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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Atualidades 6 - Dez Anos Sem Milošević

Slobodan Milošević foi presidente da antiga Iugoslávia até 2000, quando finalmente deixou o cargo após perder as eleições. Parece que não há problema algum nisso, não é? Afinal, quem perde, vai embora. Mas Milošević ficou 11 anos no poder, desde sua primeira eleição, em 1989. Durante seus mandatos, a Federação - que unia as repúblicas de Sérvia e Montenegro, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia e Eslovênia - enfrentou três guerras civis. O país sofreu com inflação de até 313.563.558% (em 1994), ondas de violência, emigração em massa de jovens intelectuais. As ruas de Belgrado, capital sérvia, foram dominadas por gângsters, os meios de comunicação independentes foram censurados, e até os campos de futebol transformaram-se em arenas de batalha.
O resultado das eleições de 2000 saiu em setembro, e em março de 2001 Milošević foi preso, em sua casa, pelas autoridades do Tribunal Penal Internacional, sob acusações de crimes contra a humanidade, genocídio e violações dos tratados de guerra. Por falta de provas, o ex-presidente não foi condenado em seu país, mas foi enviado a Haia, onde foi detido por crimes de guerra. Em troca do réu, as sanções internacionais à Sérvia foram reconsideradas.
Antes da conclusão do julgamento, Milošević faleceu: foi encontrado morto em sua cela em março de 2006. O laudo dos legistas acusou ataque cardíaco. Embora haja quem defenda que o iugoslavo foi privado dos remédios que costumava tomar para o coração, o Tribunal de Haia alega que foi o próprio Milošević quem recusou os medicamentos. 

Nacionalismo: ascensão e queda do presidente
Quando o ditador comunista Josip Tito morreu, em 1980, após 35 anos à frente da Iugoslávia, a população vislumbrou os benefícios da democracia e a evolução tecnológica e cultural que se via na Europa pós-Guerra Fria. Apesar do desejo de desenvolvimento, os ideais do período anterior ainda eram fortes, e foi a partir destes conceitos que Milošević se elegeu, em 1989. Forte crise econômica se abatia sobre o país, e as ações do novo presidente para "unir as nações iugoslavas" - o disfarce de seu nacionalismo - eram exaltadas em propagandas na estatal RTS - Rádio e Televisão Sérvia.
Nos balcãs, cinco grupos étnicos são maioria: sérvios, croatas, eslovenos, montenegrinos e macedônios. Há, ainda, dois grupos menores, que ocupam os territórios autônomos: albaneses (em Kosovo) e húngaros (em Vojvodina). O nacionalismo de Milošević, que colocava os sérvios acima dos outros povos, levou às guerras da Croácia, da Bósnia e de Kosovo.
Após os dois primeiros conflitos, a imagem do líder sérvio perdeu muito de seu brilho. Nas eleições de 1992, quando Milošević foi reeleito pela primeira vez, houve suspeita de fraudes e manifestações em Belgrado, mas o governo sufocou o barulho. Quatro anos mais tarde, no novo pleito, a vitória do presidente foi novamente questionada - desta vez, com 200 mil pessoas nas ruas da Capital -, e mais uma vez oprimida.
Em 2000, após o pesado preço pago pelos iugoslavos após a Guerra de Kosovo, Milošević foi derrotado nas eleições. Alegando falha no processo, convocou segundo turno, mas uma manifestação do Otpor - grupo jovem de resistência - uniu sérvios de todo o país, e o governante nacionalista admitiu, por fim, sua saída do poder. O líder da Oposição Social Democrata (OSD), Vojislav Koštunica, assumiu a presidência da Iugoslávia, que, a essa altura, resumia-se a Sérvia e Montenegro, após as declarações de independência das outras repúblicas que compunham a Federação.

Trilha de sangue
O desmembramento da Federação Iugoslava, com a independência da Croácia e da Bósnia, foi o principal fator gerador das guerras nestes países. Além das diferenças étnicas - e Milošević incitava os sérvios a se rebelarem contra supostas opressões dos outros povos -, havia também a questão religiosa: 41% da população era ortodoxa, 32% católica e 12% muçulmana.
A guerra da Croácia foi de 1991 a 1995. Cerca de 20 mil pessoas, entre soldados croatas, homens sérvios e civis de ambas as nações, morreram nos cinco anos de conflito. A vitória foi da Croácia, país cuja independência fora reconhecida internacionalmente em 1992, mas cujo território só esteve inteiramente sob governo próprio com o fim da guerra - antes, dois terços da república estavam sob comando de Milošević.
O poder beligerante do presidente iugoslavo fora a tal ponto fortalecido que era suficiente para encarar duas batalhas ao mesmo tempo: a guerra da Bósnia começou em março de 1992, também após declaração de independência, e se estendeu até novembro de 1995. E mais: o conflito só acabou porque a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) bombardeou as bases sérvias, e Milošević aceitou negociar. Após quase quatro anos de guerra, e morte de mais de 200 mil pessoas - o conflito mais sangrento no pós-2ª Guerra Mundial -, o Acordo de Deyton foi assinado, pondo fim às disputas.
Kosovo viu cerca de um milhão de cidadãos desalojados em meio a uma guerra entre insurgentes albaneses, soldados iugoslavos e forças da OTAN. O conflito costuma ser entendido em duas fases: em 1998, a disputa era entre as forças policiais e paramilitares sérvias e o Exército de Libertação de Kosovo, formado por albaneses. Na constituição da população, o primeiro grupo étnico representava apenas 10% dos habitantes da região.
Enquanto o Brasil disputava a Copa do Mundo na França, nos balcãs os sérvios e albaneses - forçados por Estados Unidos e União Europeia - tentavam chegar a um acordo de paz. Sem sucesso. Sem consultar órgãos internacionais, a OTAN começou a bombardear regiões de Kosovo e da Sérvia e Montenegro. Após 78 dias de ataques, em 24 de março de 1999 Milošević aceitou retirar suas tropas do território albanês, onde um governo provisório foi instaurado, sob tutela da ONU.

Fique de Olho:
O aniversário de dez anos da saída de Milošević do governo sérvio pode ser mote para questões sobre modelos de governo - transição da ditadura comunista de Tito para a (alegada) democracia de Milošević. Também pode ser resgatado a partir da ação de órgãos internacionais, como a ONU, e países/organizações externas (OTAN, EUA e União Europeia), na política de um país em situação extrema. Este tema pode ser, também, relacionado com a crise da Grécia.
Conflitos étnicos também são um ponto importante no contexto dos dez anos de democracia efetiva na Sérvia. Além de poderem ser conectados a quaisquer outros conflitos do gênero, em quaisquer lugares do mundo, têm também o aspecto religioso intrínseco - pode-se voltar, por exemplo, à questão da Palestina. Lembre-se, ainda, que a Copa do Mundo de 2010 é na África do Sul, país situado em continente notadamente conflituoso em termos étnico-religiosos.
A atuação dos movimentos populares, como Otpor e outras resistências da região (na Geórgia, por exemplo), pode vir à tona. Vale dar atenção especial às mobilizações brasileiras - como as Diretas Já, em janeiro de 1984, que levaram à eleição de Tancredo Neves. O presidente faleceu antes de assumir o cargo e foi empossado seu vice, José Sarney: aquele dos escândalos de 2009 e do movimento #forasarney no Twitter.






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