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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Atualidades 68 - O que é "bullying"?

Como explicar o comportamento esdrúxulo de três jovens que agrediram um casal de gays numa festa de faculdade desferindo contra os dois, além de chutes, xingamentos e latinhas de cerveja, toda a sua ira homofóbica? Como entender a atitude de um grupo de rapazes que achou que seria um tanto cômico tratar suas colegas como montaria subindo-lhe nas costas e gritando: "Pula, gorda!"? E ainda qual o problema da menina de 14 anos que usou a lâmina do próprio apontador para cortar - nove vezes - o rosto da companheira de classe?

O que é "bullying"?

Bullying é uma situação que se caracteriza por atos agressivos verbais ou físicos de maneira repetitiva por parte de um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo inglês refere-se ao verbo "ameaçar, intimidar". A versão digital desse tipo de comportamento é chamada de cyberbullying, quando as ameaças são propagadas pelo meio virtual.

Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas. E todo ambiente escolar pode apresentar esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), que estuda o problema há nove anos.

Segundo o médico, o papel da escola começa em admitir que é um local passível de bullying, informar professores e alunos sobre o que é e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática - prevenir é o melhor remédio. O papel dos professores também é fundamental. Eles podem identificar os atores do bullying - agressores e vítimas. "O agressor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar onde tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz isso no ambiente escolar", explica o especialista. Já a vítima costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída tanto na escola quanto no lar. "Por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir", afirma Lauro. Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno reage, a tendência é que a provocação cesse.

Claro que não se pode banir as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. O que a escola precisa é distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é tão difícil como parece. Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?", orienta o médico. Ao perceber o bullying, o professor deve corrigir o aluno. E em casos de violência física, a escola deve tomar as medidas devidas, sempre envolvendo os pais.

O médico pediatra lembra que só a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um agressor. "A tendência é que ele seja assim por toda a vida a menos que seja tratado", diz. Uma das peças fundamentais é que este jovem tenha exemplos a seguir de pessoas que não resolvam as situações com violência - e quem melhor que o professor para isso? No entanto, o mestre não pode tomar toda a responsabilidade para si. "Bullying só se resolve com o envolvimento de toda a escola - direção, docentes e alunos - e a família", afirma o pediatra.

Tão jovens, tão cruéis

Educador há mais de 37 anos e pai de Curtis - que morreu em consequência de um vida inteira de bullying -, Allan Beane é hoje um militante da causa "mais respeito, por favor!" O autor de Proteja Seu Filho do Bullying diz que o problema não se circunscreve à juventude. É um mal de toda a sociedade, que de modo geral está mais tolerante à violência - nas ruas, nas escolas, dentro de casa. Estamos apáticos em relação a dor dos outros, e lentos demais para ir em defesa de quem está sendo rechaçado, pisoteado, humilhado. E ainda por cima, comenta Beane, gostamos de responsabilizar as vítimas de agressão pelas próprias indiscrições ("Também, com aquele vestidinho rosa, o que ela esperava?"). Somos nós, portanto, enquanto sociedade, que estamos disfuncionais.

Por que tanta agressividade entre crianças, adolescentes e jovens até na universidade?
Às vezes, adolescentes machucam colegas por inveja, ou para serem aceitos por determinado grupo, ou pelo simples fato de que temem se tornar vítimas de maus-tratos. Pode ser que admirem a independência, o poder e a popularidade do valentão da escola. Às vezes, porém, a causa do bullying é muito mais simples. Adolescentes agem dessa forma porque sabem que não terão que lidar com as consequências de seus atos. Como adultos, muitas vezes ignoramos as atitudes agressivas de nossos filhos, não os orientamos corretamente. Como professores, não somos atentos, não prestamos atenção ao que está acontecendo nos banheiros, corredores, escadarias e playgrounds da escola. Aliás, o bullying se tornou um problema econômico, além de comportamental. De acordo com a Associação Americana de Medicina, 160 mil crianças preferem ficar em casa com medo de serem agredidas em seu caminho até a sala de aula. Há pesquisas sugerindo que 7% dos estudantes de oitava série matam, ao menos, um dia de aula por mês. E, como grande parte do financiamento às escolas é baseado na frequência dos alunos, esse é um problema educacional de larga escala. A organização Plan International estimou o custo do bullying para o mundo: US$ 60 bilhões. Agora, o custo para a humanidade é bem maior. Nossas crianças ficam mais ansiosas, depressivas, doentes. O bullying existe desde o jardim de infância até a faculdade, e, mais adiante, no ambiente de trabalho. Não está restrito aos jovens. Ocorre em todas as comunidades, em todas as escolas, em todas as esferas da vida.

Se a escola é um microcosmo da sociedade e se o bullying é tão recorrente, o que isso diz sobre nós? Estamos menos cordiais?
Acho que houve uma deterioração no modo como as pessoas se tratam. Estamos menos dispostos a ajudar alguém em perigo, ou que está em uma situação de vulnerabilidade. Sempre houve bullys no mundo, mas acho que esse é um fenômeno mais presente em nossas escolas hoje. Sabe-se que crianças que estão sofrendo por dentro geralmente tentam transferir aos outros sua dor. Às vezes, são os adultos que maltratam seus filhos, gerando uma reação em cadeia de ódio e intolerância. Por sua vez, os filhos podem se tornar agressivos com os colegas para descontar a raiva que sentem dos pais. Bullying geralmente conduz a atitudes mais violentas, como brigas, facadas e tiros - nunca nos esqueceremos de Columbine. Acredito que vivemos uma "crise de espectadores", ou seja, muitas pessoas ignoram o colega que está sendo empurrado, socado, esmagado na lata de lixo. Nossa sociedade está passiva diante do desrespeito e pagamos um preço terrível por isso. Essa permissividade é desastrosa.

E qual a carga de responsabilidade dos pais?
Alguns pais fracassaram enquanto educadores. Não ensinaram aos filhos como controlar seu temperamento. Por falta de disciplina, muitos jovens hoje não têm freios. Se crianças não respeitam nem os pais, é provável que não respeitem mais ninguém.

Por que é legal ser o badboy, e não o geek?
Existem muitos elementos de nossa cultura pop que estimulam o bullying. A mídia, por exemplo, promove constantemente a violência e o conflito. A indústria do entretenimento tornou cool to be cruel. Reality shows são baseados em conflitos interpessoais e desrespeito - queremos ver o circo pegando fogo. Em séries de TV, os badboys são os heróis. Os filmes de highschool ensinam que para ser popular é preciso ser a garota má da escola. Esse comportamento é estimulado, racionalizado, justificado.

No que o bullying se diferencia da fofocas, dos apelidos, do puxão de cabelo?
Reconheço que o termo é usado em exagero. Esse é o perigo de todo rótulo. Por vezes, uma pessoa que foi maltratada uma vez é considerada vítima de bullying, quando, na verdade, o termo se refere a uma agressão rotineira. Bullying é um comportamento agressivo - físico, verbal, social, escrito, eletrônico - que tem intenção clara de machucar, física e/ou psicologicamente, e que se dá repetidas vezes. E o agressor não necessariamente é o mesmo, pode ser um grupo inteiro de alunos. Alguns especialistas discordam dessa definição porque entendem que, se alguém foi agredido, uma vez que seja, mas com tal intensidade de forma que se lembrará disso para o resto da vida, então isso deveria ser entendido como bullying. De todo modo, há que se atentar para o fato de que agressividade é um traço pessoal razoavelmente estável da personalidade de alguém. Por isso, pessoas que foram bullys enquanto crianças podem se transformar em bullys adultos - aqueles caras que tornam o ambiente de trabalho insuportável. É claro, alguns amadurecem e aprendem a controlar suas emoções, outros não.

Recentemente, alguns pré-adolescentes americanos decidiram se matar, no que tem sido chamado pela imprensa de uma "epidemia de suicídios por bullying". Até que ponto podemos responsabilizar os bullys por isso?
O "bullycídio" é a terminologia que se usa para falar de adolescentes que tiraram a própria vida por causa de bullying. Sim, essa é uma realidade que pouca gente conhece. Eu me refiro a milhares de estudantes que tentam o suicídio - mesmo não tendo sucesso - por causa das agressões constantes na escola. Dezenove alunos tiveram a coragem de me confessar que tentaram se matar. Têm medo de falar para os adultos o que está se passando por várias razões: sentem vergonha de não conseguir se defender sozinhas; temem que os pais só piorem as coisas fazendo um barraco na escola, por exemplo; ou já viram outras crianças delatarem o bully sem que nenhuma providência fosse tomada. É claro que há jovens com problemas mentais, que vem de famílias desestruturadas e que apresentavam problemas anteriores. Mas o bullying é um fator que contribuiu para que a gilete afundasse mais forte no pulso, para que a mão virasse o pote inteiro de comprimidos, para que ele ou ela tivesse a coragem de chutar a cadeira.

Foi o que aconteceu com o seu filho Curtis?
Meu filho Curtis foi vítima de bullying durante quase toda a vida escolar. Como a maioria dos pais, tentei dar os melhores conselhos para ele, mas falhei. Naquela época, não se sabia tanto como lidar com esse problema. Eu falava para ele ignorar o valentão da escola, fingir que aquelas coisas não o incomodavam. Errei ao não entrar em contato com a escola, e a escola também errou porque sabia que o meu filho estava sendo perseguido, mas não fez nada, e nunca me avisou do que estava acontecendo até tempos depois. As crianças que ameaçavam Curtis eram os populares do colégio, os bons em esporte. Curtis não era bom em nenhum esporte e não era o queridinho da escola. Com os anos, ele desenvolveu problemas de ansiedade, baixa autoestima e depressão. Tinha dias que não queria sair da cama. Quando Curtis já tinha 23 anos - o bullying o acompanhou também pelos anos de faculdade -, morreu de uma overdose de metanfetamina. Eu me senti completamente desamparado. Um fracasso enquanto pai.

O bullying deve ser criminalizado?
Acredito que na maioria das vezes nós culpamos as vítimas da agressão. Consideramos que são fracotes, quando, na verdade, são muito resistentes por aguentar alfinetadas diárias por tanto tempo. A solução recai sobre os pais e a educação que dão aos filhos. Somado a isso, a comunidade e as escolas precisam ter programas eficientes para lidar com a questão usando estratégias de prevenção. Acho também que a sociedade deve responsabilizar mais os estudantes por conta de seus atos. Precisam saber que suas ações terão consequências verdadeiras. Já ajudei advogados em seis ocasiões, quando pais de crianças vítimas de bullying processaram as escolas por negligência. Leis apropriadas para evitar o bullying podem ser ferramentas poderosas para atuar em conjunto com outras soluções.

Uma pesquisa Care.com revelou que pais americanos temem mais "amigo de Facebook" do que do "estranho no playground".
Sim. Infelizmente, as redes sociais são usadas como ferramentas para humilhar, constranger, difamar e machucar os outros. Como jovens estão em contato direto por meio do Facebook, Orkut, Twitter, o bullying ultrapassa o período que os alunos ficam na escola e invade todos os momento de sua vida. Fofocas se espalham mais rapidamente e para mais pessoas, num efeito destrutivo que é potencializado pela universalidade da internet. Alunos já me confessaram que se sentem outras pessoas na internet. Têm menos medo de falar o que pensam. Eles ficam presos numa espiral de "cyber-maldade" e disputam para ver quem é mais cruel que o outro.

No Brasil, temos o trote de calouros, uma espécie de bullying institucionalizado, que às vezes foge do controle. Já houve histórias de jovens cobertos com excremento, queimados por ácido ou mortos por afogamento.
Cada vez menos universidades toleram esse tipo de atitude e cada vez mais delas tomam medidas de segurança para prevenir isso. A vida universitária deveria ser um momento de crescimento intelectual e emocional. Infelizmente, alguns jovens se sentem no direito de postergar sua maturidade às custas de outros.

'Bully', o videogame; ganha quem atazanar mais a vida dos colegas
Existe um videogame que se chama Bully. Para avançar no jogo, é preciso infernizar ao máximo a vida dos coleguinhas. Que influência esses jogos têm, de fato, sobre o comportamento dos jovens?
É lixo. Não precisamos de jogos assim. Que valor eles têm? De que forma ajudam a tornar o jovem uma pessoa melhor? Não sabemos ao certo o impacto que os videogames têm sobre a mente e o comportamento, mas essa relação lúdica com a violência geralmente se manifesta da pior forma quando o jovem está com raiva, frustrado ou desapontando com alguma coisa ou alguém. As pessoas são livres para tomar as próprias decisões e saber o que é bom para elas ou não. O que eu quero deixar claro para os pais é que esse tipo de jogo pode influenciar as atitudes de seus filhos, mesmo que eles não tenham total consciência disso.

“Bullying”: uma violência psicológica não só contra crianças

“- Oi Nick, Oi Mark, vão ao clube de computadores mais tarde?
- Marcus, nós não queremos mais que ande conosco.
- Por quê?
- Por causa deles.
- Eles não têm nada a ver comigo.
- Têm , sim.
- Não tínhamos problemas antes de andarmos com você. Agora temos todo dia.
- Além do mais, todos acham você esquisito.
- Mas é só um pouco.
- Tudo bem...”.

O diálogo do filme Um grande garoto (About a boy: 2000) sinaliza que Marcus está sendo vítima de um tipo de violência psicológica ou bullying. Bullying, como já visto nesta matéria, é uma palavra inglesa que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso, e perseguir os outros. Ocorre com mais freqüência no ambiente escolar. Assim, numa escola, uma criança era considerada ‘escrava’ por outras chefiadas por um aluno-líder, e, um adolescente era obrigado a dar dinheiro para colegas mais velhos e fisicamente mais fortes, senão sofreria algum tipo de violência. Os professores também não estão vacinados contra o bullying. Como se não bastasse sofrer uma grave fobia escolar que o impedia de trabalhar, um professor ainda era obrigado a suportar discriminação, humilhação e ameaças veladas de colegas insensíveis, invejosos e vingativos.

Ao sofrer a violência do tipo bullying, tanto as crianças como os adultos, sozinhos, não têm como se defender. Os colegas, embora digam repudiar esse tipo de violência psicológica e sentirem pena, declaram que nada podem fazer para defendê-la, com medo de serem a próxima vítima.

Muitas crianças vítimas de bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola quando esta nada faz em defesa da vítima. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo de violência psicológica. Segundo Aramis Lopes Neto, coordenador do programa de bullying da ABRAPIA (Associação Brasileira Pais, Infância e Adolescência,) a maioria dos casos de bullying ocorre no interior das salas de aula, sem o conhecimento do professor.

Além de conviver com um estado constante de pavor, uma criança ou adolescente vítima de bullying talvez sejam as que mais sofrem com a rejeição, isolamento, humilhação, a tal ponto de se verem impedidas de se relacionarem com quem ela deseja, de brincar livremente, de fazer a tarefa na escola em grupo, porque os mais fortes e intolerantes lhe impõem tal sofrimento.

Também faz parte dessa violência impor à vítima o silêncio, isto é, ela não pode denunciar à direção da escola nem aos pais, sob pena de piorar sua condição de discriminada. Pais e professores só ficam sabendo do problema através dos efeitos e danos causados, como a resistência em voltar à escola, queda de rendimento escolar, retraimento, depressão, distúrbios psicossomáticos, fobias etc.

No âmbito universitário não são raros os casos de mestrandos e doutorandos, no decorrer de sua pesquisa, serem vítimas de várias formas de pressão psicológica, normais, como os prazos de entrega dos trabalhos, falta de dinheiro para continuar a pesquisa, falta de apoio do orientador, familiares, colegas e amigos. E, anormais, como o assédio moral, bullying etc. O bullying tem o poder levar o pesquisador ao travamento de sua produção intelectual, além de causar danos à sua existência cotidiana.

Lopes Neto observa que há casos de suicídio de pessoas que não suportaram tamanha pressão psicológica advindas do bullying. Talvez o pior efeito da pressão sofrida nos casos de bullying é a vítima se sentir condenada à ‘inexistência’, ou à ‘invisibilidade’, geralmente levado a cabo por grupo que combina entre si ignorar um colega, fazer de conta que ele não existe, desqualificá-lo na sua competência intelectual, ou rejeitar um pedido seu, etc. Há casos em que esse tipo de vítima passa a sofrer tão baixa auto-estima que nem sequer tem forças para desabafar com alguém.

Por outro lado, existem casos em que a vítima aprende a conviver com a situação se tornando uma voluntária servil do dominador.

A Abrapia vem preocupando-se com as vítimas de bullying, isto é, pessoas cujo sofrimento é causado por diversas formas de violência, tais como a: violência física, violência sexual, negligência, síndrome do bebê sacudido (Shaken Baby Syndrome), e síndrome de Münchausen. “A negligência (abandono), considerada uma agressão pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, representou 39,8% dos casos estudados pela Abrapia no ano passado no Rio. A violência física, 26,8%. Os demais casos se dividem entre violência psicológica (26,2%) e abuso sexual (7,2%). As mães foram os agressores mais citados nas denúncias, com 43,3% dos casos, bem mais do que os pais (33,9%). Agressores estranhos à família não chegam a 30%”, diz a pediatra Ana Lúcia Ferreira, do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um estudo da Abrapia feito no Rio de Janeiro e usado como referência para o Unicef (o fundo da ONU para a criança) indica que, entre as 811 crianças e adolescentes vítimas de agressões denunciadas à entidade só no ano passado, 64% tinham menos de dez anos de idade” (rev. Istoé- Aziz Filho). A Associação vem realizando pesquisas e desenvolvendo medidas sócio-educativas para evitar o agravamento dessas situações principalmente em creches e escolas.

O que fazer?

Os pais devem apoiar o filho, abrindo espaço para ele falar sobre o sofrimento de estar sendo rejeitado pelos colegas. “Obrigar o filho a enfrentar os agressores pode não ser a melhor solução, visto que ele está fragilizado, ou seja, corre o risco de sofrer uma frustração ainda maior”, diz Lopes Neto. Mas, fazer de conta que não existe bullying ou outro tipo de violência psicológica na escola é, no fundo, autorizar a prática de mais violência. É preciso estar atento para o risco de suicídio onde a vítima sem auto-estima alucina tal ato como ‘saída’ honrosa para o seu sofrimento. Esta é uma atitude freqüentemente usada no Japão.

Quando a violência ocorre na escola cabe aos pais conversar com a direção. É dever desta instituição ensinar os conhecimentos e promover a inclusão social e psicológica. A escola e a universidade jamais devem fazer vistas grossas sobre os casos de intolerância de violência psicológica ou física. A escola, principalmente, deve ter uma atitude preventiva contra o bullying, começando pela conscientização e preparação de professores, funcionários, pais e alunos. Por um lado, é preciso apoiar as crianças vítimas e, por outro, é imprescindível fazer um trabalho especial com as pessoas propensas para cometer violência contra os colegas, professores e funcionários.

Os pais e professores devem estar atentos sobre a possibilidade real de conviver com uma vítima silenciosa de qualquer tipo de violência, como também conviver com o(s) agente(s) dessa violência. (Se a instituição de ensino não tomar providências, cabe aos pais ou responsáveis denunciar a violência ao Conselho Tutelar, pode até mover um processo junto a Justiça, cobrando do agressor a reparação por dano moral ou físico). Criança ou adolescente que repete atos de intolerância e de violência para com o próximo pode estar sendo “autorizada” pelos pais que a vêem positivamente como “esperta”, “machão”, “bonzão”, “fodão”, etc. O adulto que pratica bullying pode estar sendo influenciado por uma organização perversa do trabalho burocrático, ou por um grupo que usa a intolerância como meio de expressão política. É preciso estar muito atento aos grupinhos informais de traços neofascistas, as gangs, porque a afirmação da sua identidade narcísica é conseguida por meio da intolerância, da discriminação e da violência.

Segundo pesquisas, existe uma relação de continuidade entre a criança cuja estrutura psíquica é perversa, que cometia atitudes anti-sociais, e o adulto que comete atos delinqüentes ou criminosos, lembra Lopes Neto. A estrutura psíquica é a mesma. São casos em que a educação falha, embora o sujeito possa obter algum sucesso na sua vida escolar e profissional. Adquirir conhecimento ou um título de doutor nada tem a ver com adquirir sabedoria. Por vezes, encontramos pessoas cujo conhecimento fez aumentar sua arrogância e insensibilidade em relação ao próximo.

Ou seja, embora a formação escolar e universitária não tem o poder de melhorar a estrutura psíquica do tipo perversa, temos que trabalhar com cálculo e empatia para formar bons cidadãos. Se pudéssemos proporcionar tanto uma educação (familiar) como um ensino (escolar), voltados mais para a sabedoria do que para o conhecimento e a informação, talvez pudéssemos trilhar um caminho mais efetivo de prevenção em prol da saúde psicológica e social.

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