Que lugar sobrou para os contos de fada em uma sociedade onde tudo parece ser “realmente miserável” ? Essa pergunta pode parecer soar estranha, mas mesmo assim ela se mantém ! Como, em um mundo aparentemente tomado pela superficialidade, pela rapidez da vida, pela “depressão” os contos de fadas podem se manter ?
Neste mundo onde por muitas vezes a realidade parece rivalizar com a ficção, será que ainda existe lugar para os contos de fada ? A resposta é sim ! E por quê ? Pelo simples motivo de que estes contos, aparentemente ingênuos em um primeiro olhar, trazem consigo importantes “imagens” e “conceitos” que ajudam tanto aos adultos, mas principalmente as crianças, a formarem um aprendizado sobre as relações da vida, mesmo que de forma inconsciente. Isso acontece principalmente quando nos identificamos com esta ou com aquela personagem de um determinado conto, e quando esta mesma personagem deve resolver algo aparentemente impossível para obter um bem comum, ou uma realização posterior ! Agindo assim, aquele que desfrutou do conto pode agora interiorizar aquilo que aprendeu de forma mais simplificada !
Se você quiser saber uma pouco mais sobre este assunto, que para os alunos do terceiro ano é tema de nossas discussões iniciais sobre o século XX, pode ler um clássico sobre o assunto: A Psicanálise dos contos de fadas de Bruno Bettelheim, ou ainda clicar no continuar lendo abaixo que vai tratar um pouco melhor sobre este tema tão interessante ! Espero que goste ...
Os chamados contos de fadas vieram quiçá da própria necessidade humana de mentir ou de "enfeitar" a realidade. Porém, nas fábulas, que deram origem aos contos de fadas, se buscava uma lição final que cabia como um ensinamento para quem as ouvissem.
Curiosamente, "contos de fadas" possuem ou não a presença de fadas, contudo é condição sine qua non o encantamento, a magia, o sobrenatural como animais falantes, transmutações e seres monstruosos. Não esquecendo que eles, ao contrário das fábulas, contam quase sempre com a presença de um ou mais seres humanos, geralmente com um herói (ou heroína) em busca de resolver uma tarefa difícil, algo que certamente o levará a uma realização pessoal maior.
Todo mundo que lê um livro ou ouve uma história tem a predisposição, criança ou não, de incorporar normalmente este ou aquele personagem. Daí, o valor dos contos e fábulas, principalmente para crianças, pessoas com facilidade em se projetar inconscientemente no todo ou em parte, o que simplifica certos aprendizados. Alguns educadores achavam até que livros para crianças não deveriam conter imagens pois privavam a imaginação de uma maior liberdade. Discutível? Sim, como a literatura e qualquer arte em pauta.
POR DENTRO MABINOGION Trata-se de uma coletânea de manuscritos em galês medieval. O termo é oriundo de um engano cometido por Lady Charlotte Elizabeth Guest, tradutora inglesa que viveu no século XIX. Ela pressupôs que a palavra galesa "mabynogyon" fosse o plural de "mabinogi", expressão ainda hoje enigmática, quiçá derivada de "mab" (filho ou garoto). O professor Eric Hamp Pratt, no entanto, afirmava que "mabinogi" era uma extensão de "Maponos", uma divindade celta. Certo ou errado, o título permanece representando o Livro Branco de Rhydderch (Llyfr Gwyn Rhydderch) e o Livro Vermelho de Hergest (Llyfr Coch Hergest). Estes, sim, os mais antigos documentos escritos e completos existentes. |
'Personagens fictícios pouco ou nada podem vir a acrescentar na existência dos seres humanos...' Esta frase é uma falácia de uma corrente psicanalítica que insiste em desvalorizar o que existe de precioso numa rica biblioteca, por exemplo. É claro que não se pode responsabilizar os livros pela educação de A ou B, todavia, crianças e adultos, muitas vezes sentem-se atraídos para aquela "realidade" descrita por outrem, seja ela dramatizada por atores ou simplesmente escrita. Frases e comportamentos de um personagem costumam facilitar a compreensão de problemas bastante reais, auxiliando na sua resolução. Enquanto o herói (estereótipo mais comum) ou heroína da história ruma por florestas ou planetas distintos, a jornada existencial do leitor/ouvinte/espectador pode estar se processando numa estrada do mais detalhado autoconhecimento.
Geralmente, estas jornadas trazem em seu bojo algo tão comum na ficção quanto na realidade: é a "viagem" em si, isto é, o início da caminhada em busca de algum objetivo que pode ser um brinquedo novo ou aquela tão sonhada promoção na empresa; o embate com o vilão (patrão, professor tirânico, por vezes, a própria mãe ou o pai, dependendo da visão do/da "protagonista"); a conquista do objetivo em si (aqui, a realidade se diferencia da fantasia, podendo efetivar-se ou não) e a comemoração (outro diferencial entre real e fantástico: a fábula encerra-se, fecha-se, "blablablá e viveram felizes para sempre", enquanto a vida permanece e prossegue, só sendo interrompida com a morte, sem tempo para um "moral da história".
Fábulas são velhas, muito, mas muito antigas mesmo. Geralmente, contam milhares de anos, passando de geração a geração adaptando-se a eras e culturas das mais díspares. A tradição oral perde-se nos tempos. Possivelmente, a primeira ficção escrita tenha sido o poema anglo-saxão Beowulf, transcrito por volta do século VII. Sob o olhar atento dos filósofos de então, seres pensantes tão antigos quanto o pensamento e o gesto, surgiriam as fábulas e consequentemente os contos de fadas, nos livros denominados Mabinogion, quatro narrativas independentes advindas da Gália no século IX, ciclo que originaria mais tarde as lendas arturianas (aventuras épicas do Rei Arthur, personagem fictício) e dando início a uma nova era de histórias ficcionais, sem a preocupação de descrições realistas - o homem desde sempre apoiando-se na ficção em busca de respostas para seus dilemas.
No século XII, a cultura celta-britânica sofre uma diluição por parte do cristianismo, perdendo seu caráter fantasioso-realista e incorrendo numa fase fantasiosa e absurda, donde não mais se livrou.
As escolas filosóficas de então adotam lendas e narrativas orais em seus estudos e o homem passa de simples espectador a herói, o mito nascia com força total e o aval dos pensadores. Era o homem, senhor de si a tal ponto que poderia conquistar o planeta.
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Andersen, La Fontaine, Perrault, Esopo, Carrol e os irmãos Grimm - estes nomes são dos papas das histórias infantis. Vamos falar de um por um, em ordem cronológica.
Esopo - O mais mítico do "sexteto" acima nasceu supostamente na Grécia, em alguma cidade não identificada. A paternidade do gênero é inclusive atribuída a ele. Jean de La Fontaine serviu-se muitas vezes das histórias de Esopo, que teria vivido na Antiguidade, por volta do século VI a.C Demétrio de Falero escreveu sobre ele em 325 a.C. e narrava que ele teria sido um escravo libertado por seu senhor devido à beleza de suas fábulas, geralmente protagonizadas por animais, contudo com grandes lições humanas no final. Esopo mesmo nunca escreveu nada, pois era de um tempo da tradição oral.
La Fontaine - Jean de La Fontaine nasceu em Paris no ano de 1621. Apesar de estudar teologia e direito, sua influência maior foi a literatura. Aos 26 anos, por pressão paterna casou-se com Marie, de apenas 14 anos. Um casamento fracassado, que gerou um filho. Tornar-se-ia inspetor de águas como o pai, contudo, escrever já estava em seu sangue. Antes de ser fabulista, tentou a teologia e a poesia, sem muita repercussão. A grande obra de sua vida chamou-se nada casualmente de... Fábulas e foi escrita em três partes, entre 1668 e 1694. Assim como Esopo teria a pecha de criar a fábula, La Fontaine leva a fama de pai da fábula moderna. Morreu em 1695.
Charles Perrault - Nascido a 12 de janeiro de 1628, escritor e poeta, baseou-se nas fábulas para criar o Conto de Fadas. Se os citados anteriormente possuem paternidade nas fábulas, Perrault seria o pai da literatura infantil. Foi advogado e superintendente do Rei Sol, Luis XIV, e contemporâneo e conterrâneo de La Fontaine. Sua vida pessoal não condizia muito com suas historinhas como Chapeuzinho Vermelho e O Gato de Botas. Casou-se com Marie Guichon, morta antes dos 30 anos dando à luz uma menina.
Na Academia Francesa, Perrault protagonizou uma disputa intelectual, a Querela dos Antigos e Modernos.
Os Antigos defendiam a antiguidade greco-romana; Os Modernos, contudo, liderados por Perrault, afirmavam que a literatura francesa em nada ficava a dever ao passado. Faleceu em 1703.
POR DENTRO ACADEMIA FRANCESA A Academia Francesa foi criada em 1635 pelo Cardeal de Richelieu, o principal ministro e o homem forte do reinado de Luís XIII, e reunia as mais proeminentes pessoas instruídas nos assuntos relativos ao idioma francês. Fechada em 1793, durante a Revolução Francesa, foi novamente instituída por Napoleão Bonaparte, em 1803. É a mais antiga das cinco academias que compõem o Instituto da França. |
Em 1854, editaram um dos maiores dicionários do idioma germânico.
Cinco anos após, Wilhelm vem a falecer. Jacob seguiu a obra sozinho e veio a morrer em 1863.
Hans Christian Andersen - Nasceu na Dinamarca em 1805. Escritor muito precoce, essa habilidade lhe garantiu um lugar para trabalhar e estudar. Ainda adolescente, foi para Copenhague, onde trabalhou em teatro como ator e bailarino. Ainda que alguns o considerassem lunático, Andersen escrevia maravilhosamente, e ao publicar seus contos infantis, se notabilizou de vez. Escreveu mais de 150 histórias e morreu em 1875.
Lewis Carrol - Inglês, nasceu em 1832. Era e escritor e matemático. Educado sob rígidos preceitos religiosos, recusou-se a permanecer assim, entrando para a universidade de Oxford. Carrol adorava enigmas, mágicas e jogos matemáticos. Ficou fascinado quando surgiu a fotografia. Tinha uma estranha predileção por meninas, vindo daí seu maior romance: Alice no País das Maravilhas. Faleceu em 1898.
ORIGEM BEOWULF Trata-se de um poema épico, escrito em língua anglo-saxã com o emprego de aliteração. Com 3.182 linhas, é o poema mais longo do pequeno conjunto da literatura anglo-saxã e um marco da literatura medieval. Apesar de haver sido escrito na atual Inglaterra, a história se refere a eventos ocorridos na Escandinávia, mais especificamente nas atuais Suécia e Dinamarca. O poema está centrado nos feitos de Beowulf, herói da tribo dos gautas (originários da atual Götaland, Suécia) que com sua excepcional força e coragem livra os dinamarqueses da ameaça de dois monstros diabólicos e, já coroado rei do seu povo, combate e mata um dragão, numa batalha que acaba por custar-lhe a vida. O único manuscrito existente de Beowulf data do século XI, mas acredita-se que o poema original possa ter sido escrito antes. A narrativa é lendária, mas alguns eventos e personagens possivelmente históricos dos séculos V e VI são também referidos no texto. (fonte:Wikipédia) |
Alexander Afanasyev Nikolayevich nasceu na Rússia em 1826 e possui um recorde invejável: publicou mais de 600 lendas e contos de fadas, sendo o maior número de contos de um único autor. Não à toa, ficou conhecido como o equivalente russo dos Irmãos Grimm. Antes de tornar-se o fabulista que foi, estudou direito e deu aulas de história, quando de repente aderiu ao jornalismo. A partir daí, Nikolayevich passou a tecer longos comentários sobre literatura antiga, até chegar à compilação de contos populares. Sua intenção era que o idioma pátrio superasse o francês na aristocracia russa. Seu trabalho como pesquisador, por volta de meados do século XIX, teve a ajuda do brilhante lexicógrafo e poliglota Vladimir Dal. O trabalho de Afanasyev influenciou escritores e até músicos como Stravinsky (O Pássaro de Fogo e A História de Um Soldado, entre outras obras).
Os problemas com a oposição da Rússia czarista foram minando as forças de um verdadeiro gênio literário. Alexander Nikolayevich morreu muito pobre, depois de vender a maior parte de sua biblioteca, em Moscou, aos 45 anos de idade.
Professor Geraldo,
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa. Realmente é uma questão que deve ser resgatada pela sociedade qual a função do hábito de se contar histórias, já que elas tiveram, e acredito que ainda têm, uma papel pedagógico poderoso, mas infelizmente ignorado nos dias atuais. Gostaria de saber também quem é o autor da ilustração que abre a postagem. O Senhor poderia me dizer?
Obrigado.
Marcelo Menezes
gostei to seguindo
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