, pois elas vão lhe dar o conhecimento necessário para combinar o conhecimento tradicional com as modernas Técnicas de Chute:

a) Chute para vestibulares e concursos;

b) Chute específico para o ENEM.

3)   Treine REDAÇÃO:
No NOVO ENEM é pedido uma redação dissertativa-argumentativa.
         Como o mínimo é 8 e máximo é de 30 linhas, faça uma redação de 20 a 25 linhas. 8 linhas é muito pouco. 30 linhas é muito grande e vai dar muito trabalho para os examinadores. 04 parágrafos de com cerca de 06 linhas cada ou 05 parágrafos de 05 linhas está ótimo.

Capriche na letra, seja claro e direto. Lembre-se: os examinadores vão corrigir cerca de quatro milhões de redação e com a pressão de soltar a nota rapidamente. Dificilmente se darão ao trabalho de decifrar redações incompreensíveis. Se decifrarem, provavelmente darão uma nota de má vontade, mais baixa.

Sugestão de prioridade:

1)   leia o tema da redação;

2)   faça as 30 primeiras questões de português;

3)   faça as 30 primeiras questões de matemática;

4)   Se a redação for contar pontos (muitos) esboce a redação;

5)   Analise e decida se termina a prova ou a redação primeiro.

Nota: se não precisar dos pontos da redação, talvez a melhor estratégia seja dar atenção total à prova objetiva.



4)   Faça as PROVAS ANTERIORES do velho ENEM

5)   Treine o tempo, mais ou menos 2,5 minutos por questão. Dá uma página a cada 8 minutos. Geralmente cada página tem três ou quatro questões. Tente fazer as questões fáceis com menos tempo. Se for rápido demais, perderá eficiência. Se for lento, faltará tempo. Treine sua velocidade com a precisão de um cronômetro.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

8 Motivos para Fazer (Bem) o Enem

Foto: EnemApesar de nem todas as universidades terem aderido ao Enem como critério único de seleção, grande parte o utiliza ao menos como parte do processo seletivo. "E esse, por si só, já seria um bom motivo para prestar a prova com seriedade", afirma Heliton Ribeiro Tavares, diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

Até o ano passado, muitos estudantes, para evitar o desgaste de mais uma prova, faziam apenas a parte que lhe interessava do Enem. Se a redação não contava pontos para o ingresso na universidade almejada, por exemplo, era deixada em branco. Resultado: a nota do Enem não refletia os conhecimentos reais daquele aluno e, no seu conjunto, não poderia ser considerada um indicador de qualidade confiável da Educação das escolas e dos municípios. Mas isso deve mudar em 2009. "Os estudantes terão de fazer a prova com muito mais seriedade", afirma o diretor do Inep.

Isso se deve não só ao fato de o Enem agora ser o único critério de seleção de 26 universidades federais e de 500 faculdades particulares de todo o país, mas também, a uma série de outros motivos. É muito importante fazer a prova dando o máximo de si porque a nota do Enem constitui o mais importante indicador de qualidade do Ensino Médio brasileiro, tanto para escolas públicas como para as privadas. Especialistas contestam os rankings das escolas divulgados todos os anos, justamente porque muitos alunos não fazem a prova ou não a fazem com a dedicação necessária. Portanto, levar a sério o Enem é uma maneira de ter um indicador de qualidade confiável das escolas. Além disso, serve como autoavaliação para cada um dos alunos e pode ser um "simulador" do vestibular.

Se você vai prestar o Enem, leia as dicas abaixo para entender por que ele é um exame tão importante. E, quando chegar a prova, é importante ter uma boa alimentação, dormir bastante e resolver as questões com tranquilidade. Vai ser bom para você, bom para a sua escola e bom para o Brasil.

Promoção Cultural Enem 2010‏

 
 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Saiba Como Encarar a Reta Final do Vestibular


É dada a largada, nesta hora, só dá para contar com as três principais palavras que fazem parte do vocabulário do vestibulando: estudo, disciplina e organização.
Professores, pedagogos e nutricionistas ouvidos , dão dicas de como o estudante deve se preparar, aumentando suas chances de ser aprovado nos processos seletivos.
"Descanso, nesta fase, é fundamental", aconselha Maria Irene Maluf, psicopedagoga e presidente da ABP (Associação Brasileira de Psicopedagogia). "É hora de tirar dúvidas, de estudar aquilo que não se sabe tanto. O vestibulando tem que se dedicar, mas tem que relaxar também. Afinal, a vida não pára por conta dos exames."
A colaboração dos pais também é importante neste período, de acordo com Ernesto Pirner, coordenador da unidade Sergipe e professor de biologia do Anglo Vestibulares. "Alguns pais são omissos, outros ameaçam o estudante, dizendo que, se ele não passar, terá que trabalhar no ano que vem. De nada adianta. Os pais têm que oferecer suporte neste momento de insegurança", afirma.
E se, mesmo com tanto esforço, o vestibulando não conseguir uma vaga na universidade? "Quando passa pela cabeça "eu poderia ter estudado um pouco mais", pode ter certeza de que o aluno não fez o que teria que ser feito", diz Ana Lúcia Araújo Zaroni Motta Parro, coordenadora do ensino médio da Escola Pueri Domus.
"Mas se ele cumpriu sua responsabilidade, que é se preparar, agregar conhecimento e buscar informações sobre o mercado em que quer atuar, tem muitas chances de ser aprovado", analisa. "Quem não passar terá que repensar a sua escolha para saber o que quer."

Dicas

Confira algumas dicas para encarar os vestibulares:
- organize seu tempo e faça um cronograma de estudo. Divida o tempo entre as aulas, a revisão e os exercícios. Isso lhe dará mais segurança para enfrentar as provas
- estude o máximo que puder, mas, quando bater o cansaço físico e mental, feche o livro e vá relaxar
- escolha lugares tranqüilos e silenciosos para estudar
- verifique nos sites das universidades as provas de anos anteriores para saber como é o estilo de cada uma
- treine o esquema de redação. Descubra argumentos e saiba como defendê-los
- leia jornais para se manter atualizado
- lembre-se: você não precisa saber de absolutamente tudo
- uma alimentação equilibrada neste momento é fundamental para fornecer energia para o corpo e cérebro. O ideal é consumir, em quantidades moderadas, alimentos fontes de carboidratos, como pães, biscoitos, cereais, arroz, batata e macarrão
- beba muita água, em média, oito copos por dia
- durma bem. Com o corpo descansado, seu estudo renderá mais. Não tome estimulantes para se manter
acordado, eles só vão adiar a sensação de cansaço
- planeje a ordem das provas. A média de tempo para cada questão costuma ser de três minutos. Leia com atenção, resolva o que sabe e deixe o conteúdo que não sabe para o fim.

Dicas Vestibular - Interpretação de Textos no Vestibular


"Resolvi fazer as provas de interpretação de meus textos e não passei em nenhuma." Mário Prata

Escritor fala sobre a interpretação de seus textos no vestibular

Autor de 15 livros, o cronista Mário Prata teve uma de suas conclusões selecionadas recentemente pela coluna Frases da revista Veja: "Resolvi fazer as provas de interpretação de meus textos e não passei em nenhuma. Não entendi nada." Ele se referia aos gabaritos dos vestibulares da PUC de Campinas de 1997, da PUC de Curitiba de 1999, e de Medicina de Ribeirão Preto, também de 99. São textos diversos – todos com o humor característico e a linguagem coloquial, sincera, que fazem o sucesso de Prata como escritor. O problema é que o autor, pai da matéria, não conseguiu acertar nada.

Até aí, normal – a língua portuguesa é complexa, dificílima e, por ter um currículo de péssimo ensino nas escolas, transforma-se em terror dos vestibulandos, que, viciados na decoreba, se contorcem nas interpretações de textos nas provas das faculdades. Lisonjeado e ao mesmo tempo indignado, Mário Prata escreveu ao ministro da Educação, em forma de crônica publicada no jornal O Estado de São Paulo, sobre as questões "insolúveis" aplicadas sobre outra crônica sua, "As Meninas-Moça", que caiu no vestibular 99 de Medicina de Ribeirão Preto.

A seguir, Mário Prata – cujo mais recente livro, Minhas Mulheres e Meus Homens (Editora Objetiva), está na lista dos mais vendidos de não-ficção – faz novo desabafo. Discorda do ensino de literatura nas escolas, questiona o formato das provas dos vestibulares e diz acreditar que cultura é algo "mais gostoso, prazeroso", que não pode ser medido em testes.

Por que a crônica "As Meninas-Moça" foi a que mais rendeu polêmica? Você teve contato com os elaboradores da prova?

Mário Prata - Na PUC - Campinas caiu um pedaço de uma crônica que saiu na IstoÉ; na PUC de Curitiba, era uma crônica sobre frases engraçadas retiradas de boletins de ocorrência de acidentes de carro. A prova de Medicina era a mais confusa. Era uma crônica sobre o fim do time de vôlei patrocinado pelo Leite Moça. Tinha uma pergunta se a minha expressão "esparramados em seios esplêndidos" era uma paráfrase, uma metáfase, uma paródia e não me lembro mais o quê. Que raios pode ser isso? Resolvi perguntar ao ministro Paulo Renato. Depois escrevi uma carta para a reitoria da faculdade, perguntando se quem elaborou a prova sabe o que é "larica" (gíria que define uma fome exagerada, vontade compulsiva de comer – especialmente depois que se fuma maconha). Não tive resposta da faculdade.

Na sua opinião, qual é o maior problema que esse tipo de prova nos vestibulares traz à tona?

Mário Prata - São dois problemas básicos. Primeiro, o fato de os clássicos, aqueles livros de sempre, caírem nas provas de literatura do vestibular. Todo mundo sabe que interpretações desses textos são como forçar o estudante a saber uma coisa no mesmo nível de saber o nome de formiga em latim. Envolve uma relação de decoreba, obrigação e exatidão. Acho que isso afasta o universitário da leitura. Está provado. O segundo problema é que o ministro Paulo Renato concorda comigo.

Quais seriam então as formas de avaliação, em português e literatura, nos vestibulares?

Mário Prata - Vestibular como um todo deveria ser para sacar se a pessoa tem a cabeça boa e vocação para determinada profissão ou não. Sou ignorante em educação. Mas acho que não deveria nem ter nota. O Hildebrando do Acre e o Sérgio Naya é que deveriam cair no vestibular. Textos sobre futebol, novelas, 

Você já prestou vestibular?

Mário Prata - Prestei e passei em Economia na USP, em 1967 (largou no último ano). Trinta e três anos depois, o vestibular está igualzinho. Até os autores, com raras exceções, são os mesmos. Esse negócio de química, física e biologia é coisa do começo do século. O jovem de 1967 não tem nada a ver com o de 2000.

E as iniciativas do governo como o Provão e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio, cujas notas valem pontos no vestibular), você acha que podem melhorar o nível do ensino e do vestibular?

Mário Prata - Acho que não adianta ficar fazendo Provão. A maioria dos jovens de hoje não lê e conseqüentemente não sabe escrever nada. É diferente da minha geração, que tinha acesso a um ensino público de qualidade. Essa qualidade tem de ser retomada no curso primário. Escrever é uma obrigação e ler deve ser um prazer. Não adianta querer sanar as coisas no vestibular. Fazer Provão é provar a incompetência do poder público. O problema do Enem é o fato de ser difícil convencer um aluno de 7 anos a tirar nota boa porque daqui a 10 anos ele vai ter de fazer vestibular.

Qual seria a melhor forma de ensinar o jovem que ler é um prazer?

Mário Prata - Tem outro problema: a categoria infanto-juvenil, que é um absurdo. Isso não existe. Ou é livro para criança ou para adulto, no máximo adolescente. Uma criança com 13 anos já é quase adulta. Uma menina de 14 anos está fazendo sexo. Os livros têm de falar dessa realidade, da vida. Esse tipo de livro é que tem de dar para a garotada. Importante: o cara que escreve deve saber escrever e ter o que escrever. Aí dá certo. Fica mais fácil os pais e as escolas colocarem na cabeça dos garotos, como fiz com meus filhos, que ler é uma viagem. Você só tem de entender o que o autor disse, não como disse, se é mesóclise ou a "PQP".

Seus livros são lidos por jovens? Por quê?

Mário Prata - Meus livros são mais lidos pelo público jovem, de 15 a 25 anos. Acho que é porque meu texto é fácil, bem-humorado. É uma técnica de escrever para ser lido. Tenho de ser lido porque eu vivo disso. Tem gente que escreve para não ser lido. Não conheço nenhum médico que opere para que o paciente morra, engenheiro que faz ponte que cai. O ato de escrever é um ofício como qualquer outro.

Você tem 15 livros publicados e está escrevendo outro. Como se tornou escritor e sobre o que é seu novo livro?

Mário Prata - O tema do meu novo livro ainda não posso adiantar. Será lançado em outubro. Larguei Economia e meus colegas de faculdade estão todos no poder. Fazer aquele curso foi uma coisa meio metido a besta. Eu morava em frente ao jornal de Lins (interior paulista, onde Prata nasceu) e vivia lá. Comecei no jornalismo com 14 anos escrevendo coluna social. Escrevia tudo errado. Fui aprender na marra. Tudo que eu fiz até hoje, escrevendo, foi crônica – mesmo quando escrevi para teatro. Minha formação literária foi com os cronistas da época: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Millôr, Estanislau Ponte Preta e Nelson Rodrigues. Lia todos eles - maravilhosos - nos jornais. Depois de mais velho é que fui buscar os livros, me interessei por eles e os descobri. Em Lins não tinha livraria. E não tem até hoje – apesar de a cidade ter uma universidade.

Atualidades 52 - Urbanização em Países Desenvolvidos e Sub-Desenvolvidos


Os fatores atrativos da urbanização, em países desenvolvidos, estão ligados basicamente ao processo de industrialização em sentido amplo, ou seja, às transformações provocadas na cidade pela indústria, notadamente quanto à geração de oportunidades de empregos, seja no setor secundário, seja no setor terciário, com salários em geral mais altos. Essas condições surgiram primeiramente nos países de industrialização antiga, os países desenvolvidos. Nesses países, além das transformações urbanas, houve, como conseqüência da Revolução Industrial, também uma revolução agrícola, ou seja, uma modernização da agropecuária que, ao longo da história, foi possibilitando a transferência de pessoas do campo para a cidade, principalmente como resultado da mecanização da agricultura.
A urbanização que ocorreu nos países desenvolvidos foi gradativa. As cidades foram se estruturando lentamente para absorver os migrantes, havendo melhorias na infra-estrutura urbana – moradia, água, esgoto, luz, etc. – e aumento de geração de empregos. Assim, os problemas urbanos não se multiplicaram tanto como nos países subdesenvolvidos. Além disso, pelo fato de gradativamente haver um aumento nos fluxos de mercadorias e pessoas, o processo de industrialização foi também se descentralizando geograficamente. Como resultado, há nos países desenvolvidos uma densa e articulada rede de cidades.

Urbanização em Países Sub-Desenvolvidos

Já os fatores repulsivos são típicos de países subdesenvolvidos, sem indústrias ou com um baixo nível de industrialização. Estão ligados fundamentalmente às péssimas condições de vida existentes na zona rural, em função da estrutura fundiária bastante concentrada, dos baixos salários, da falta de apoio aos pequenos agricultores, do arcaísmo, das técnicas de cultivo, etc. Assim, há uma grande transferência de população para as cidades, notadamente para as grandes metrópoles, criando uma série de problemas urbanos. Tais problemas são resultado de um fenômeno urbano característico de muitos países subdesenvolvidos: a macrocefalia urbana.
Observando a tabela, podemos compreender o fenômeno.

É importante que as metrópoles de São Paulo, de Nova Iorque e de Xangai, que estão entre as cinco maiores do mundo, têm um percentual baixo em relação à população total e urbana de seus países. Porque o total da população do Brasil, dos Estados Unidos e da China é muito grande. Por outro lado a população do Uruguai e da Líbia é muito pequena. Por isso Montevidéu e Trípoli, cidades bem menores, têm um peso tão grande na população total e urbana de seus países. Assim a macrocefalia deve ser entendida como o resultado da grande concentração das atividades econômicas, principalmente dos serviços, e, portanto, da população em algumas cidades, que acabam se tornando muito grandes relativamente. Embora esse fenômeno ocorra também em países desenvolvidos, ele assume proporções maiores nos subdesenvolvidos. Nos países desenvolvidos, como o crescimento das cidades foi lento e bem-estruturado, o fenômeno não assumiu proporções tão grandes como em muitos países subdesenvolvidos, onde o crescimento das cidades foi, além de muito concentrado espacialmente, rápido e desordenado. A conseqüência foi uma série de problemas facilmente percebidos na paisagem urbana desses países.
O crescimento rápido de algumas cidades, que acaba culminando no fenômeno da metropolização, é resultado da incapacidade de criação de empregos, seja na zona rural, seja em cidades pequenas e médias, o que força o deslocamento de milhões de pessoas para as cidades que polarizam a economia de cada país. Acrescente-se a isso o fato de esses países, com raras exceções, apresentarem altas taxas de natalidade e, portanto, alto crescimento demográfico, e está formado o quadro que explica o rápido crescimento das metrópoles no mundo subdesenvolvido.
Mesmo o centro dinâmico dos países subdesenvolvidos não tem capacidade de absorver tamanha quantidade de migrantes, e logo começa a aumentar o número de pessoas desempregadas. Muitos desempregados permanentes, para poder sobreviver, acabam se refugando no subemprego, que é toda forma de trabalho remunerado ou prestação de serviços que funciona à margem da economia formal, compondo, por isso a economia informal ou subterrânea. É a economia que não aparece nas cifras oficiais, pois não tem nenhum tipo de registro e não recolhe nenhum tipo de imposto. Como os rendimentos, em geral, são muito baixos, mesmo para os trabalhadores da economia formal, muitos não tem condições de comprar sua moradia nem de alugar uma casa ou apartamento para viver. Assim. Proliferam cada vez mais as submoradias: favelas, cortiços, pessoas abrigadas debaixo de pontes e viadutos, quando não vivendo ao relento. Essa é a face mais visível do crescimento desordenado das cidades. Os números da tabela abaixo explicitam esse que é um dos mais graves problemas urbanos brasileiros e do mundo subdesenvolvido.
FAVELADOS
(em relação à população total da cidade
Belém
19,5%
Manaus
18,0%
Fortaleza
16,7%
Rio de Janeiro
16,1%
Belo Horizonte
11,8%
Recife
8,3%
Porto Alegre
7,9%
Curitiba
6,8%
São Paulo
6,7%
Salvador
4,0%
(Anuário Estatístico do Brasil, 1994)
*Se considerássemos a população das regiões metropolitanas, o número de favelados aumentaria consideravelmente.
Cria-se, assim, um meio social extremamente favorável à proliferação de outro problema que atormenta o cotidiano de milhões de pessoas nas grandes cidades dos países subdesenvolvidos: a violência urbana. Roubos, assaltos, seqüestros, assassinatos etc. atingem milhares de pessoas todos os anos, fazendo muitas vítimas fatais. Sem contar ainda a violência no trânsito, que faz tantas outras vítimas de acidentes. É por essas razões que o estresse é o "mal do século", atingindo principalmente os habitantes das grandes metrópoles, tanto nos países subdesenvolvidos como nos desenvolvidos, pois muitos desses problemas também ocorrem em metrópoles de países ricos.

Reservas Minerais do Brasil

O território brasileiro é constituído predominantemente por um embasamento formado por rochas metamórficas, ígneas e sedimentares, além de coberturas fanerozóicas. Tal território, em sua total extensão, esta inserido na chamada Plataforma Sul-americana (cuja formação é remontada a 2 600 milhões de anos atrás).
A compartimentação do território brasileiro pode ser dividida em:
  • - bacias sedimentares: (do Parnaíba, do Amazonas, do Recôncavo, dos Parecis, do Acre, do Paraná etc.)
  • - crátons: (Crátons Amazônico, São Luís, São Francisco, Luís Alves, Maciço Central Goiano,Rio de la Plata);
  • - faixas de dobramento: (Paraguai, Brasília, Atlântico, Sergipana, Espinhaço, Uruaçu, Araguaia-Tocantins, Araçuaí, Ribeira, Rio Preto);
O estudo da geologia do território nacional tem grande importância, pois permite, inclusive, a identificação de ambientes minerais portadores de jazidas de grande potencial mineral, em termos de bens minerais de aproveitamento de ordem econômica, sendo que, até os dias de hoje o país depende grandemente dos recursos minerais de outros países.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Dança do Mercado

Um dado novo pode colocar em xeque a cultura do bacharelado, ainda dominante no Brasil: estão faltando profissionais qualificados para ocupar cargos nas mais diversas áreas, muitas delas técnicas. Por outro lado, oferecer um leque mais abrangente de formação profissional e específica pode abrir uma nova fonte de receita para as instituições. A exemplo do que ocorre em outros países onde é cada vez maior a flexibilização da educação formal, valorizando mais as habilidades e competências do que o diploma, cresce no Brasil o espaço para cursos técnicos profissionalizantes de ensino médio e superior e mesmo para cursos de certificação ou de extensão, feitos de forma presencial ou a distância. Com isso, as instituições de ensino superior podem buscar novos caminhos - o segredo é ficar de olho nos dados econômicos e descobrir em que áreas estão as demandas para a criação de novos cursos.

Embora o bacharelado ainda ocupe posição de destaque em termos de reconhecimento social e profissional, demandas do crescimento econômico têm contribuído para que ocorra uma mudança no perfil de formação no Brasil, impulsionando a procura por cursos que fogem do bacharelado. Uma pesquisa feita pela FGV, com base em dados da Pnad (IBGE), mostrou que em 2004 cerca de 12,5% dos jovens em idade escolar concluíam cursos de qualificação profissional - de nível médio ou superior, mas profissionalizante. Em 2010, esse número subiu para 21,8%, quase dobrando o número de formados nesta modalidade de ensino.

Essa tendência também é confirmada pelo Censo da Educação Superior, feito pelo Inep. Segundo os dados do censo, o total de cursos superiores de tecnologia, por exemplo, subiu de 636, em 2002, para 4.355 em 2008, um aumento de quase 600%. A oferta de graduações feitas a distância cresceu ainda mais: passou de 46 cursos, em 2002, para 647, em 2008, um crescimento de 1.300%. Já os cursos de graduação presencial nem chegaram a dobrar: passaram de 14.399, em 2002, para 24.719, em 2008.

A preferência pelo bacharelado é intrínseca à cultura brasileira, que sempre valorizou o "doutor" que possui um diploma de ensino superior especialmente em engenharia, medicina ou direito, em detrimento daqueles que exerciam profissões técnicas. E essa valorização dos bacharéis sempre foi acompanhada por salários mais altos. Hoje, com a falta de técnicos no mercado, esse profissional bem formado tem conseguido salários equivalentes ou até melhores do que o de muitas pessoas que tiveram uma formação abrangente no bacharelado, afirma Marcos Facó, superintendente de marketing da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Com isso, a tendência é de que os cursos profissionais tendam a crescer", aposta.

A ênfase no bacharelado, no entanto, não chega a fazer com que o país tenha um excesso desses profissionais. Ao contrário, há um déficit educacional generalizado no Brasil, o que torna insuficiente o número de profissionais qualificados no mercado. Os cursos profissionalizantes são apenas uma resposta mais rápida e focada para esse déficit, que fica evidente com o crescimento da importação de mão de obra.

A Coordenação Geral de Imigração (GGI), do Ministério do Trabalho, divulgou uma pesquisa segundo a qual o Brasil concedeu 11.530 autorizações de trabalho a estrangeiros no primeiro trimestre deste ano, um volume recorde para o período. Nos últimos cinco anos, foram quase 180 mil os estrangeiros que receberam visto para trabalhar no Brasil. Desses, 90% têm diploma universitário, ensino médio completo ou algum grau de especialização técnica. A pesquisa aponta ainda que as concessões de visto de trabalho a estrangeiros no Brasil crescem a uma média anual de 17%.

O estudo revela uma falta de mão de obra especializada, em especial nas áreas de indústria, infraestrutura, energia, petróleo e gás. Rio de Janeiro e São Paulo foram os estados que mais receberam esses profissionais estrangeiros. No Rio 62% deles vieram para trabalhar em plataformas que exploram petróleo e gás (a íntegra da pesquisa pode ser acessada no link www.trabalho.gov.br/observatorio/trabalhadores_estrangeiros_final_maio_2010).

Na visão de Roy Mantelarc, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e pesquisador da qualidade da gestão nas empresas públicas e privadas do Brasil, o país vive uma falta generalizada de profissionais qualificados - em todos os níveis, do engenheiro ao pedreiro -, com picos de demanda em certos setores. Ele explica que há miniapagões de mão de obra localizados, como, por exemplo, o atual no setor de construção civil, que ocorre devido à execução de muitas obras ao mesmo tempo: as da Copa, das Olimpíadas, as do recente boom imobiliário etc. O mesmo ocorre, de tempos em tempos, na área de informática: quando surge uma linguagem nova, é preciso qualificar muita gente para dar conta da demanda.

Mas não só os setores ligados à indústria, à construção civil ou à tecnologia da informação vivem falta de profissionais qualificados. De acordo com Luiz Edmundo Rosa, diretor de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos e vice-presidente de Desenvolvimento Humano e Parcerias Educacionais da Anima Educação, no Rio Grande do Sul faltam profissionais que atuem no setor agrícola. "A produção cresceu, a exportação aumentou. E onde estão as pessoas que trabalham nesse setor?", questiona Rosa para explicar que o mercado é formado por uma espécie de vasos comunicantes. "Muitos engenheiros agrônomos foram convertidos em engenheiros aeronáuticos porque houve uma grande demanda da Embraer", exemplifica. Com isso, esse profissional ficou em falta no sul do país.
Para Rosa, os índices educacionais vêm crescendo no Brasil, mas a um ritmo lento, incapaz de repor os profissionais que se aposentam e, ainda, suprir a necessidade cada vez maior de profissionais qualificados.

Asolução para o problema passa por rever a cultura educacional brasileira, introduzindo uma mentalidade mais flexível a respeito da formação profissional, acredita Marcos Formiga, professor da UnB na área de Estudos do Futuro no Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). "O mundo vive outro paradigma e nós estamos atrasados. Os países desenvolvidos usam a educação formal cada vez da maneira mais flexível possível. Cresce no mundo inteiro a educação não formal, em que o diploma é apenas uma modalidade de formação, o curso superior não é obrigatório, pode-se optar pelo técnico ou mesmo por certificações", diz.

Para Formiga, o bacharelado tradicional é "uma rigidez" e deve-se apostar em outras formas de qualificação, como os tecnólogos e mesmo o ensino a distância. "Em outros países, a educação presencial e a feita a distância convivem harmonicamente." Segundo ele, o mundo inteiro já valoriza os cursos superiores de tecnologia e aposta mais na certificação do que na diplomação. "Há uma tendência, que está chegando também ao Brasil, de se valorizar mais as habilidades e competências do que o diploma", diz.

Essa tendência se reflete nos números do ensino superior. Segundo dados do Censo do Ensino Superior, o número de estudantes ingressos na educação tecnológica passou de apenas 38.386, em 2002, para 218.843, em 2008. Crescimento que supera em muito, percentualmente, o dos ingressos na graduação presencial, que foram 1.205.140, em 2002, e 1.505.819, em 2008. Destaca-se o papel das instituições privadas nesta mudança do perfil educacional, já que dos 218.843 ingressos na educação tecnológica em 2008, 194.484 (quase 90%) se matricularam em instituições de ensino superior privadas.

O governo também percebeu a necessidade que o mercado tem de profissionais mais técnicos e passou a investir neste sentido: consolidou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que reservam 30% de suas vagas para tecnólogos, e investiu nas redes estaduais por meio do programa Brasil Profissionalizado.

Os cursos superiores de tecnologia constituem um caminho - talvez o principal - para suprir a falta de mão de obra especializada no mercado. Luiz Edmundo Rosa explica que toda empresa precisa de muita gente com capacitação técnica, que vá trabalhar sem se preocupar com a pesquisa. São pessoas com currículo mais objetivo e centrado na prática. Para essa exigência do mercado, o ideal é o tecnólogo e não o bacharel. "Menos de 1% faz pesquisa e impõe aos outros 99% um curso que nada tem a ver com o que procura de fato. Em engenharia, por exemplo, só 10% dos formados vão trabalhar em sua área de formação, como engenheiros", diz Rosa.

Diante da necessidade de tecnólogos, a estratégia das instituições privadas, segundo Roy Mantelarc, deveria ser tentar descobrir, o tempo todo, onde está a demanda: se a construção civil que vai precisar de mão de obra; se o setor agropecuário que está ficando interessante; se a mineração está em alta, já que o Brasil está virando exportador de produtos minerais; se a economia está crescendo, o varejo e tudo o que for ligado a consumo tende a crescer em contrapartida e assim por diante. Só antenada aos rumos da economia é que a instituição poderá oferecer os cursos mais requisitados.

De acordo com Mantelarc, segmentar os cursos superiores de tecnologia pode ajudar a conseguir mais alunos. Por exemplo: se a instituição já tem um curso de turismo, pode criar cursos de turismo de aventura, de turismo esportivo, de turismo em cruzeiros e várias outras alternativas. Um problema que pode surgir com essa tentativa, segundo Mantelarc, é a possível falta de alunos no decorrer do curso. A solução, de acordo com o professor, seria trabalhar com disciplinas compartilhadas para cursos diferentes. Alunos de turismo de aventura, por exemplo, poderiam cursar algumas disciplinas em conjunto com os de ecoturismo ou com os alunos de marketing.

Otimizar as disciplinas, de acordo com Mantelarc, seria não só uma forma de viabilizar cursos muito segmentados, mas também de estimular a mistura de pessoas com pensamentos diferentes, um dos papéis da universidade. "Essa integração reduz os custos e é boa para a formação", afirma Mantelarc.

Investir no ensino técnico profissionalizante não necessariamente significa somente criar mais turmas de tecnólogos. Há também uma enorme demanda por profissionais de nível médio. Para Marcos Facó, as instituições de ensino superior privadas poderiam passar a oferecer cursos técnico-profissionalizantes de nível médio. "Teria mercado", afirma Facó. Impedimentos na lei não há. A instituição só precisa obter autorização prévia da secretaria estadual de Educação. Rosa também vê grande necessidade de mais cursos técnicos de nível médio. "Sem eles não conseguiremos resolver a grande demanda por profissionais da área técnica que temos." O diretor da ABRH explica que todas as empresas têm formato piramidal, precisam de muitos técnicos de nível superior e também de nível médio.

Os tecnólogos e os cursos técnico- profissionalizantes de nível médio constituem um caminho para sanar a falta de profissionais qualificados no mercado, mas não são o único. A certificação - e os cursos que podem preparar os interessados em obter esses certificados - é uma estratégia crescente. "O mundo hoje está mais para a certificação do que para a diplomação. Valoriza mais as habilidades e competências. E essa tendência está chegando ao Brasil", diz Formiga. A certificação tem o papel de proporcionar, a quem sabe fazer, o reconhecimento dessa habilidade, não por meio da educação formal, mas com exames de qualificação que comprovem dominar aquela competência.

A Impacta, por exemplo, já surgiu no mercado com a meta de olhar as tendências e montar cursos de certificação que atendam àquelas demandas específicas. Oferece mais de 300 cursos diferentes atualmente, com formação de curto prazo. Em geral, são cursos de 40 horas que podem ser de nível inicial, médio ou avançado.

O professor Valderes Fernandes Pinheiro, coordenador-geral da Faculdade Impacta Tecnologia (FIT), explica que a faculdade surgiu em seguida, como consequência da certificação, por demanda de alunos que procuravam um conhecimento mais aprofundado depois de se capacitar em certa área e conseguir um lugar no mercado. Ainda assim, os cursos superiores de tecnologia oferecidos pela Impacta seguem a mesma estratégia inicial da empresa: fornecem certificações ao longo da formação, à medida que o aluno conquista certa competência, o que garante uma inserção - ou uma promoção de cargo - ainda mais rápida no mercado de trabalho.

Se a meta é formar profissionais para o mercado, com cursos que garantam a rápida conquista de um emprego, uma solução eficiente é criar cursos em parcerias com empresas. Pinheiro explica que um caminho é a instituição ceder a infraestrutura e permitir que as empresas treinem os próprios alunos com instrutores ou consultores das áreas nas quais necessitam de profissionais. "É um programa ligado à faculdade para melhor formar o aluno. O treinamento é feito em cerca de seis meses e permite aos estudantes conseguir emprego já nos primeiros semestres do curso", diz Pinheiro.

Outra alternativa parecida é criar universidades corporativas. Segundo Rosa, as empresas não podem apenas ficar se lamentando pela falta de profissionais qualificados, precisam ter uma postura mais ativa. "Há casos fantásticos no Brasil em que a empresa vai até a universidade e trabalha em parceria para construir cursos sob medida para suas necessidades", diz Rosa. Segundo ele, esses cursos podem ser criados em todos os níveis, mas a grande necessidade está no superior.

Tão importante quanto estar atento a novas modalidades de cursos para sanar a falta de profissionais qualificados no mercado é pensar em outras formas, além da presencial, para oferecer esses cursos. A Educação a Distância (EAD) tem ganhado cada vez mais espaço e importância. Segundo uma pesquisa elaborada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), órgão do Conselho Gestor da Internet no Brasil, quase 63 milhões de pessoas eram usuárias de internet no Brasil em 2009. Dessas, 11% haviam feito algum curso on-line nos três meses anteriores à pesquisa - quase sete milhões de pessoas. A pesquisa não especificava o nível dos cursos: se livre, profissionalizante, de graduação, especialização etc.

Do total de usuários, ainda de acordo com o estudo mencionado acima, 71% disseram usar a internet para treinamento e educação em geral e 16% para buscar informações sobre cursos técnicos a distância.

Para Formiga, a EAD já tem papel essencial na formação dos profissionais de que o país precisa. "A educação moderna dispensa horário, espaços e currículos rígidos. A celeridade dos tempos modernos exige que a escolaridade seja rápida, avançada e adaptada às necessidades locais e pessoais de tempo e espaço, por isso o sucesso tão grande da EAD", diz Formiga. Segundo o vice-presidente da Abed, é na educação corporativa que a EAD tem sido mais bem aproveitada e alcançado os melhores resultados e práticas de sucesso.

ALÉM DO BACHARELADO

Veja o que é necessário para que a instituição superior ofereça outros cursos

Livres Não há restrições quanto ao tema ou à carga horária e podem ser oferecidos por qualquer instituição de ensino superior sem a necessidade de aprovação ou de fiscalização pelo Ministério da Educação. Não precisam ter qualquer relação com as áreas de conhecimento das graduações e pós-graduações oferecidas pela instituição de ensino.
Extensão Os cursos de extensão permitem à universidade socializar e democratizar os conhecimentos de suas diversas áreas. Geralmente com carga horária curta, envolvem professores e alunos da instituição, articulando o ensino e a pesquisa. Podem ser teóricos ou práticos, mas sempre associados ao ensino que mantém a graduação e a pós-graduação na instituição e têm o papel de dar assistência às necessidades econômicas e sociais da comunidade do entorno e de complementar os conhecimentos de seus próprios estudantes em determinadas áreas. Os cursos de extensão não precisam de autorização do MEC para funcionar.
Técnico-profissionalizantes Podem ser oferecidos por qualquer instituição de ensino, desde que ela obtenha autorização prévia da secretaria estadual de Educação. Como os cursos técnicos de nível médio privados são administrados pelos estados, cabe às secretarias estaduais de Educação a autorização, a regulamentação e o reconhecimento.
Certificação As certificações servem para assegurar que o aluno recebeu conhecimento e tem competência para atuar na área cursada. Não há restrição educacional para a matrícula no curso, ou seja, não se exige um nível de escolaridade mínimo. Podem ser cursos isolados ou como etapas dos cursos superiores de tecnologia (tecnólogos). Nesse caso, os alunos vão recebendo, ao longo do curso, certificações correspondentes às áreas em que já foram capacitados.
Superiores de tecnologia Os centros universitários e universidades têm autonomia para abrir os cursos e devem pedir reconhecimento até a primeira turma completar a metade do curso. As outras instituições devem pedir autorização para a abertura.

ONDE ESTÁ O APAGÃO

Indústria, infraestrutura, energia, petróleo e gás Estudo da Coordenação Geral de Imigração (GGI), do Ministério do Trabalho, mostra que falta mão de obra nessas áreas e revela que o Brasil concedeu 11.530 autorizações de trabalho a estrangeiros no primeiro trimestre deste ano, um volume recorde para o período.
Construção civil e setor imobiliário Devido à execução de muitas obras ao mesmo tempo, especialmente as relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas a serem realizadas no Rio de Janeiro em 2016, esses setores estão aquecidos e demandam mão de obra qualificada de todos os níveis.
Informática É um setor que constantemente demanda novos profissionais e quando surge uma linguagem nova é preciso qualificar muita gente para dar conta da demanda.
Agrícola Com o aumento da produção e das exportações faltam profissionais na área, principalmente no sul do país. Por conta disso, muitos engenheiros agrônomos foram convertidos em engenheiros aeronáuticos porque houve uma grande demanda da Embraer.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Atualidades 51 - Custo de Estrago Ambiental pode Chegar a US$ 4,5 tri


Levantamento apresentado nesta última quinta-feira, 09/09, mostra benefícios econômicos da manutenção do ecossistema.

A devastação ambiental representa perda de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões em capital natural por ano, segundo dados apresentados em Curitiba, pelo economista Pavan Sukhdev, coordenador do estudo encomendado pelos países do G8+5 sobre 'A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade' (TEEB, na sigla em inglês).

O objetivo do levantamento é chamar a atenção para os benefícios econômicos globais da biodiversidade e somar forças que permitam ações concretas. Os valores não foram divididos por regiões. Fazem parte do G8+5 Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, África do Sul, Brasil, China, Índia e México.

O representante do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, classificou a parte referente ao Brasil no estudo de "certamente importante". "Temos as mais extensas florestas e convivemos com taxa grande de desmatamento, além de um aumento (no desmatamento) no Pantanal, que já começa a preocupar", disse.

Energia

Sukhdev destacou o cuidado que o País precisa ter na construção de hidrelétricas. "É preciso uma avaliação das bacias hidrográficas", disse, acrescentando a necessidade de florestas em volta dos reservatórios para evitar o assoreamento, que reduz a vida útil da usina e exige mais recursos. Segundo ele, a sedimentação é reduzida de 1% para 0,5% no comparativo entre locais devastados e aqueles que têm florestas intactas. Para ele, o Brasil é uma "superpotência" em biodiversidade.

A cerca de 100 gestores e formuladores de políticas locais, Sukhdev falou que a redução na destruição do ecossistema somente será conseguida se houver engajamento de quem toma decisão regionalmente. "Não há ação se esta não é tomada localmente", defendeu. "Ver o tamanho econômico dos ecossistemas e deixá-los de fora das contas nacionais é um erro", acrescentou.

Segundo o economista, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem. No Brasil, ele estimou que o número chega a 20 milhões de pessoas. "A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos", afirmou Sukhdev.

Amazônia

Sobre a Amazônia, o economista disse que vale o "princípio do perigo". "Se existe dúvida razoável de que a perda da Amazônia pode destruir o suprimento de água para a agricultura no Paraguai, Argentina e Brasil, então a gente tem que tomar medidas de precaução para evitar que isso aconteça", disse. De acordo com o relatório, "a análise econômica indica que a manutenção de ecossistemas saudáveis é geralmente a opção menos onerosa".

O relatório, que será apresentado em português no dia 14, em São Paulo, destaca 120 exemplos de decisões políticas que alteraram realidades degradantes ao meio ambiente, contando com a participação da comunidade. Como complemento houve redução de custos.

Em regiões costeiras do Vietnã, por exemplo, onde mais de 70% da população está vulnerável a desastres naturais, as comunidades passaram a plantar e proteger os manguezais, ao invés de construir e manter barreiras artificiais. O investimento de US$ 1,1 milhão poupou custos anuais de US$ 7,3 milhões em manutenção dos diques. "É importante achar a solução específica para cada área", destacou Sukhdev.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quais São as Motivações de Quem Opta por um Curso Superior de Tecnologia?


Quais são as motivações de quem opta por um curso superior de tecnologia? O senso comum diz que os principais atrativos da modalidade são a formação em um curto espaço de tempo e os custos menores em comparação ao bacharelado. Mas a realidade parece estar mudando. É o que aponta a pesquisa Cursos Superiores de Tecnologia: um estudo de sua demanda sob a ótica do estudante, trabalho desenvolvido pela diretora de regulação e supervisão da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), Andréa Andrade, durante mestrado na Universidade de Brasília (UnB) e apresentado durante o Seminário Internacional de  Cursos Superiores de Tecnologia, ocorrido em junho em Brasília.
Tecnólogo em radiologia pode atuar
no gerenciamento,pesquisa e apoio
a exames laboratoriais
(Foto: Divulgação/Cefet-SC)
A pesquisa foi realizada em 2009 com 1,2 mil estudantes no momento em que eles prestavam vestibular. Os candidatos foram questionados sobre os motivos pelos quais optaram por um curso superior de tecnologia. A razão mais apontada pelos participantes foi a de que os cursos são "focados em áreas com boas chances de emprego". Essa resposta apareceu em primeiro lugar, citada por 45% dos futuros alunos.

Em seguida, 41% afirmaram que "o mercado está valorizando o diploma de curso superior tecnológico" e 34% apontaram como vantagem serem "cursos especializados". A duração da formação aparece em sexto lugar e o valor do curso apenas em 11º. "O resultado foi surpreendente. Minha hipótese era a de que o custo e a duração seriam as primeiras razões, mas o que faz o estudante escolher o curso tecnológico é a expectativa por emprego", analisa Andréa.

Para Andréa, a percepção dos alunos de que um diploma de tecnólogo pode garantir uma boa inserção no mercado é resultado da expansão que o setor viveu na última década. "O grande público não diferencia mais um curso de bacharelado do tecnológico, que passou a ser visto como mais um curso superior. O estudo mostra que o aluno valoriza o curso e tem uma expectativa muito positiva. Eles também falaram muito sobre a questão dessa formação de ser pioneira e inovadora", explica a diretora da Setec.

Andréa destaca que as razões para a escolha variam de acordo com a área de formação escolhida, a renda e a idade do aluno. Se a questão dos custos só foi citada como motivação por 6% dos participantes, apareceu com mais peso entre aqueles que optaram por cursos no eixo de gestão de negócios (19%).

O fator duração da formação foi apontado como relevante por apenas 20% da amostra. Mas a pesquisa aponta que "a demanda por uma formação rápida cresce conforme se amplia a idade". Enquanto apenas 4% dos respondentes com idade inferior a 18 anos demonstraram preocupação com essa questão, o índice sobe para 48% na faixa etária acima dos 40 anos.

Mas, independentemente de idade, renda ou se a instituição é pública ou privada, são altas as expectativas de inserção no mercado do trabalho a partir da formação tecnológica. Essa razão foi citada por 45% da amostra.

Andréa aponta outra tendência: entre os que já possuíam uma graduação, muitos buscavam no tecnológico a reinserção no mercado de trabalho (39%) ou apostavam na modalidade como "uma forma de manter-se atualizado" (46%). "O curso tecnológico se configura como uma segunda graduação e um público muito grande está fazendo essa escolha. Ou ainda no caso de quem iniciou um curso superior anteriormente, mas não concluiu. Certamente os professores estão tendo de conviver com uma dificuldade a mais em sala de aula: alunos jovens junto com alunos com mais experiência de vida e foco muito distinto", ressalta Andréa.

Durante o Seminário Internacional de Cursos Superiores de Tecnologia, ocorrido em junho em Brasília, mais de 200 especialistas, entidades e representantes de instituições de ensino do Brasil e América Latina discutiram qual é a visão que o mercado e a sociedade têm dos tecnológicos e como superar o "complexo de inferioridade" em relação aos cursos de bacharelado. As discussões apontaram para respostas semelhantes ao resultado indicado pela pesquisa de Andréa: é o mercado de trabalho que vai levar os cursos de tecnologia a um novo patamar. "Não existe uma fórmula mágica, é um processo contínuo, mas as perspectivas são extremamente positivas. Percebemos que a necessidade irá forçar essa aceitação porque não há disponibilidade de profissionais", defende Jorge Guaracy, presidente da Associação Nacional dos Tecnólogos (ANT).

Consuelo Aparecida Santos, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Conif), aposta na própria lógica do sistema como principal estratégia para consolidação da área. "Para fazer esse trabalho de convencimento da importância dos tecnólogos, a primeira coisa é os estudantes saírem formados. Hoje esse número já é bastante grande e eles vão ocupando esses espaços. Quanto mais estudantes formamos, com certeza eles irão disseminar essa cultura na sociedade", acredita Consuelo.

Ela também defendeu, durante o seminário, que as instituições façam um "marketing" dos tecnólogos. "Não é o marketing do tipo "faça um curso em dois anos". As instituições precisam chamar a atenção para os conteúdos ensinados e as competências que os tecnólogos desenvolvem, que são importantíssimas. É preciso chamar a atenção para a concepção desses cursos", recomenda Consuelo, que também é reitora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

O presidente da ANT acredita que as instituições hoje, "na média", entendem quais são as demandas que estão postas pelo mercado. "No início houve uma empolgação por vender a ideia de fazer um curso superior em dois anos e isso causou um certo refluxo. Acredito que há uma tendência natural das instituições de ensino de irem buscando um aprimoramento do que oferecem, não cursos que se coloquem como uma solução tapa-buraco, mas de fato abraçando os cursos tecnológicos", diz Guaracy.

Durante o seminário, duas questões apareceram como barreiras a serem superadas: a inclusão de cargos para tecnólogos em editais de concursos públicos e a superação das limitações impostas pelos conselhos federais para a atuação desses profissionais. Segundo os participantes, muitas seleções de emprego ainda exigem diploma de engenheiro para cargos e funções que podem ser ocupadas por tecnólogos. "A discriminação existe em relação à regulamentação, principalmente para os tecnólogos que estão ligados a conselhos federais. Nesses casos o exercício profissional fica restrito à atribuição que o conselho admite que ele faça", aponta Guaracy.

Mas o sentimento geral é de que com o tempo - e o esforço conjunto de instituições privadas, Ifets, MEC e Sistema S para valorizar e promover os cursos tecnológicos - essas barreiras serão superadas. Seja pela necessidade do mercado ou dos próprios anseios da população por uma formação que seja mais conectada com o mundo do trabalho.

"A primeira reação a tudo que é novo é a desconfiança. Por isso, digo que os maiores problemas dos cursos superiores de tecnologia são o desconhecimento e o preconceito", avalia Fernando Leme do Prado, presidente da Associação Nacional da Educação Tecnológica (Anet). Na avaliação dele, o trabalho de "convencimento" da importância desse nível educacional precisa começar pela instituição de ensino.

"Esse preconceito nasce muitas vezes dentro da própria instituição. Ela não valoriza os profissionais que está formando e passa para os estudantes essa mesma sensação. Essa cultura precisa ser superada", aconselha. (A.C.)

"Os tecnólogos precisam se integrar à educação continuada"
Durante o Seminário também foram apresentadas expe­riências internacionais na área. Fernando Vargas, especialista do Centro Interamericano para Desenvolvimento do Conhecimento na Formação Profissional (Cinterfor), ligado à Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentou um panorama da formação tecnológica na América Latina e destacou que os países da região vivem momentos semelhantes. O desafio é consolidar os cursos superiores de tecnologia como uma ferramenta para o desenvolvimento econômico da região. Para ele, essa não é uma demanda só do mercado, mas da própria juventude.

Revista Ensino Superior: Em outros países da região também existe esse embate entre o bacharelado e o tecnológico?
Sim, em alguns países as universidades têm reclamado aos ministérios da educação dizendo que as instituições de ensino técnico "não têm de fazer tanto", que estão "invadindo a praia" das universidades. Isso é um erro. Os tecnológicos se desenvolveram mais pela facilidade dos formados de ingressar no mercado e os jovens preferem uma experiência educacional mais próxima da realidade. Muitas universidades fecharam suas portas na ideia do conhecimento per se [por si mesmo]. Isso precisa ser revisto.

Revista Ensino Superior: E quais são os principais desafios dos cursos superiores de tecnologia para o futuro?
Eles precisam ser integrados com a concepção de educação ao longo da vida. Não podem ser vistos como um objetivo que o estudante tem para chegar a um nível e parar ali. Depois de cinco anos de formado um tecnólogo já fica obsoleto. O principal desafio dos países é não criar a exclusão entre os diferentes níveis de ensino como se cada um fosse uma praia particular.


Mudanças na avaliação
O Ministério da Educação finalizou em abril o novo Instrumento de Avaliação dos Cursos Superiores de Tecnologia, que servirá de parâmetro para a avaliação e reconhecimento dessas graduações no Sinaes. A grande queixa do setor era de que os tecnológicos não poderiam ser avaliados a partir dos mesmos critérios dos bacharelados. Reivindicavam, por exemplo, mais valorização da experiência profissional do corpo docente do que do número de mestres e doutores.

Composto por três dimensões - projeto político-pedagógico, corpo docente e instalações físicas - o documento manteve a valorização do número de mestres e doutores. O curso pode ganhar nota 1 a 5 de acordo com o percentual de docentes que possuem pós-graduação stricto sensu. Mas também considera a experiência profissional dos professores "no eixo tecnológico do curso". Também numa escala de 1 a 5, a instituição será avaliada de acordo com o percentual de docentes que possuem experiência mínima de pelo menos três anos no mercado, excluindo-se o magistério.

Mas o instrumento manteve a pesquisa e a produção científica como um critério de avaliação, o que foi criticado por especialistas durante o Seminário. O setor defende que essa é função da universidade. O documento está disponível para consulta no site do InInep: www.inep.gov.br.


O Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia

Lançado em 2006, é um guia de informações sobre o perfil de competências do tecnólogo. Ele apresenta a carga horária mínima e a infraestrutura recomendada para cada curso. Referência para estudantes, educadores, instituições de ensino tecnológico e público em geral, serve de base também para o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e para os processos de regulação e supervisão da educação tecnológica.
O catálogo organiza e orienta a oferta de cursos superiores de tecnologia, inspirado nas diretrizes curriculares nacionais e em sintonia com a dinâmica do setor produtivo e as expectativas da sociedade. Em função do catálogo, a partir de 2007 foi possível aplicar o Enade em alunos de cursos superiores de tecnologia.
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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Atualidades 50 - Entenda o Processo de Capitalização da Petrobrás

O governo vem sendo acusado
de interferir demais na
empresa
Após diversas reuniões com ministros e técnicos de governo, o Palácio do Planalto definiu em US$ 8,51 o preço do barril de petróleo que será cedido à Petrobras, no processo de capitalização da empresa.

Por meio dessa operação, a companhia brasileira venderá novas ações no mercado, e assim poderá arrecadar os recursos financeiros dos quais precisa para ampliar seus investimentos, sobretudo em função da exploração do pré-sal.

O preço do barril, definido em última instância pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era considerado um dos pontos mais polêmicos das negociações que antecedem a capitalização.

O governo federal, dono dos cinco bilhões de barris que serão cedidos à Petrobras, chegou a defender um preço de US$ 10 por barril. Já a Petrobras e os acionistas majoritários pressionaram por um valor menor, em torno de US$ 5 ou US$ 6.

O valor definido pelo governo, de US$ 8,51, está praticamente na média desse intervalo. Resta agora esperar para ver se os acionistas majoritários terão interesse em participar da capitalização, programada para o dia 30 de setembro.

Entenda o que está em jogo:

O que é uma capitalização e para que serve?

A capitalização (ou aumento de capital) é um processo comum entre as companhias de capital aberto que por algum motivo precisam de mais recursos.

Uma alternativa à capitalização, por exemplo, seria o endividamento junto ao sistema bancário. Em alguns casos, no entanto, a empresa pode não achar conveniente aumentar seu nível de dívida.

No caso da capitalização, a empresa coloca novas ações à venda no mercado. O capital arrecadado com a venda desses papéis dá fôlego para novos investimentos.

Segundo o diretor da Faculdade de Administração da Faap, Tharcisio Santos, em geral a capitalização ocorre em um ambiente “favorável” aos negócios daquela companhia. “Quando a empresa tem um projeto muito bom, com potencial de retorno elevado, a chance de arrecadar mais dinheiro na capitalização é maior”, diz.

Por que o governo decidiu capitalizar a Petrobras?

Uma das cinco maiores companhias petrolíferas de capital aberto do mundo, a Petrobras sempre teve projetos de investimentos significativos. Esses planos ganharam ainda mais força com a descoberta do pré-sal.

A necessidade de investimentos até 2014 é de US$ 220 bilhões, de acordo com estimativas da própria companhia.

Ao mesmo tempo, a empresa brasileira – que já vinha acelerando seus investimentos – está tendo de lidar com uma forte dívida, que chegou a R$ 118,4 bilhões em junho. O valor equivale a 34% do patrimônio, o que está muito próximo do teto estipulado pela empresa, que é de 35%.

Sem poder se endividar mais, a empresa optou pela capitalização. A previsão é de que, com a operação, a petrolífera brasileira possa arrecadar até R$ 130 bilhões. O resto do dinheiro poderia vir de empréstimos, se a empresa diminuir seu nível de endividamento. Outra possibilidade é a Petrobrás voltar a capitalizar-se.

O que é a cessão onerosa?

Como principal acionista da Petrobras, governo federal teria de desembolsar uma grande quantia de dinheiro para participar do aumento de capital da empresa, na proporção de sua participação acionária.

Em vez de lançar mão desse montante, o que seria inviável do ponto de vista fiscal, governo decidiu usar outro tipo de moeda: o petróleo da camada pré-sal, que pertence à União e ainda não explorado.

A ideia é que o governo ceda cinco bilhões de barris de petróleo à Petrobras, que em troca entregará ao governo títulos da dívida pública, por sua vez recebidos da União durante o processo de capitalização.

O resultado dessa operação é que o governo poderá manter (ou até ampliar) sua participação no capital da Petrobras sem gastar dinheiro ou títulos públicos.

Como será feita a capitalização?

Diante da emissão de novas ações da Petrobras, tanto o governo como os acionistas minoritários poderão adquirir os papéis. Em tese, todos poderão manter a participação que têm hoje na companhia.

Os novos papéis serão oferecidos primeiro aos acionistas minoritários. Se eles adquirirem toda a parte colocada a sua disposição, estarão mantendo sua participação na Petrobras. Os minoritários, no entanto, podem decidir não comprar todas as ações – por exemplo, se considerarem o preço alto demais.

Nesse caso, o restante das ações poderá ser adquirido pela União, que na prática estará ampliando sua fatia na empresa. Para isso acontecer, porém, o governo terá de encontrar outras fontes para arcar com esse custo.

Atualmente, o governo tem 32% do capital da Petrobras e 55,6% das ações ordinárias (com direito a voto).

Por que o preço do barril era tão importante?

Na última quarta-feira, 08/09, o governo anunciou que o barril de petróleo que será cedido à Petrobras vale US$ 8,51. O valor foi definido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após uma série de discussões com ministros e com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que apresentaram levantamentos de auditorias independentes.

Esse preço servirá de base para toda a operação, tendo impacto direto no valor das novas ações que serão colocadas no mercado. Enquanto a Petrobras e os minoritários torciam por um preço mais baixo, para o governo federal, dono dos barris de petróleo, um preço mais alto seria o ideal.

O governo federal, dono dos cinco bilhões de barris que serão cedidos à Petrobras, chegou a defender um preço de US$ 10 por barril. Já a Petrobras e os acionistas majoritários pressionaram por um valor menor, em torno de US$ 5 ou US$ 6.

O valor definido pelo governo, de US$ 8,51, está praticamente na média desse intervalo. Resta agora esperar para ver se os acionistas majoritários terão interesse em participar da capitalização, programada para o dia 30 de setembro.

A pergunta, agora, é se os acionistas minoritários terão capacidade para absorver os novos papéis a esse preço. Se os investidores não comparecerem, o processo de capitalização poderá ser prejudicado.

Por que a operação tem sido criticada?

Entre especialistas, há consenso de que a Petrobras não teria como realizar os investimentos previstos com seu próprio capital – mesmo porque, a empresa não teria esse dinheiro em caixa.

Com o endividamento no limite, muitos consideram a capitalização a única saída. O que tem sido motivo de críticas é a forma como o aumento de capital está sendo conduzido.

Uma delas diz respeito a uma interferência “excessiva” do governo em uma empresa que, apesar de ser controlada pela União, tem suas ações negociadas em bolsa – e portanto, precisa prestar contas ao mercado. “Existe uma relação entre o governo e a empresa, que na minha opinião não é saudável”, diz Amaral.

Outro ponto de polêmica é a definição do preço do barril. Coube ao presidente da república definir o valor do barril, sendo que o governo é um dos principais atores no processo de capitalização, o que para muitos analistas configura um conflito de interesse.

Por fim, especialistas ainda questionam a cessão de milhões de barris de petróleo que ainda não foram explorados. Um dos receios é de que os poços escolhidos pelo governo acabem revelando ter menos óleo do que o inicialmente estimado.

Por que as ações da Petrobras não param de cair?

Desde o início do ano, as ações da Petrobras já caíram 28%, o que representa uma perda de US$ 56 bilhões no valor de mercado da companhia.

De acordo com Weber Amaral, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), a desvalorização está ligada a dois fatores.

Um deles é o vazamento de óleo da BP no Golfo do México, que despertou a desconfiança dos investidores sobre a segurança das explorações profundas – o que se aplica à camada pré-sal.

O segundo fator está ligado à capitalização. “Diante do adiamento da operação e de incertezas quanto ao preço do barril e outras questões ligadas à nova legislação, os investidores acabaram fugindo dos papéis da Petrobras”, diz Amaral.

A expectativa dos analistas de mercado é de que, com a capitalização, os investidores voltarão a apostar na petrolífera brasileira – mas segundo o professor da FIA, há ainda outras questões em aberto, como por exemplo, como será feita a divisão dos royalties do petróleo.

Existe algum risco de a capitalização não ocorrer?

Tanto o governo como a Petrobras garantem que a capitalização ocorrerá no dia 30 de setembro. No entanto, como a operação já foi adiada uma vez, o mercado tem sido cauteloso. Muitos analistas ainda consideram a chance de um novo adiamento.

Um dos motivos seria a eleição para presidente. A avaliação é de que o governo pode querer evitar críticas que prejudiquem sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff.

POLITIZAÇÃO É MAIOR RISCO PARA PETROBRAS, DIZ 'WALL STREET JOURNAL'

Jornal diz que maior risco
para Petrobras é a
politização da empresa
Uma reportagem publicada na edição desta segunda-feira do jornal americano Wall Street Journal afirma que a politização da Petrobras é o maior risco que a empresa enfrenta no futuro.

O texto, assinado pelo jornalista Edward Tan, afirma que a Petrobras, em sua oferta pública de ações estimada em US$ 65 bilhões, tem ressaltado aos potenciais compradores dos títulos os altos riscos envolvidos na exploração de petróleo em águas profundas.

"Mas o maior risco [da Petrobras] pode ser político", afirma o texto. "A grande reserva de petróleo no litoral do Brasil ameaça reintroduzir a política na administração da gigante petrolífera, que é controlada pelo governo brasileiro, mas competentemente administrada de forma comercial."

"Como a Petrobras é vista como um instrumento de política nacional, seja na sua concepção ou através da evolução econômica, ela se permite ser politizada. O perigo é que ela se aproxime da Petróleos Mexicanos ou Petróleos de Venezuela AS, as companhias nacionais do México e Venezuela respectivamente, que foram transformadas para promoverem várias causas sociais."

O jornal prevê que as ações da Petrobras ficarão mais voláteis no futuro próximo, devido às atividades exclusivamente petrolíferas da companhia, aos riscos ligados à exploração em águas profundas e ao "risco de que sua filosofia independente [...] seja alterada pela política".

Eleições presidenciais

O Wall Street Journal ressalta que a Petrobras tem perspectivas enormes de retorno financeiro diante das reservas comprovadas de 14 bilhões de barris equivalentes de petróleo (BEP), com potencial para chegar a 35 bilhões de BEP.

No entanto, o jornal diz que isso pode levar a um controle político maior da Petrobras, já que o Congresso brasileiro está considerando criar leis que dariam exclusividade à empresa brasileira na operação de áreas do pré-sal.

Com isso, a empresa, que tem 55% das suas ações com direito de voto sob controle do governo, teria uma posição predominante na exploração das novas jazidas. No entanto, alguns acionistas reclamam que a Petrobras pagaria caro demais pela operação nas áreas determinadas pela lei e podem levar a questão à Justiça.

Outro risco de politização da Petrobras apontado pelo jornal são as eleições presidenciais brasileiras, que "introduzem outra incerteza". "A candidata com ampla margem de liderança nas pesquisas, Dilma Rousseff, é vista em geral como tendo posições mais esquerdistas do que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de ter o seu apoio", escreve o Wall Street Journal.

O jornal não menciona as plataformas dos candidatos presidenciais em relação à Petrobras.