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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quais São as Motivações de Quem Opta por um Curso Superior de Tecnologia?


Quais são as motivações de quem opta por um curso superior de tecnologia? O senso comum diz que os principais atrativos da modalidade são a formação em um curto espaço de tempo e os custos menores em comparação ao bacharelado. Mas a realidade parece estar mudando. É o que aponta a pesquisa Cursos Superiores de Tecnologia: um estudo de sua demanda sob a ótica do estudante, trabalho desenvolvido pela diretora de regulação e supervisão da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), Andréa Andrade, durante mestrado na Universidade de Brasília (UnB) e apresentado durante o Seminário Internacional de  Cursos Superiores de Tecnologia, ocorrido em junho em Brasília.
Tecnólogo em radiologia pode atuar
no gerenciamento,pesquisa e apoio
a exames laboratoriais
(Foto: Divulgação/Cefet-SC)
A pesquisa foi realizada em 2009 com 1,2 mil estudantes no momento em que eles prestavam vestibular. Os candidatos foram questionados sobre os motivos pelos quais optaram por um curso superior de tecnologia. A razão mais apontada pelos participantes foi a de que os cursos são "focados em áreas com boas chances de emprego". Essa resposta apareceu em primeiro lugar, citada por 45% dos futuros alunos.

Em seguida, 41% afirmaram que "o mercado está valorizando o diploma de curso superior tecnológico" e 34% apontaram como vantagem serem "cursos especializados". A duração da formação aparece em sexto lugar e o valor do curso apenas em 11º. "O resultado foi surpreendente. Minha hipótese era a de que o custo e a duração seriam as primeiras razões, mas o que faz o estudante escolher o curso tecnológico é a expectativa por emprego", analisa Andréa.

Para Andréa, a percepção dos alunos de que um diploma de tecnólogo pode garantir uma boa inserção no mercado é resultado da expansão que o setor viveu na última década. "O grande público não diferencia mais um curso de bacharelado do tecnológico, que passou a ser visto como mais um curso superior. O estudo mostra que o aluno valoriza o curso e tem uma expectativa muito positiva. Eles também falaram muito sobre a questão dessa formação de ser pioneira e inovadora", explica a diretora da Setec.

Andréa destaca que as razões para a escolha variam de acordo com a área de formação escolhida, a renda e a idade do aluno. Se a questão dos custos só foi citada como motivação por 6% dos participantes, apareceu com mais peso entre aqueles que optaram por cursos no eixo de gestão de negócios (19%).

O fator duração da formação foi apontado como relevante por apenas 20% da amostra. Mas a pesquisa aponta que "a demanda por uma formação rápida cresce conforme se amplia a idade". Enquanto apenas 4% dos respondentes com idade inferior a 18 anos demonstraram preocupação com essa questão, o índice sobe para 48% na faixa etária acima dos 40 anos.

Mas, independentemente de idade, renda ou se a instituição é pública ou privada, são altas as expectativas de inserção no mercado do trabalho a partir da formação tecnológica. Essa razão foi citada por 45% da amostra.

Andréa aponta outra tendência: entre os que já possuíam uma graduação, muitos buscavam no tecnológico a reinserção no mercado de trabalho (39%) ou apostavam na modalidade como "uma forma de manter-se atualizado" (46%). "O curso tecnológico se configura como uma segunda graduação e um público muito grande está fazendo essa escolha. Ou ainda no caso de quem iniciou um curso superior anteriormente, mas não concluiu. Certamente os professores estão tendo de conviver com uma dificuldade a mais em sala de aula: alunos jovens junto com alunos com mais experiência de vida e foco muito distinto", ressalta Andréa.

Durante o Seminário Internacional de Cursos Superiores de Tecnologia, ocorrido em junho em Brasília, mais de 200 especialistas, entidades e representantes de instituições de ensino do Brasil e América Latina discutiram qual é a visão que o mercado e a sociedade têm dos tecnológicos e como superar o "complexo de inferioridade" em relação aos cursos de bacharelado. As discussões apontaram para respostas semelhantes ao resultado indicado pela pesquisa de Andréa: é o mercado de trabalho que vai levar os cursos de tecnologia a um novo patamar. "Não existe uma fórmula mágica, é um processo contínuo, mas as perspectivas são extremamente positivas. Percebemos que a necessidade irá forçar essa aceitação porque não há disponibilidade de profissionais", defende Jorge Guaracy, presidente da Associação Nacional dos Tecnólogos (ANT).

Consuelo Aparecida Santos, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Conif), aposta na própria lógica do sistema como principal estratégia para consolidação da área. "Para fazer esse trabalho de convencimento da importância dos tecnólogos, a primeira coisa é os estudantes saírem formados. Hoje esse número já é bastante grande e eles vão ocupando esses espaços. Quanto mais estudantes formamos, com certeza eles irão disseminar essa cultura na sociedade", acredita Consuelo.

Ela também defendeu, durante o seminário, que as instituições façam um "marketing" dos tecnólogos. "Não é o marketing do tipo "faça um curso em dois anos". As instituições precisam chamar a atenção para os conteúdos ensinados e as competências que os tecnólogos desenvolvem, que são importantíssimas. É preciso chamar a atenção para a concepção desses cursos", recomenda Consuelo, que também é reitora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

O presidente da ANT acredita que as instituições hoje, "na média", entendem quais são as demandas que estão postas pelo mercado. "No início houve uma empolgação por vender a ideia de fazer um curso superior em dois anos e isso causou um certo refluxo. Acredito que há uma tendência natural das instituições de ensino de irem buscando um aprimoramento do que oferecem, não cursos que se coloquem como uma solução tapa-buraco, mas de fato abraçando os cursos tecnológicos", diz Guaracy.

Durante o seminário, duas questões apareceram como barreiras a serem superadas: a inclusão de cargos para tecnólogos em editais de concursos públicos e a superação das limitações impostas pelos conselhos federais para a atuação desses profissionais. Segundo os participantes, muitas seleções de emprego ainda exigem diploma de engenheiro para cargos e funções que podem ser ocupadas por tecnólogos. "A discriminação existe em relação à regulamentação, principalmente para os tecnólogos que estão ligados a conselhos federais. Nesses casos o exercício profissional fica restrito à atribuição que o conselho admite que ele faça", aponta Guaracy.

Mas o sentimento geral é de que com o tempo - e o esforço conjunto de instituições privadas, Ifets, MEC e Sistema S para valorizar e promover os cursos tecnológicos - essas barreiras serão superadas. Seja pela necessidade do mercado ou dos próprios anseios da população por uma formação que seja mais conectada com o mundo do trabalho.

"A primeira reação a tudo que é novo é a desconfiança. Por isso, digo que os maiores problemas dos cursos superiores de tecnologia são o desconhecimento e o preconceito", avalia Fernando Leme do Prado, presidente da Associação Nacional da Educação Tecnológica (Anet). Na avaliação dele, o trabalho de "convencimento" da importância desse nível educacional precisa começar pela instituição de ensino.

"Esse preconceito nasce muitas vezes dentro da própria instituição. Ela não valoriza os profissionais que está formando e passa para os estudantes essa mesma sensação. Essa cultura precisa ser superada", aconselha. (A.C.)

"Os tecnólogos precisam se integrar à educação continuada"
Durante o Seminário também foram apresentadas expe­riências internacionais na área. Fernando Vargas, especialista do Centro Interamericano para Desenvolvimento do Conhecimento na Formação Profissional (Cinterfor), ligado à Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentou um panorama da formação tecnológica na América Latina e destacou que os países da região vivem momentos semelhantes. O desafio é consolidar os cursos superiores de tecnologia como uma ferramenta para o desenvolvimento econômico da região. Para ele, essa não é uma demanda só do mercado, mas da própria juventude.

Revista Ensino Superior: Em outros países da região também existe esse embate entre o bacharelado e o tecnológico?
Sim, em alguns países as universidades têm reclamado aos ministérios da educação dizendo que as instituições de ensino técnico "não têm de fazer tanto", que estão "invadindo a praia" das universidades. Isso é um erro. Os tecnológicos se desenvolveram mais pela facilidade dos formados de ingressar no mercado e os jovens preferem uma experiência educacional mais próxima da realidade. Muitas universidades fecharam suas portas na ideia do conhecimento per se [por si mesmo]. Isso precisa ser revisto.

Revista Ensino Superior: E quais são os principais desafios dos cursos superiores de tecnologia para o futuro?
Eles precisam ser integrados com a concepção de educação ao longo da vida. Não podem ser vistos como um objetivo que o estudante tem para chegar a um nível e parar ali. Depois de cinco anos de formado um tecnólogo já fica obsoleto. O principal desafio dos países é não criar a exclusão entre os diferentes níveis de ensino como se cada um fosse uma praia particular.


Mudanças na avaliação
O Ministério da Educação finalizou em abril o novo Instrumento de Avaliação dos Cursos Superiores de Tecnologia, que servirá de parâmetro para a avaliação e reconhecimento dessas graduações no Sinaes. A grande queixa do setor era de que os tecnológicos não poderiam ser avaliados a partir dos mesmos critérios dos bacharelados. Reivindicavam, por exemplo, mais valorização da experiência profissional do corpo docente do que do número de mestres e doutores.

Composto por três dimensões - projeto político-pedagógico, corpo docente e instalações físicas - o documento manteve a valorização do número de mestres e doutores. O curso pode ganhar nota 1 a 5 de acordo com o percentual de docentes que possuem pós-graduação stricto sensu. Mas também considera a experiência profissional dos professores "no eixo tecnológico do curso". Também numa escala de 1 a 5, a instituição será avaliada de acordo com o percentual de docentes que possuem experiência mínima de pelo menos três anos no mercado, excluindo-se o magistério.

Mas o instrumento manteve a pesquisa e a produção científica como um critério de avaliação, o que foi criticado por especialistas durante o Seminário. O setor defende que essa é função da universidade. O documento está disponível para consulta no site do InInep: www.inep.gov.br.


O Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia

Lançado em 2006, é um guia de informações sobre o perfil de competências do tecnólogo. Ele apresenta a carga horária mínima e a infraestrutura recomendada para cada curso. Referência para estudantes, educadores, instituições de ensino tecnológico e público em geral, serve de base também para o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e para os processos de regulação e supervisão da educação tecnológica.
O catálogo organiza e orienta a oferta de cursos superiores de tecnologia, inspirado nas diretrizes curriculares nacionais e em sintonia com a dinâmica do setor produtivo e as expectativas da sociedade. Em função do catálogo, a partir de 2007 foi possível aplicar o Enade em alunos de cursos superiores de tecnologia.
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