O pedagogo Silvio Bock (foto ao lado), diretor do Nace, empresa de orientação profissional, já ajudou milhares de jovens no difícil momento de decisão por um curso superior.
O método da abordagem sócio-histórica, criado por ele, leva em conta a evolução da sociedade, das instituições e das tecnologias. E emprega um processo que contextualiza as necessidades e anseios da adolescência com a realidade do mercado e dos campos de trabalho.
Confira a entrevista com o consultor, para o Jornal Folha de S. Paulo, onde fala sobre as profissões recém-criadas:
FOLHA - Como surgem as novas profissões?
SILVIO BOCK - Mercado de trabalho é uma relação concreta de oferta e procura. Campo de trabalho é o potencial de trabalho que uma dada área, não necessariamente convertida em mercado, possui. E aí estão incluídos os campos já conhecidos e os campos a conhecer. Ou seja, estou dizendo que as profissões e ocupações têm movimento, elas não são estáticas no tempo. Se as profissões quiserem continuar existindo, logicamente elas têm que criar novos campos de trabalho, novas possibilidades de intervenção o que as profissões tradicionais fazem com muita percepção da realidade, novas possibilidades. O direito, por exemplo, área mais tradicional do que esta não existe. E você tem áreas novas como o direito internacional, o direito ambiental, o direito do consumidor que é muito recente, os direitos difusos que existem hoje e são estudados na USP, quer dizer, as profissões são capazes de criar novos campos de trabalho. Isso é importante dizer, elas não surgem do nada essas necessidades, esses novos cursos. Provavelmente elas já existem na realidade e as instituições captam essa existência, ou uma tendência e acabam colocando isso de uma maneira formalizada na universidade, ou num curso técnico, ou num curso livre.
FOLHA - Muitas das profissões criadas eram inclusive cadeiras de outros cursos.
SILVIO BOCK - Como zootecnia era uma cadeira de veterinária, tempos atrás. E acaba se destacando. Esse preâmbulo é importante para dizer que não é do nada, não são invenções simplesmente. Elas conseguem captar uma necessidade. Se elas vão sair da ideia do campo para se transformar em mercado são outros quinhentos. Então, por exemplo, os cursos da USP, tirando duas ou três exceções da zona leste, são invencionices que não tiveram respaldo no mercado de trabalho. Aquele curso de gerontologia foi uma invencionice porque gerontologia é um campo de trabalho da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da fonoaudiologia, da terapia ocupacional, é um campo conhecido.
FOLHA - Mas vemos sinais, no mundo todo, que a população idosa está crescendo, e muito, será que não há uma defasagem de médicos, fisioterapeutas e profissionais para atender esse público? Será que não há de fato uma demanda que não vem sendo suprida?
SILVIO BOCK - Isso tem que ser levado em conta. Mas de qualquer forma é uma invencionice, porque as pessoas não encontram local para trabalhar. Porque pode ser uma especialização de várias possibilidades. Não sou contra, de repente poderia ser um belíssimo curso de pós, mas fazem uma graduação. Aí temos o problema específico do curso de obstetrícia. Quer dizer, inventaram esse curso em cima de uma justificativa até lógica, só que a própria USP não reconheceu os formandos de obstetrícia, tanto é que o curso foi transformado em um curso de enfermagem. Então, os cursos da USP, a parte têxtil houve um bom reconhecimento, até mudou de nome, ele atingiu de fato uma necessidade, é um curso que teve respaldo e teve um reflexo na realidade. Mas outros, o marketing, por exemplo, é uma área existente, que eles traduzem num curso específico. Aí a pergunta é como é que as pessoas chegam no marketing, ou via publicidade ou pela administração de empresas, são duas possibilidades de formação. A USP inventa esse curso, que pode ser interessante, mas não fica claro que profissional é esse. Então, nós temos que tomar cuidado em falar de novas áreas de intervenção e novos cursos. Quer dizer, a nanotecnologia é uma área que já existe, está havendo um desenvolvimento visível, já tem físicos, engenheiros trabalhando com isso, e de repente surge uma nova área, como a biotecnologia também, área de trabalhar com genética, transgênicos... e a nossa questão geral é que o problema da graduação é que cada vez existem mais especialidades, esse educomunicação, da USP, é muito interessante, é feito na comunicação, quer dizer... habilita para dar aulas de comunicação e desenvolver projetos midiáticos no ensino fundamental e no terceiro setor. É uma coisa muito interessante, formar um profissional para essa área, não acho ruim. Agora... tem pedagogia aqui? Cadê a pedagogia? Não estou vendo... não tem. É um curso que está percebendo uma realidade, agora, saber se ele vai encontrar respaldo nessa realidade é outra história. A FAAP tem um curso de pós nessa área, de educomunicação. Aí vem gente da comunicação, da pedagogia, da psicologia. Então, na minha opinião, falta um pouco de critério. As faculdades privadas estão garimpando mercado e buscando novas possibilidades de ganho. Quem é muito perspicaz nisso é a Anhembi, que tem muitos cursos diferentes. Alguns pegam e outros não pegam. Os que não pegam eles fecham, não tem problema algum, e logo lançam outros.
FOLHA - Nessa questão da nanotecnologia, há um documento, do programa preliminar do Plano Plurianual 2004 - 2007 para Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia no Brasil que alega inviabilidade na criação de cursos de graduação.
SILVIO BOCK - Vamos lembrar... isso de não ser viável é complicado. Muitos anos atrás surgiu um curso de oceanografia no Rio de Janeiro, criada pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em 1979. E a USP falava não, oceanografia não pode ser um curso de graduação, tem que ser um curso de pós-graduação, eles tinham o instituto oceanográfico, tinham uma belíssima pós-graduação e nunca abriram o curso de oceanografia. Estamos falando da década de 80, 90, eles tinham essa posição. E hoje, recentemente, a própria USP abriu um curso de oceanografia. Quer dizer, falar que não é viável também não diz muita coisa. Não é viável segundo a perspectiva de alguém.
FOLHA - Temos que alertar o pessoal sobre os cursos "caça-níquel", que em entidades privadas são compreensíveis, mas nas públicas, acontecem por pura falta de critério?
SILVIO BOCK - Eu me interessei e fui atrás de informações para saber porque fizeram esses cursos na zona leste. E a resposta é que foram feitos estudos, e que não pode haver cursos de pós-graduação na mesma área, é uma norma do estatuto. Mas vamos lembrar outras histórias. A USP, muitos anos atrás, teve uma divisão no curso de Educação Física e criaram o curso de Esportes. Então hoje existe esportes e educação física, que não existia antes. Se você verificar porque isso aconteceu, o que aconteceu, há um estudo aprofundado? Que nada, é uma briga de departamento, uma briga de pessoas e existe até hoje perturbando a vida de nossos infelizes alunos do ensino médio que precisam optar entre um e outro e nunca fica muito claro o que o outro faz. Então não dá pra pensar que tudo foi feito numa sólida base... quer dizer, o curso de gerontologia não precisa fazer pesquisa, é só pegar a questão demográfica no mundo e no Brasil também, a população idosa é crescente, por isso várias profissões começam a se dedicar também a questão do idoso, então você tem o turismo do idoso, a fisioterapia, a medicina, a terapia ocupacional, a educação física... e aí se cria o curso de gerontologia, que traz um foco específico, o que é interessante, mas... onde é que vai trabalhar esse cara da gerontologia, que não é médico, que não é fisioterapeuta, que não é educador, eu não sei. Não sei se vai encontrar espaço, apesar de dizer: o mundo está envelhecendo. As profissões não surgem do nada, na verdade a necessidade vem se constituindo na mudança da sociedade, nas mudanças da tecnologia, e de repente um curso se destaca. Em geral já existem pessoas intervindo nessa área antes da formalização do curso, quase sempre, se não for um curso inventado. A nanotecnologia surgiu porque algumas pessoas de algumas áreas, principalmente da química, começaram a atuar nessa área, lógico que é uma área nova. Agora, se formar nessa possibilidade diretamente é um risco, porque você não tem outras formações que pudessem te deixar mais flexível no mercado, por outro lado, você tem uma superespecialização que é uma vantagem. No caso da nanotecnologia que dizem que é uma tecnologia que veio pra ficar, que está nas nossas vidas, não que seja futuro, já está presente em nossas vidas. Aí depende de caso por caso, porque no Brasil nós temos a tradição de uma formação muito específica. Estava lendo um artigo de um pesquisador, engenheiro, onde ele propõe a normatização de nomenclatura para cursos. Porque hoje, a USP oferece vinte e tantas engenharias, e tem muito mais. Engenharia física, será que é necessária? Com esse nome? Alguém inventou.. então é um movimento de pêndulo, é um avanço que pode também significar um retrocesso, pode significar ainda uma esperteza de alguém para abrir um curso e capturar algum tostão, a universidade pública não é tão bonita e perfeita, um grupo de professores que decide rachar e consegue poder para instituir uma nova faculdade...
FOLHA - Como se precaver?
SILVIO BOCK - Tem que buscar informações de todos os lados. Ele tem que não só ler o folheto do curso, que é uma fonte de informação, mas tentar buscar outras possibilidades, conversando com profissionais, da área ou que estão próximos da área. Também pesquisando a qualidade da instituição que oferece o curso, hoje se tem a avaliação da instituição como um todo, o MEC promove, se é uma instituição que está bem ou não avaliada, também dá o caráter disso.
FOLHA - Na sua opinião, algum dos cursos não deveria estar na lista?
SILVIO BOCK - A obstetrícia, da USP, educação especial, eu não entendo isso. Eu sou pedagogo de formação, é uma possibilidade de formação dentro da pedagogia e já existia, não é nova, quer dizer, é nova em função deste momento, que fala-se em legislação específica da área, que busca integração, mas dizer que é nova, não sei. Jogos digitais é uma realidade de fato, que junta design com computação. Agroecologia, eu conheço mil intervenções. É um curso específico para fazer a produção agrária de forma ecológica. É uma visão, eu conheço a termacultura, que é uma filosofia de resposta ao mundo, de como deveriam ser as moradias e o plantio. Essa aqui pega uma moda, perfeito... agora, porque não ser uma grande cadeira do curso de agronomia? Petróleo e gás, na verdade poderia ser uma especialização de cursos que já existem como engenharia de minas e geologia, que vem com essa moda do pré-sal, que vai contra o digamos assim, pessoal mais ecológico.
FOLHA - Sobre as graduações tecnológicas...
SILVIO BOCK - Essas formações tecnológicas se multiplicaram com a ideia de suprir as necessidades regionais. É como o curso de fotografia do SENAC, é super legal, mas quatro anos... é como esse outro de estética, o visagismo. É ótimo, mas podia ser tecnológico, e não bacharelado de quatro anos... mas isso ainda precisa se provar no mercado. A questão do mercado de trabalho no Brasil é uma coisa complicada, primeiro porque há uma disfunção salarial muito desequilibrada, e o mercado se aproveita disso. Então, de repente, o mercado pode começar a considerar que a formação tecnológica é uma formação de segunda linha. Eu não sou contra, mas pode considerar, e a pessoa pode ter dificuldades de ascensão por não ter bacharelado. Pode ser um critério de seleção. Mas ainda é muito pouco tempo pra que se tenha clareza, o que se sabe é que esse mercado tecnológico na área de eletrônica tem sido capaz de incorporar as pessoas formadas. Mas será que está havendo uma diferenciação (e isso eu não sei te responder) entre salários e cargos de tecnólogos e bacharéis?
FOLHA - De qualquer maneira, os tecnólogos podem continuar complementando a formação.
SILVIO BOCK - Podem inclusive complementar seus estudos e conseguir um bacharelado, ou entrar direto em uma pós, sem problema algum.
Créditos: Jornal Folha de São Paulo Online, em 19/09/2010 | Imagem: NACE - Orientação Vocacional
O método da abordagem sócio-histórica, criado por ele, leva em conta a evolução da sociedade, das instituições e das tecnologias. E emprega um processo que contextualiza as necessidades e anseios da adolescência com a realidade do mercado e dos campos de trabalho.
Confira a entrevista com o consultor, para o Jornal Folha de S. Paulo, onde fala sobre as profissões recém-criadas:
FOLHA - Como surgem as novas profissões?
SILVIO BOCK - Mercado de trabalho é uma relação concreta de oferta e procura. Campo de trabalho é o potencial de trabalho que uma dada área, não necessariamente convertida em mercado, possui. E aí estão incluídos os campos já conhecidos e os campos a conhecer. Ou seja, estou dizendo que as profissões e ocupações têm movimento, elas não são estáticas no tempo. Se as profissões quiserem continuar existindo, logicamente elas têm que criar novos campos de trabalho, novas possibilidades de intervenção o que as profissões tradicionais fazem com muita percepção da realidade, novas possibilidades. O direito, por exemplo, área mais tradicional do que esta não existe. E você tem áreas novas como o direito internacional, o direito ambiental, o direito do consumidor que é muito recente, os direitos difusos que existem hoje e são estudados na USP, quer dizer, as profissões são capazes de criar novos campos de trabalho. Isso é importante dizer, elas não surgem do nada essas necessidades, esses novos cursos. Provavelmente elas já existem na realidade e as instituições captam essa existência, ou uma tendência e acabam colocando isso de uma maneira formalizada na universidade, ou num curso técnico, ou num curso livre.
FOLHA - Muitas das profissões criadas eram inclusive cadeiras de outros cursos.
SILVIO BOCK - Como zootecnia era uma cadeira de veterinária, tempos atrás. E acaba se destacando. Esse preâmbulo é importante para dizer que não é do nada, não são invenções simplesmente. Elas conseguem captar uma necessidade. Se elas vão sair da ideia do campo para se transformar em mercado são outros quinhentos. Então, por exemplo, os cursos da USP, tirando duas ou três exceções da zona leste, são invencionices que não tiveram respaldo no mercado de trabalho. Aquele curso de gerontologia foi uma invencionice porque gerontologia é um campo de trabalho da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da fonoaudiologia, da terapia ocupacional, é um campo conhecido.
FOLHA - Mas vemos sinais, no mundo todo, que a população idosa está crescendo, e muito, será que não há uma defasagem de médicos, fisioterapeutas e profissionais para atender esse público? Será que não há de fato uma demanda que não vem sendo suprida?
SILVIO BOCK - Isso tem que ser levado em conta. Mas de qualquer forma é uma invencionice, porque as pessoas não encontram local para trabalhar. Porque pode ser uma especialização de várias possibilidades. Não sou contra, de repente poderia ser um belíssimo curso de pós, mas fazem uma graduação. Aí temos o problema específico do curso de obstetrícia. Quer dizer, inventaram esse curso em cima de uma justificativa até lógica, só que a própria USP não reconheceu os formandos de obstetrícia, tanto é que o curso foi transformado em um curso de enfermagem. Então, os cursos da USP, a parte têxtil houve um bom reconhecimento, até mudou de nome, ele atingiu de fato uma necessidade, é um curso que teve respaldo e teve um reflexo na realidade. Mas outros, o marketing, por exemplo, é uma área existente, que eles traduzem num curso específico. Aí a pergunta é como é que as pessoas chegam no marketing, ou via publicidade ou pela administração de empresas, são duas possibilidades de formação. A USP inventa esse curso, que pode ser interessante, mas não fica claro que profissional é esse. Então, nós temos que tomar cuidado em falar de novas áreas de intervenção e novos cursos. Quer dizer, a nanotecnologia é uma área que já existe, está havendo um desenvolvimento visível, já tem físicos, engenheiros trabalhando com isso, e de repente surge uma nova área, como a biotecnologia também, área de trabalhar com genética, transgênicos... e a nossa questão geral é que o problema da graduação é que cada vez existem mais especialidades, esse educomunicação, da USP, é muito interessante, é feito na comunicação, quer dizer... habilita para dar aulas de comunicação e desenvolver projetos midiáticos no ensino fundamental e no terceiro setor. É uma coisa muito interessante, formar um profissional para essa área, não acho ruim. Agora... tem pedagogia aqui? Cadê a pedagogia? Não estou vendo... não tem. É um curso que está percebendo uma realidade, agora, saber se ele vai encontrar respaldo nessa realidade é outra história. A FAAP tem um curso de pós nessa área, de educomunicação. Aí vem gente da comunicação, da pedagogia, da psicologia. Então, na minha opinião, falta um pouco de critério. As faculdades privadas estão garimpando mercado e buscando novas possibilidades de ganho. Quem é muito perspicaz nisso é a Anhembi, que tem muitos cursos diferentes. Alguns pegam e outros não pegam. Os que não pegam eles fecham, não tem problema algum, e logo lançam outros.
FOLHA - Nessa questão da nanotecnologia, há um documento, do programa preliminar do Plano Plurianual 2004 - 2007 para Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia no Brasil que alega inviabilidade na criação de cursos de graduação.
SILVIO BOCK - Vamos lembrar... isso de não ser viável é complicado. Muitos anos atrás surgiu um curso de oceanografia no Rio de Janeiro, criada pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em 1979. E a USP falava não, oceanografia não pode ser um curso de graduação, tem que ser um curso de pós-graduação, eles tinham o instituto oceanográfico, tinham uma belíssima pós-graduação e nunca abriram o curso de oceanografia. Estamos falando da década de 80, 90, eles tinham essa posição. E hoje, recentemente, a própria USP abriu um curso de oceanografia. Quer dizer, falar que não é viável também não diz muita coisa. Não é viável segundo a perspectiva de alguém.
FOLHA - Temos que alertar o pessoal sobre os cursos "caça-níquel", que em entidades privadas são compreensíveis, mas nas públicas, acontecem por pura falta de critério?
SILVIO BOCK - Eu me interessei e fui atrás de informações para saber porque fizeram esses cursos na zona leste. E a resposta é que foram feitos estudos, e que não pode haver cursos de pós-graduação na mesma área, é uma norma do estatuto. Mas vamos lembrar outras histórias. A USP, muitos anos atrás, teve uma divisão no curso de Educação Física e criaram o curso de Esportes. Então hoje existe esportes e educação física, que não existia antes. Se você verificar porque isso aconteceu, o que aconteceu, há um estudo aprofundado? Que nada, é uma briga de departamento, uma briga de pessoas e existe até hoje perturbando a vida de nossos infelizes alunos do ensino médio que precisam optar entre um e outro e nunca fica muito claro o que o outro faz. Então não dá pra pensar que tudo foi feito numa sólida base... quer dizer, o curso de gerontologia não precisa fazer pesquisa, é só pegar a questão demográfica no mundo e no Brasil também, a população idosa é crescente, por isso várias profissões começam a se dedicar também a questão do idoso, então você tem o turismo do idoso, a fisioterapia, a medicina, a terapia ocupacional, a educação física... e aí se cria o curso de gerontologia, que traz um foco específico, o que é interessante, mas... onde é que vai trabalhar esse cara da gerontologia, que não é médico, que não é fisioterapeuta, que não é educador, eu não sei. Não sei se vai encontrar espaço, apesar de dizer: o mundo está envelhecendo. As profissões não surgem do nada, na verdade a necessidade vem se constituindo na mudança da sociedade, nas mudanças da tecnologia, e de repente um curso se destaca. Em geral já existem pessoas intervindo nessa área antes da formalização do curso, quase sempre, se não for um curso inventado. A nanotecnologia surgiu porque algumas pessoas de algumas áreas, principalmente da química, começaram a atuar nessa área, lógico que é uma área nova. Agora, se formar nessa possibilidade diretamente é um risco, porque você não tem outras formações que pudessem te deixar mais flexível no mercado, por outro lado, você tem uma superespecialização que é uma vantagem. No caso da nanotecnologia que dizem que é uma tecnologia que veio pra ficar, que está nas nossas vidas, não que seja futuro, já está presente em nossas vidas. Aí depende de caso por caso, porque no Brasil nós temos a tradição de uma formação muito específica. Estava lendo um artigo de um pesquisador, engenheiro, onde ele propõe a normatização de nomenclatura para cursos. Porque hoje, a USP oferece vinte e tantas engenharias, e tem muito mais. Engenharia física, será que é necessária? Com esse nome? Alguém inventou.. então é um movimento de pêndulo, é um avanço que pode também significar um retrocesso, pode significar ainda uma esperteza de alguém para abrir um curso e capturar algum tostão, a universidade pública não é tão bonita e perfeita, um grupo de professores que decide rachar e consegue poder para instituir uma nova faculdade...
FOLHA - Como se precaver?
SILVIO BOCK - Tem que buscar informações de todos os lados. Ele tem que não só ler o folheto do curso, que é uma fonte de informação, mas tentar buscar outras possibilidades, conversando com profissionais, da área ou que estão próximos da área. Também pesquisando a qualidade da instituição que oferece o curso, hoje se tem a avaliação da instituição como um todo, o MEC promove, se é uma instituição que está bem ou não avaliada, também dá o caráter disso.
FOLHA - Na sua opinião, algum dos cursos não deveria estar na lista?
SILVIO BOCK - A obstetrícia, da USP, educação especial, eu não entendo isso. Eu sou pedagogo de formação, é uma possibilidade de formação dentro da pedagogia e já existia, não é nova, quer dizer, é nova em função deste momento, que fala-se em legislação específica da área, que busca integração, mas dizer que é nova, não sei. Jogos digitais é uma realidade de fato, que junta design com computação. Agroecologia, eu conheço mil intervenções. É um curso específico para fazer a produção agrária de forma ecológica. É uma visão, eu conheço a termacultura, que é uma filosofia de resposta ao mundo, de como deveriam ser as moradias e o plantio. Essa aqui pega uma moda, perfeito... agora, porque não ser uma grande cadeira do curso de agronomia? Petróleo e gás, na verdade poderia ser uma especialização de cursos que já existem como engenharia de minas e geologia, que vem com essa moda do pré-sal, que vai contra o digamos assim, pessoal mais ecológico.
FOLHA - Sobre as graduações tecnológicas...
SILVIO BOCK - Essas formações tecnológicas se multiplicaram com a ideia de suprir as necessidades regionais. É como o curso de fotografia do SENAC, é super legal, mas quatro anos... é como esse outro de estética, o visagismo. É ótimo, mas podia ser tecnológico, e não bacharelado de quatro anos... mas isso ainda precisa se provar no mercado. A questão do mercado de trabalho no Brasil é uma coisa complicada, primeiro porque há uma disfunção salarial muito desequilibrada, e o mercado se aproveita disso. Então, de repente, o mercado pode começar a considerar que a formação tecnológica é uma formação de segunda linha. Eu não sou contra, mas pode considerar, e a pessoa pode ter dificuldades de ascensão por não ter bacharelado. Pode ser um critério de seleção. Mas ainda é muito pouco tempo pra que se tenha clareza, o que se sabe é que esse mercado tecnológico na área de eletrônica tem sido capaz de incorporar as pessoas formadas. Mas será que está havendo uma diferenciação (e isso eu não sei te responder) entre salários e cargos de tecnólogos e bacharéis?
FOLHA - De qualquer maneira, os tecnólogos podem continuar complementando a formação.
SILVIO BOCK - Podem inclusive complementar seus estudos e conseguir um bacharelado, ou entrar direto em uma pós, sem problema algum.
Créditos: Jornal Folha de São Paulo Online, em 19/09/2010 | Imagem: NACE - Orientação Vocacional
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