Em 19 de agosto de 1991, a linha dura do comunismo soviético tentou um golpe contra o reformista Mikhail Gorbatchov. Eles queriam impedir o colapso da União Soviética, mas alcançaram justamente o contrário. |
Em 1991, a União Soviética estava em queda livre. A produção industrial
caía, o desemprego aumentava e uma inflação galopante devorava a
poupança dos cidadãos. Conflitos étnicos irrompiam por todos os lados, e
na Geórgia e no Azerbaijão manifestações oposicionistas haviam sido
reprimidas com violência meses antes.
A Lituânia havia sido a primeira das repúblicas socialistas soviéticas a
declarar sua independência, em março de 1990. Em janeiro de 1991,
Moscou enviou um comando especial da KGB para Vilnius e 14 pessoas
morreram durante a invasão à torre de televisão da capital lituana. A
ação não conseguiu trazer o país de volta ao império soviético. O
presidente Mikhail Gorbatchov perdia cada vez mais o controle sobre seu
país.
"A
União Soviética poderia e deveria ter sido salva", diz Gorbatchov hoje.
Na época, ele tentou criar uma espécie de "URSS 2.0", na qual as
repúblicas tivessem mais autonomia. Em março de 1991 Gorbatchov convocou
um referendo. Segundo dados oficiais, mais de 70% dos votantes foi
favorável à "manutenção da União Soviética como uma federação renovada,
formada por repúblicas soberanas e iguais em direitos".
Mas
como deveria ser essa nova União Soviética? As negociações na
residência Novo Ogariovo, de Gorbatchov, foram difíceis – apenas 9 das
15 repúblicas soviéticas participaram das reuniões. Mesmo assim os
presidentes ainda conseguiram negociar um novo tratado para manter o
país unido. A assinatura do acordo foi marcada para 20 de agosto de
1991, mas nunca aconteceu.
Tentativa de golpe
Um
dia antes da data marcada para a assinatura do tratado, em 19 de agosto
de 1991, aconteceu o que muitos no Ocidente temiam: um golpe contra
Gorbatchov. Um grupo da linha dura comunista – do qual faziam parte o
ministro da Defesa e o chefe do serviço secreto KGB – formou um "comitê
para o estado de emergência". Os velhos comunistas desconfiavam das
reformas de Gorbatchov. "Eles perceberam que não alcançariam nada pelos
meios políticos tradicionais. E por isso decidiram-se pelo golpe",
lembra Gorbatchov.
Com
a justificativa de que Gorbatchov estaria doente, os conspiradores
isolaram o chefe de Estado e sua família na residência de férias deles,
na Crimeia, e cortaram todas as conexões com o mundo exterior. Foi
declarado estado de emergência em toda a União Soviética, e tanques de
guerra ocuparam as ruas de Moscou. Os autores do golpe diziam que
queriam salvar a URSS de uma catástrofe.
Mas
o golpe de estado falhou. Agosto de 1991 foi o grande momento do
recém-eleito presidente da Rússia, Boris Ieltsin, que se declarava
adversário dos comunistas. Dezenas de milhares de pessoas reuniram-se em
frente ao edifício Casa Branca, sede do governo Ieltsin em Moscou, para
protestar contra o golpe. A manifestação foi pacífica, mas a situação
era confusa. Três pessoas morreram durante a noite, quando um tanque de
guerra passou pelo centro da cidade.
Depois
de três dias, o estado de emergência foi revogado e Gorbatchov,
visivelmente abatido, retornou a Moscou no dia 22 de agosto. Os autores
do golpe foram presos, alguns deles cometeram suicídio. O Partido
Comunista foi proibido no dia 29.
A
linha dura comunista pretendia salvar a União Soviética, mas o golpe
acabou tendo um efeito catalisador entre as repúblicas. Ainda durante a
situação de exceção, a Estônia declarou sua independência da União
Soviética, seguida pela Ucrânia e logo por outras repúblicas. Gorbatchov
tentava em vão fazer valer o novo tratado.
Três
meses após o golpe, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus
formaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia 26 de
dezembro de 1991, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi
oficialmente dissolvida, e Gorbatchov renunciou.
Erro primário
Duas
décadas depois, o especialista em Leste europeu Gerhard Simon, da
Universidade de Colônia, na Alemanha, ainda considera "intrigante" que o
colapso da URSS tenha se dado de forma tão rápida e relativamente não
violenta.
"Uma
potência mundial pode sair de cena dessa maneira, como no teatro, onde
se desce a cortina e todos vão para casa?" Para ele, a força da União
Soviética foi superestimada. "Em relação às armas atômicas eles eram
realmente fortes, mas, no que se refere ao poder econômico, a União
Soviética nunca esteve em condições de competir com os Estados Unidos."
A
concorrência entre o comunismo e o capitalismo teve papel central na
queda da URSS, opina Simon. "O sistema soviético também foi à ruína
porque existia o Ocidente, com uma melhor economia, mais liberdade, a
fascinação pelo 'Ocidente dourado'". Milhões de cidadãos da União
Soviética sonhavam com os produtos do mundo capitalista, como carros,
sapatos ou cosméticos que eles não podiam ter, argumenta o especialista.
"O 'maior erro' da propaganda e da ideologia soviéticas foi ter se
comparado com o mundo capitalista desde o início. Eles colocaram a corda
no próprio pescoço", diz Simon.
Ieltsin queria o fim da URSS
O
especialista em Leste europeu considera espantosa a situação no país
central da União Soviética. "Na história internacional é muito raro
isso, de grupos de sustentação do Estado – como a classe política russa –
não quererem mais a União Soviética." Simon refere-se a Ieltsin, que
teria tomado gosto pelo poder.
O
então presidente havia impulsionado a soberania da Rússia e mais tarde
ordenado que as autoridades soviéticas em Moscou não recebessem mais
pagamentos. "Ieltsin queria acabar com a União Soviética – sobre isso
não há a menor dúvida", afirma Simon.
Ieltsin
teria, no entanto, agido de maneira pouco altruísta frente às outras
repúblicas soviéticas, em 1991. O presidente russo pensava que Moscou
conseguiria manter sua influência na CEI, diz Simon. O fato de as coisas
terem sido diferentes mostra, diz o especialista, que Ieltsin – assim
como Gorbatchov – não teria avaliado bem as consequências de seus atos.
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