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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Atualidades 59 - Um Povo Orgulhoso de seu País, Acima do Drama

– Chi-chi-chi le-le-le.


Assim os chilenos cantam, aos gritos, neste momento em que seu país dá uma demonstração de orgulho nacional, em meio ao resgate dos 33 mineiros.


– Viva o Chile, merda!
Desse jeito berrou o mineiro Mario Sepúlveda, mal chegava à superfície, pouco antes de distribuir pedras recolhidas do fundo da mina para presentear seus compatriotas com o fruto das profundezas nacionais.
Não são simples demonstrações isoladas de orgulho nacional. O Chile, de norte a sul, dá esse atestado do civismo que une os socialistas da ex-presidente Michelle Bachelet ao atual, o centro-direitista Sebastián Piñera – os dois discursaram, os dois sorriram e os dois proclamaram a mesma palavra: “orgulho”.
– Assim somos nós: um país que enfrentou disputas de fronteiras e aprendeu a ter um forte sentido de nação. Um país que tem forte vocação internacionalista, mas, paradoxalmente, um nacionalismo impressionante. É a cara e a coroa. A abertura para o mundo. Falei em paradoxo? É um aparente paradoxo. A cara e a coroa se completam – interpretou o sociólogo chileno Lucio Lara.
A propósito de orgulho, um ídolo do Chile disse que o episódio dos mineiros exacerbou o sentimento de nacionalidade chilena. Nascido em Valparaiso, Elias Ricardo Figueroa Brander, o capitão do Inter, bicampeão brasileiro em 1975 e 1976, não nega sua aproximação com os socialistas, mas festeja Piñera.
– Somos um país que se une nestes momentos – resumiu Figueroa, que já organiza um jogo de futebol beneficente para o próximo 26 de dezembro, ao qual será convidado o ex-jogador da seleção chilena Franklin Lobos, um dos mineiros resgatados na mina.
Figueroa revela seus planos:
– Conheço Lobos. Vou convidá-lo para participar do jogo, que terá jogadores que atuam no Chile e no exterior. Ele pode até não jogar, mas será homenageado.
Em SP, o cônsul do Chile, Aldo Famolaro, deu o tom do que sente, neste momento, um chileno que está longe do seu país.
– Foi uma emoção ver a união de tantos compatriotas e amigos do Chile, sejam instituições, pessoas ou governos, ajudando a possibilitar esse pequeno grande milagre – emocionou-se.


O desabamento

Um grupo de trabalhadores nas minas de San José, no norte do Chile, ficou soterrado por causa de um desabamento que bloqueou a galeria de acesso à mina em Copiapó, a 800 quilômetros da capital do país, Santiago. Depois de 17 dias de silêncio, um bilhete foi recebido na superfície dizendo que todos os 33 trabalhadores estavam bem. Apesar disso, o resgate, que teve início no dia 31 de agosto, deve durar quatro meses, já que envolve a perfuração do solo até o local onde estão os mineiros, trabalho que deve avançar seis metros por dia.

Enquanto isso, as vítimas se comunicam com o resgate por meio de mensagens enviadas por tubos, batizados de pombo correio. Pelo cano, também desceu a câmera que eles usaram para mostrar como estão e uma Bíblia em miniatura, enviada por um pastor. Nas imagens, eles mostram que foram capazes de organizar uma rotina e uma área para cada atividade. Todos já superaram a desidratação e, aos poucos, se recuperam da desnutrição. Entre eles há um enfermeiro, que recolhe material para exame de sangue e urina e ajuda a dar os remédios que são enviados. O chefe do serviço médico da Nasa, que esta semana se junta aos esforços de resgate, ficou impressionado com a organização.

No dia 30 de agosto, eles puderam falar pela primeira vez ao telefone com alguns familiares. Cada família teve direito a um minuto, durante o qual os psicólogos aconselharam os familiares a manterem um tom otimista durante a conversa. “Foi muito emocionante voltar a ouvir a voz do meu filho. Estava forte e muito nítida. Ele disse que estava bem. Foi uma conversa curta, mas suficiente”, disse um dos pais a agências de notícias.


Vivendo debaixo da terra

O mais velho do grupo, Mário Gomez, que tem 63 anos e é líder espiritual do grupo, escreveu que os 33 mineiros estavam vivos, após passarem mais de duas semanas em um refúgio de 50 metros quadrados, alimentando-se apenas com algumas latas de peixe, geleia de pêssego e leite estocados.


As famílias dos 33 mineiros estão acampadas desde o dia do acidente e voluntários preparam as refeições e separam as doações que chegam. Comida, aliás, é um tema recorrente nas cartas que chegam do fundo da terra. Há relatos do acidente, provas de força, declarações de amor e até um pedido de casamento. Os responsáveis pelo resgate têm orientado as famílias a ter cuidado com o que escrevem, e revisam tudo antes de enviar. Em breve, cada mineiro vai ter dois minutos por dia para conversar diretamente com sua família.


A própria natureza do trabalho requer que os trabalhadores sejam resistentes e pacientes ao mesmo tempo. Na quinta-feira, 26 de agosto, eles receberam a primeira refeição sólida, com 800 calorias. No último domingo, dia 29, já chegaram a duas mil calorias – o necessário para um homem adulto por dia. Além disso, estão fazendo ginástica e já receberam até instruções de ioga.


Preparando o resgate


A empresa para qual trabalhavam os mineradores estava quase falida e há anos funcionava sem condições de segurança. A chaminé de ventilação não tinha a largura necessária para servir de rota de fuga. Hoje, tudo que os mineradores precisam para sobreviver está sendo mandado por três sondas de sete centímetros de diâmetro, até que finalmente o resgate seja possível.


O Fim


Chegou ao fim na noite desta quarta-feira, dia 13 de outubro, o drama dos 33 mineiros que ficaram presos por mais de dois meses em uma mina no Deserto do Atacama, no Chile. A mina de cobre no norte do país desabou no dia 5 de agosto e os homens ficaram soterrados a uma profundidade de 700 metros.
Em uma operação sem precedentes na história da mineração mundial, os resgatados foram avaliados por médicos e passaram por exames para verificar suas condições gerais de saúde. O resgate começou por volta das 23h18 de terça-feira, dia 12 de outubro, com a descida do primeiro socorrista Manuel González Pavez, ao refúgio dos mineiros. Ele levou 17 minutos para descer os 622 metros do túnel de 66 cm de diâmetro, aparentemente sem problemas.
Florencio Ávalos, primeiro trabalhador a ser resgatado, vestiu a roupa e os óculos especiais e entrou na cápsula, que começou a subir às 23h55 e chegou à superfície à 0h11 de quarta-feira. Ele foi recebido com festa pela mulher Monica, o filho de sete anos Byron, a equipe de resgate e autoridades.
A TV estatal chilena e TVs de todo o mundo transmitiram os trabalhos ao vivo. Em entrevista, o presidente do Chile Álvaro Piñera prometeu que a mina não voltará a funcionar até que eventuais problemas de segurança sejam resolvidos.
O último mineiro a ser retirado - o líder do grupo, Luis Urzúa - chegou à superfície às 23h, pouco mais de 22 horas após o primeiro resgate. Aos gritos de "Chi-chi-chi le-le-le", Urzúa saiu da cápsula animado e, logo após abraçar seus familiares, começou a contar detalhes do drama vivido por ele e seus 32 colegas.
A euforia tomou conta não apenas do acampamento que cerca a mina, mas de todo o Chile. Imagens de TV mostravam chilenos chorando, agitando bandeiras e celebrando em várias cidades do país.
Teve início então a operação para retirar os seis socorristas que desceram ao local para ajudar os mineiros a subir. Pela câmera que filmou todo o resgate, eles mostravam uma faixa na qual se lia a frase "Missão cumprida, Chile". O sexto socorrista chegou à superfície à 0h30 desta quinta-feira, dia 14 de outubro.




Saúde


O ministro da Saúde chileno, Jaime Manalich, informou que a saúde dos mineiros resgatados estava melhor do que se esperava. Ele afirmou que alguns têm problemas dentários e nos olhos, por terem ficado tanto tempo na escuridão da mina. O médico Álvaro Alonso, que trabalha no hospital de Copiapó, para onde os 33 trabalhadores foram levados, também se surpreendeu com o bom estado de saúde deles e disse que a maioria deve deixar o local em menos de 48 horas.
A rapidez com que os resgates foram realizados surpreendeu inclusive as autoridades chilenas, que até a terça-feira anunciavam que a operação poderia durar até dois dias, o dobro do tempo real do resgate. Segundo autoridades, o processo foi agilizado porque não houve as complicações previstas com a fibra ótica que faz a comunicação com o interior da mina.

Operação de resgate


Antes da descida do socorrista González, dois testes foram feitos com a cápsula Fênix 2. Ela sofreu um dano na porta na primeira descida e teve de ser ajustada com um martelo. Por causa disso, houve atraso no início da operação, que estava previsto para começar por volta das 20h de terça-feira.
A cápsula avançava a uma velocidade de um metro por segundo. O túnel por onde ela passava foi escavado por uma perfuradora ao longo de 33 dias e ficou pronto no último sábado. A subida deveria durar cerca de 15 minutos, mas acabou durando mais nos primeiros resgates e sendo mais rápida nos últimos. A cápsula tem quatro metros de altura, 450 quilos e estava dotada de tubos de oxigênio, equipamento de comunicação e de um sistema de aferição dos sinais vitais de alta tecnologia.


A máquina perfuradora de 30 toneladas já está montada em cima do abrigo onde estão os mineiros. Mas ainda falta a chegada de uma parte do motor, que está na Alemanha e deve demorar a ser transportada ao local. Na ponta de um cano, há um equipamento que perfura o solo com uma largura pequena e depois refaz o percurso de escavação até chegar ao diâmetro de 70 centímetros.


Durante os quatro meses de resgate, os próprios mineiros vão ter que trabalhar duro na operação. À medida que o buraco for alargado, o cascalho vai caindo pela sonda-guia, formando uma espécie de ninho de formiga, que precisa ser retirado. Uma das tarefas será remover 12 toneladas de terra e de rochas por dia. Com este material, eles vão reforçar galerias que estejam abaladas, e cobrir seus dejetos, na área usada como banheiro, para evitar doenças. Outra preocupação é elaborar um sistema de luz para melhorar a orientação dos trabalhadores e prevenir a perda de cálcio.


O temor é que, passada a euforia de terem sido encontrados, a demora do resgate desanime o grupo. Mas os engenheiros que organizam a operação já pensaram num “plano B”. Como a rocha que provocou o acidente se acomodou e não há risco de outro deslizamento, outra perfuradora vai tentar chegar ao ponto mais raso da mina que os mineiros podem alcançar – a 300 metros de profundidade. Neste caso, dois túneis serão abertos paralelamente, o que deve aumentar as chances de sucesso e diminuir o prazo do resgate para dois meses.




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